Deus entregou à humanidade o domínio sobre
a terra e estabeleceu a teocracia como a forma de governo original
deste mundo (Gn 1.26-29). Numa teocracia, o governo divino é
administrado por um representante. Deus designou o primeiro homem, Adão,
para ser Seu representante. Adão recebeu a responsabilidade de
administrar o governo de Deus sobre a parte terrena do Reino universal
de Deus.
Pouco tempo depois de ter dado esse poder ao homem, Satanás induziu
Adão e Eva a se aliarem a ele em sua revolta contra Deus (Gn 3.1-13).
Como resultado, a humanidade afastou-se de Deus e a teocracia
desapareceu da face da terra. Além disso, com a queda de Adão, Satanás
usurpou de Deus o governo do sistema mundial. A partir de então, ele e
suas forças malignas passaram a governar o mundo. Conforme veremos a
seguir, muitos fatores revelam essa terrível transição.
A Negação da Revelação Divina
O diabo tinha autoridade para oferecer o domínio sobre o sistema do
mundo a quem ele quisesse, inclusive a Jesus Cristo, pois essa
autoridade lhe tinha sido entregue por Adão (veja Lc 4.5-6). Foi por
isso que Jesus chamou Satanás de“príncipe [literalmente, governador] do mundo” (Jo 14.30). João
disse que o mundo inteiro jaz no maligno (1 Jo 5.19) e Tiago declara
que todo aquele que é amigo do atual sistema mundano é inimigo de Deus
(Tg 4.4).
Até este ponto de nossa história, o reinado de Satanás sobre o mundo
tem ocorrido de forma invisível. Trata-se de um domínio espiritual que
incentiva o surgimento de cosmovisões e filosofias contrárias à
verdadeira realidade. As Escrituras nos ensinam que, no futuro, Satanás
irá tentar converter esse domínio espiritual e invisível em um reino
político, visível e permanente – dominando o mundo inteiro. Para
alcançar seu objetivo, Satanás precisa induzir a humanidade a buscar a
unificação sob um governo mundial. Ele também tem de condicionar o mundo
a aceitar um governante político supremo que terá poderes únicos e fará
grandes declarações a respeito de si mesmo.
Utilizando-se da tendência secular e humanista da Renascença e de
algumas ênfases propagadas pelo Iluminismo, o diabo conseguiu minar a fé
bíblica de porções importantes do protestantismo e também determinadas
crenças do catolicismo romano e da Igreja Ortodoxa. O resultado foi que,
no final do século XIX e no início do século XX, o mundo começou a
ouvir que a humanidade nunca havia recebido a revelação divina da
verdade.
No entanto, o único modo pelo qual a existência de Deus, Sua
natureza, idéias, modos de agir, ações e relacionamento com o Universo,
com a Terra e com a humanidade podem ser conhecidos é através da
revelação divina da verdade. Por isso, a negação dessa revelação fez com
que durante o século XX muitas pessoas concluíssem que o Deus pessoal,
soberano e criador descrito na Bíblia não existe; ou, se existe, que Ele
é irrelevante para o mundo e para a humanidade.
Essa negação da revelação divina da verdade resultou em mudanças
dramáticas, que tiveram graves conseqüências na sociedade e no mundo. Em
primeiro lugar, ela levou muitas pessoas ao desespero. Deus criou os
seres humanos com a necessidade de terem um relacionamento pessoal com
Ele, para conhecerem o sentido e propósito supremos desta vida. A
declaração de que Deus não existe ou é irrelevante provocou um vazio
espiritual dentro das pessoas. Esse vazio levou ao desespero e à
extinção da perspectiva de alcançar o sentido e propósito supremos desta
vida. Satanás, então, ofereceu a bruxaria, o espiritismo, o satanismo,
outras formas de ocultismo, a astrologia, o misticismo oriental, os
conceitos da Nova Era, as drogas, algumas formas de música e outros
substitutos demoníacos para preencher esse vazio e fazer com que as
pessoas sejam influenciadas por ele.
A Negação dos Absolutos Morais
A negação da revelação divina da verdade resultou também na negação
dos absolutos morais. O argumento mais usado é: se os padrões morais não
foram revelados por um Deus soberano que determinou que os indivíduos
são responsáveis por suas ações, então os absolutos morais
tradicionalmente aceitos foram criados pela humanidade. Assim sendo, uma
vez que a humanidade é a fonte desses absolutos, ela tem o direito de
rejeitar, mudar ou ignorá-los.
O resultado dessa racionalização falaciosa é que a sociedade acabou
testemunhando uma tremenda decadência moral. Ela passou a rejeitar a
idéia de que apenas as relações heterossexuais e conjugais são
moralmente corretas, passando a desprezar e ameaçar cada vez mais os que
defendem essa idéia. Movimentos estão surgindo em todo o mundo para
redefinir legalmente o conceito de matrimônio e para forçar a sociedade a
aceitar essa nova idéia, a abolir ou reestruturar a família e proteger a
propagação da pornografia.
O assassinato de seres humanos parcialmente formados (aborto) já foi
legalizado em muitos países. Algumas pessoas ainda insistem em dizer que
não existe questão moral nenhuma envolvida no suicídio assistido, na
clonagem humana e na destruição de embriões humanos em nome da pesquisa
de células-tronco. O assassinato e a mentira passaram a ser aceitos como
norma. Essa falência moral ameaça as próprias bases da nossa sociedade.
A Negação da Verdade Objetiva e de Seus Padrões
A negação da revelação divina da verdade resultou na conclusão de que
não existe uma verdade objetiva que seja válida para toda a humanidade.
Cada indivíduo seria capaz de determinar por si mesmo o que é a
verdade. Assim sendo, aquilo que é verdade para uma pessoa não é,
necessariamente, verdadeiro para outra. A verdade passou a ser algo
subjetivo e relativo.
A racionalização nos levou à conclusão de que não há padrão objetivo
pelo qual uma pessoa seja capaz de avaliar se algo está certo ou errado.
Agora ninguém mais pode dizer legitimamente a outra pessoa que algo que
ela está fazendo é errado. Seguindo essa racionalização, nunca se deve
dizer a outra pessoa que seu modo de vida é errado, mesmo que, vivendo
dessa maneira, ela possa morrer prematuramente. Também não será
permitido que alguém diga a um adolescente que o sexo não deve ser
praticado antes do casamento. Afinal de contas, ninguém tem o direito de
impor seus conceitos de certo ou errado sobre os outros.
Essa negação da verdade objetiva e do padrão objetivo de certo e
errado é propagada através de uma “redefinição de valores” promovida por
escolas, por universidades, pela mídia, pela internet, por várias
publicações, por alguns tipos de música e pela indústria do
entretenimento como um todo. Algumas universidades, inclusive, já
adotaram uma política que abafa qualquer expressão do que é certo ou
errado por parte de seus alunos e professores. Esse tipo de atitude
resulta em censura e intolerância.
A negação da verdade objetiva e dos padrões objetivos de certo e
errado motivaram alguns a defenderem que os pais devem ser proibidos de
bater nos filhos quando estes fizerem algo que os pais acreditam ser
errado.
A Redefinição da Tolerância
Isso tudo também resultou em um movimento que visa forçar a sociedade
a aceitar um novo conceito de tolerância. A visão histórica da
tolerância ensinava que as pessoas de opiniões e práticas diferentes
deveriam viver juntas pacificamente. Cada indivíduo tinha o direito de
acreditar que a opinião ou prática contrária à sua estava errada e podia
expressar essa crença abertamente, mas não podia ameaçar, aterrorizar
ou agredir fisicamente aqueles que discordavam dele.
Porém, a tolerância passou por uma redefinição. O novo conceito diz
que acreditar ou expressar abertamente que uma opinião ou prática de uma
pessoa ou de um grupo é errada equivale a um “crime de ódio” e,
portanto, deve ser punido pela lei. Grupos poderosos estão pressionando o
Congresso americano, por exemplo, para fazer com que esse novo conceito
torne-se lei. Isso ocorrerá se for aprovado o que passou a ser
conhecido como “lei anti-ódio”. Uma vez que nos EUA já existem leis
contra ameaças ou prejuízos físicos causados a pessoas ou grupos de
opiniões e práticas distintas, é óbvio que o objetivo desse projeto é
tornar ilegal a liberdade de crença e de expressão. Se esse projeto for
aprovado, os EUA passarão a ser mais um Estado totalitário, comparado
àqueles que adotaram a Inquisição e o comunismo. [Tendências semelhantes
se verificam na maior parte dos países ocidentais – N.R.]
Já que o mundo foi levado a acreditar que não há verdade objetiva
válida para toda a humanidade e nenhum padrão objetivo que sirva para
verificar se algo está certo ou errado, cada vez mais defende-se a idéia
de que todos os deuses, religiões e caminhos devem ser aceitos com
igualdade. Por isso, todas as tentativas de converter pessoas de uma
religião para outra devem ser impedidas e as afirmações de que existe
apenas um Deus verdadeiro, uma religião verdadeira e um único caminho
para o céu são consideradas formas visíveis de preconceito. O pluralismo
religioso está se tornando lugar-comum hoje em dia.
Se não há nenhum padrão objetivo para determinar o certo e o errado,
então qual base uma sociedade ou um indivíduo pode usar para concluir
que matar é errado? Isso incluiu os assassinatos praticados por médicos
que fazem abortos ou os massacres provocados por psicopatas em escolas e
em lugares públicos? Pois, talvez alguns desses atos violentos sejam
resultantes do fato de seus autores terem concluído que, se não existe
um padrão objetivo para determinar o que é certo e o que é errado, para
eles é correto assassinar.
Se essa espécie de lei anti-ódio for aprovada, ela terá conseqüências
drásticas. As pessoas que virem esse tipo de lei sendo posta em prática
acreditarão que esse é o caminho correto. Mas, durante as campanhas
eleitorais e nas sessões legislativas, os políticos poderão fazer
acusações uns aos outros ou dizer que as ações dos seus oponentes são
erradas?
O Desejo de Unidade
A negação da revelação divina da verdade gerou uma crescente convicção de que o objetivo da humanidade deve ser a unidade. O Manifesto Humanista II diz:
Não temos evidências suficientes para acreditar na existência do sobrenatural. Trata-se de algo insignificante ou irrelevante para a questão da sobrevivência e satisfação da raça humana. Por sermos não-teístas, partimos dos seres humanos, não de Deus, da natureza, não de alguma deidade.[1]
O argumento prossegue:
Não somos capazes de descobrir propósito ou providência divina para a espécie humana... Os humanos são responsáveis pelo que somos hoje e pelo que viermos a ser. Nenhuma deidade irá nos salvar; devemos salvar a nós mesmos.[2]
À luz do pensamento de que a salvação da destruição total depende da própria humanidade, o Manifesto continua:
Repudiamos a divisão da humanidade por razões nacionalistas. Alcançamos um ponto na história da humanidade onde a melhor opção é transcender os limites da soberania nacional e andar em direção à edificação de uma comunidade mundial na qual todos os setores da família humana poderão participar. Por isso, aguardamos pelo desenvolvimento de um sistema de lei e ordem mundial baseado em um governo federal transnacional.[3]
Finalmente, o documento declara:
O compromisso com toda a humanidade é o maior compromisso de que somos capazes. Ele transcende as fidelidades parciais à Igreja, ao Estado, aos partidos políticos, a classes ou raças, na conquista de uma visão mais ampla da potencialidade humana. Que desafio maior há para a humanidade do que cada pessoa tornar-se, no ideal como também na prática, um cidadão de uma comunidade mundial?[4]
A existência de instituições internacionais, como a Corte
Internacional de Justiça e as Nações Unidas, os meios de transporte
rápidos, a comunicação instantânea e a internacionalização crescente da
economia fazem com que a formação de uma comunidade mundial unificada
pareça ser possível. O tremendo aumento da violência, incluindo a ameaça
de terrorismo que paira sobre todo o mundo, pode levar a civilização a
uma governo mundial unificado em nome da sobrevivência.
A Deificação da Humanidade
A negação da revelação divina da verdade criou uma tendência em
deificar-se a humanidade. Thomas J. J. Altizer, um dos teólogos
protestantes do movimento “Deus está morto” da década de 60, alegava
que, uma vez que a humanidade negou a existência de um Deus pessoal, ela
deve alcançar sua auto-transcendência como raça, algo que ele chamava
de “deificação do homem”.[5] O erudito católico Pierre Theilhard de
Chardin ensinava que o deus que deve ser adorado é aquele que resultará
da evolução da raça humana.[6]
Com tais mudanças iniciadas com a negação da revelação divina,
Satanás está seduzindo o mundo para que caminhe em direção à unificação
da humanidade. Ela ocorrerá quando todos estiverem sob um governo
mundial único que condicionará o planeta a aceitar seu líder político
máximo, o Anticristo, o qual terá poderes únicos e alegará ser o próprio
Deus. (Renald E. Showers — Israel My Glory — http://www.chamada.com.br)
Notas:
- Humanist Manifesto II, American Humanist Association [www.americanhumanist.org/about/manifesto2.html].
- Idem.
- Ibidem.
- Ibidem.
- John Charles Cooper, The Roots of The Radical Theology, Westminster, Philadelphia, 1967, p. 148.
- Idem.
fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/estrategia_satanas.html
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