Todo mundo enfrenta algum tipo de luta na vida. Mesmo quando procuramos seguir o Senhor, surgem problemas e dores de cabeça. Grandes e profundos vales de tristeza e dor nos trazem desânimo e medo. Oramos e buscamos a orientação e a ajuda do Senhor, sem percebermos que, na maioria das vezes, não conseguimos enxergar todo o quadro que está adiante de nós. Nós vemos a vida a partir de uma perspectiva humana limitada – e, portanto, distorcida – enquanto o Senhor vê as coisas de um ponto de vista totalmente diferente. Conseqüentemente, nossa visão é deturpada. Essa situação leva, muitas vezes, a uma espécie de mal-estar espiritual – uma paralisia espiritual – que pode nos impedir de servir nosso Deus de modo eficaz.
Procure ver além das aparências
Em Juízes 6.11, Gideão, o homem que Deus escolheu para livrar Israel de seus problemas, “estava malhando o trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas”. Israel estava novamente debaixo de opressão, desta vez por parte da terra de Midiã, localizada a leste da Península do Sinai.
Os midianitas eram descendentes de Midiã, o quarto filho de Abraão. Sua mãe era Quetura (Gn 25.1-5). De acordo com o Dr. Henry M. Morris, “dos seis filhos de Quetura (todos eles nascidos, provavelmente, no início do período de trinta e cinco anos em que Abraão viveu com ela), Midiã é o único cujos descendentes, os midianitas, são bem identificados. Os outros provavelmente se misturaram com os vários descendentes de Ismael, Ló e Esaú, formando os atuais povos árabes. Abraão enviou-os ‘para a terra oriental’ (Gn 25.6) com presentes para iniciarem suas próprias tribos, e isso corresponderia à Arábia”.1
Midiã também é a região geográfica onde Moisés morou quando fugiu do Egito, em Êxodo 2.15-22. Foi lá que ele se casou com Zípora e cuidou dos rebanhos de seu sogro, Jetro.
Os israelitas encontraram-se com os midianitas quando vagavam pelo deserto. Eles se enfrentaram e Israel quase os destruiu completamente (Nm 31.1-20). Existia inimizade entre essas nações. Agora a maré tinha mudado, e Israel estava debaixo da opressão de Midiã.
“Então, veio o Anjo do Senhor, e assentou-se debaixo do carvalho [...] e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valente” (Jz 6.11-12).
A resposta de Gideão foi rápida e afiada: “Ai, senhor meu! Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram [...]? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas” (v. 13).
Do ponto de vista de Gideão, o Senhor tinha falhado com Seu povo. Que outra razão poderia haver para [os israelitas] estarem debaixo da opressão de Midiã? Que outra explicação poderia haver para o fato de Gideão ter que malhar o trigo naquele lugar tão vergonhoso e precisar esconder o cereal de seus opressores? Obviamente, pensava ele, o Senhor nos abandonou. Para Gideão, o Senhor estava em falta para com Seu povo.
O ato de malhar ou cirandar o cereal numa peneira serve para separar o grão da palha, as cascas inúteis que envolvem a semente propriamente dita.
Nesse aspecto, ele era bem parecido conosco. Quando enfrentamos águas profundas e situações horríveis, muitas vezes culpamos a Deus, achando que, de alguma forma, Ele nos deixou na mão ou não cumpriu Sua promessa de jamais nos abandonar. Ficaríamos surpresos com a rapidez com que mudaríamos de idéia se pudéssemos ver as circunstâncias em que nos encontramos, sob o ponto de vista de Deus.
Um pouco antes, ainda em Juízes 6, o Senhor revelou por que Israel sofria tanto e por que os midianitas pilhavam suas colheitas: “Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor; por isso, o Senhor os entregou nas mãos dos midianitas por sete anos” (v. 1). Deus não tinha falhado com Seu povo; este é que tinha pecado e se afastado dEle, e estava sofrendo as conseqüências. Gideão tinha interpretado mal a sua situação. Embora às vezes possa parecer que o Senhor nos abandonou, a realidade é muito diferente. Às vezes, sofremos por causa do pecado. Outras vezes, Deus usa as circunstâncias para nos proteger ou nos dar um testemunho para que possamos glorificá-lo. Não importa qual seja a situação, precisamos olhar além das aparências e nos lembrar de que Deus nunca abandona os que são Seus; e Ele nunca é injusto.
Reavalie seus recursos
O Anjo do Senhor, que é uma aparição pré-encarnada do Senhor Jesus, identificou Gideão como um “homem valente” (v. 12). Será que um homem destemido e corajoso malharia sua colheita num vale, ao invés de no topo de uma montanha, como tradicionalmente se fazia?
O ato de malhar ou cirandar o cereal numa peneira serve para separar o grão da palha, as cascas inúteis que envolvem a semente propriamente dita. No alto de uma montanha, o vento sopra as cascas para longe, enquanto os grãos caem no chão. O platô elevado do Monte do Templo, por exemplo, era originalmente a eira de Ornã, o jebuseu – o local onde ele cirandava o trigo (1 Cr 21.18).
Gideão, esse “homem valente”, estava se escondendo porque ainda não tinha percebido com quem estava falando. “Então, se virou o Senhor para ele e disse: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu?” (Jz 6.14).
O Senhor disse ao Seu servo escolhido para ir e liderar Israel na luta contra o seu inimigo. Ele também lhe deu a chave para cumprir essa tarefa: “Porventura, não te enviei eu?” O próprio Senhor tinha comissionado Gideão. Se somos filhos de Deus pela fé, Ele também nos comissionou e ordenou que fizéssemos certas coisas. O Senhor muitas vezes escolhe um servo relutante como Gideão. Do mesmo modo que Moisés havia feito antes dele, Gideão tentou rejeitar a orientação de Deus para sua vida.
Quantas vezes temos um comportamento semelhante! Por exemplo, sabemos que há alguma necessidade específica na nossa igreja local, mas nos sentimos inadequados para a tarefa. Precisamos reavaliar nossos recursos e nos lembrar de que Deus nos deu dons espirituais para o Seu serviço.
A resposta de Gideão foi clara: “Ai, Senhor meu! Com que livrarei Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai” (v. 15). Ele estava dizendo: “Não sou digno dessa tarefa. Não sou famoso, e sou insignificante demais para fazer o que Tu estás pedindo”.
É interessante observar que Gideão usou a palavra Adonai quando falou com o Anjo do Senhor. Adonai é um dos nomes de Deus encontrados nas Escrituras hebraicas. Pode ser traduzida como “amo”. Se o Senhor é o nosso “Amo”, então Ele tem todo o direito de exigir obediência absoluta a todas as Suas ordens. E Seus servos podem esperar que Ele forneça toda a assistência necessária para que a tarefa seja realizada.
O apóstolo Paulo entendeu bem esse conceito, que exprimiu, sob a inspiração do Espírito Santo, num dos mais poderosos versículos do Novo Testamento: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). A obra de Deus é feita através do poder de Deus. Nós não contamos com nossos próprios recursos; contamos com os recursos dEle. Esse poder estava à disposição de Gideão. O visitante angelical assegurou-lhe: “Já que eu estou contigo, ferirás os midianitas” (v. 16).
Confie em Deus
Apesar dessas garantias, Gideão ainda estava inseguro. Parece que ele duvidou dAquele que estava de pé na sua frente, e não confiou inteiramente nEle. Talvez ele não estivesse percebendo que era o Deus dos céus e da terra que o estava comissionando e prometendo-lhe a vitória.
Então, Gideão pediu um sinal ao Anjo do Senhor: “Se, agora, achei mercê diante dos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu, Senhor, que me falas” (v. 17). Ele pediu a seu visitante que esperasse enquanto ele preparava um sacrifício e o colocava diante dEle (v. 18). Isso deve ter levado tempo, já que ele tinha que matar o cabrito, tirar-lhe o couro, cozinhá-lo e assar os pães asmos. Quando sua oferta estava pronta, “trouxe-lho até debaixo do carvalho e lho apresentou” (v. 19).
“Estendeu o Anjo do Senhor a ponta do cajado que trazia na mão e tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos; e o Anjo do Senhor desapareceu de sua presença” (v. 21).
Foi então que Gideão finalmente percebeu que tinha estado na santa presença do Senhor: “Ai de mim, Senhor Deus! Pois vi o Anjo do Senhor face a face” (v. 22). Ele deve ter achado que ia morrer, porque o Senhor lhe garantiu: “Paz seja contigo! Não temas! Não morrerás!” (v. 23). O servo respondeu a seu Amo construindo um altar, que chamou de “O Senhor É Paz [Yahweh Shalom]” (v. 24).
Assim como Gideão, nós muitas vezes não confiamos no chamado de Deus para nossa vida. Porém, Provérbios nos ensina: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3.5-6). O Novo Testamento também nos exorta a confiar no Senhor quando Ele nos chamar para o Seu serviço: “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1 Ts 5.24). Se o Senhor tem uma missão para você, então pode confiar que Ele lhe dará tudo o que for necessário para possibilitar-lhe seguir Suas instruções.
O Senhor foi fiel a Gideão, que, mais uma vez, questionou Seu Amo pedindo-lhe um outro sinal, dessa vez utilizando porções de lã. Gideão colocou um pedaço de lã no chão do lagar e disse a Deus: “Se hás de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste”, faz com que, pela manhã, a lã esteja molhada e o chão seco. “E assim sucedeu” (vv. 36-38).
Então, ele pediu o contrário: chão molhado e lã seca. “E Deus assim o fez naquela noite” (v. 40). Gideão finalmente estava pronto para atacar os midianitas.
Porém, o Senhor queria deixar bem claro que a vitória pertencia somente a Ele. Então, reduziu o tamanho do exército de Israel de 32.000 para 300 homens. Primeiro, Ele mandou de volta para casa os medrosos (Jz 7.3); depois, dispensou mais homens, baseando-se no modo como bebiam água na margem.
“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Pv 3.5-6).
Assim, Gideão e seu inacreditável bando de 300 homens aniquilaram guerreiros que “cobriam o vale como gafanhotos em multidão; e eram os seus camelos em multidão inumerável como a areia que há na praia do mar” (v. 12). E Gideão libertou Israel, como Deus tinha prometido.
O Senhor que auxiliou Gideão e seus homens há mais de 3.000 anos é o mesmo que hoje sustenta, protege, defende e capacita Seus servos. Ele não mudou, nem jamais mudará: “Porque eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6); “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13.8).
Precisamos nos lembrar de que a perspectiva de Deus é a perspectiva certa. E a melhor maneira de vencer a paralisia espiritual é manter nossos olhos firmemente fixos nEle, e correr a carreira que está diante de nós, “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12.2). (Israel My Glory)
Thomas C. Simcox é diretor de The Friends of Israel para os Estados do Nordeste dos EUA.
Nota:
1. Dr. Henry M. Morris, citado em: Paul S. Taylor, “Midian”. Disponível em: www.christiananswers.net/dictionary/midian.html.
Fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/paralisia_espiritual.html
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