Wallace Sousa
“Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não
acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?”
Lucas 15.8
O que representava a dracma perdida para a noiva, no contexto histórico-cultural do I século?
A dracma perdida era parte integrante de um colar, presente do noivo,
que representava seu compromisso público perante a sociedade local, de
que havia um elo entre ambos que se consumaria logo mais. Quando ela
saía de casa, esse colar fazia parte de sua indumentária, um pouco
parecido como um “anel de compromisso” ou anel de noivado hoje em dia.
No colar em questão, havia dez dracmas, e seu colar estava incompleto,
por isso ela não poderia usá-lo, que era um risco ao compromisso
assumido com o noivo.
Sair com um colar incompleto seria motivo de vergonha certa para aquela
donzela judia do século I. A igreja de hoje, infelizmente, pode ser
considerada como aquela jovem nubente: é uma igreja com valores
perdidos, incompleta em seu compromisso assumido perante o Noivo, o
Amante de sua alma. Mas, como resgatar esses valores perdidos? Como
recuperar a honra perante um mundo que, atolado na lama do pecado, tem a
ousadia em apontar o dedo lamacento às práticas espúrias e corrupções
dos líderes eclesiásticos brasileiros?
1. Em primeiro lugar, devemos acender a candeia
Esse acender a candeia é repleto de significados, todos relevantes, e
quero explorar um pouco de cada um. O acender a candeia representava,
literalmente, lançar luz na escuridão reinante (as casas da Judéia do
século I não tinham muita iluminação natural). Isso, para nós, é muito
simples: um retorno à simplicidade das Escrituras, que é a luz que
ilumina nossos passos (Salmo 119.105). O advento da luz traz os
seguintes benefícios: manda embora as trevas, que fogem diante da
presença da luz, e também afasta animais ferozes ou peçonhentos. É o que
a igreja está carecendo: espantar as trevas do pecado e bestas-feras
encasteladas em alguns púlpitos (besta de ignorância teológica e feroz
de tosquiar ovelha).
Outro aspecto interessante é a questão do custo dessa procura. Naquela
época, não havia a comodidade da eletricidade para auxiliar as buscas, e
acender a candeia representava um custo, em tese, desnecessário, visto
que não era de noite (senão a candeia já estaria acesa, certo?) e o
azeite combustível possuía um custo não desprezível (vide a história da
viúva que conseguiu pagar TODAS as suas dívidas, em 2 Reis 4). Hoje em
dia vemos a facilidade em se aprovar destinação de recursos para obras e
construções faraônicas mirabolantes, enquanto setores educacionais
(EBD, p.ex.) capengam e não se investe em formação teológica de futuros
obreiros. Como podemos esperar esclarecer as almas perdidas se não
estamos investindo em iluminação decente?
2. Em segundo lugar, devemos varrer a casa
Uma coisa recorrente no meio humano, nas instituições humanas é tentar
tapar o sol com a peneira e varrer a sujeira para baixo do tapete. Mesmo
após milênios e séculos de tentativas frustradas, o homem ainda não se
deu conta de que é inútil esconder a sujeira do pecado. Remédio para a
sujeira do pecado só existe um realmente eficaz e definitivo: a lavagem
pelo sangue de Jesus. Não tem outra forma de ser limpo da sujeira do
pecado.
A igreja deve se conscientizar de que a sujeira não pode, jamais, ser
varrida para baixo do tapete. A exemplo daquela mulher, quando se deixa a
sujeira tomar conta da casa, os valores vão se perdendo e nem nos damos
conta. E, se vamos procurá-los, a busca se torna muito mais difícil e
demorada. Solução? Varrer a casa, antes de procurar. Às vezes, ao limpar
a sujeira, achamos muitas coisas valiosas no meio da sujeira, que caiu
lá e não víamos. Sua igreja varre o pecado para baixo do tapete ou para
fora da casa?
3. Em terceiro lugar, devemos buscar com diligência
Aquela mulher era uma pessoa comum que, mesmo sem querer, acaba por
perder coisas valiosas. Mas, era uma mulher esforçada também, uma mulher
que sabia o que queria e que sabia que precisava fazer a coisa bem
feita se quisesse obter o resultado desejado. Sabe, tem pessoas que
querem alcançar determinado objetivo e vivem reclamando porque jamais
conseguem. Mas, quando você vai analisar a situação, observa que tais
pessoas não se preocupavam em fazer a coisa do jeito certo, em fazer
direito e bem feito. Por que reclamar, então?
Lembro-me de uma situação difícil pela qual passei certa vez. Conheci um
grupo de irmãos que faziam evangelismo na madrugada, em Natal/RN, um
trabalho muito interessante e, de certo modo, perigoso. A madrugada não é
um lugar muito fácil quando se vai de encontro ao pecado. Numa dessas
madrugadas, lá pelos idos do século passado, eu fui com eles levar a
Palavra que liberta e transforma aos perdidos na noite (Faustão nem era
Fausto ainda… risos).Naquela madrugada descobri o grande valor que
existia em uma pequena chave…
Pois bem. Nesse evangelismo madrugadino, perdi a chave de minha moto
(naquela época, eu era “motorizado”). Quase entrei em parafuso, mas orei
e pedi que Deus me direcionasse, pois não sabia ao certo onde a chave
poderia ter caído. Assim, sem alternativas, refiz meu trajeto, olhando
diligentemente, na penumbra da madrugada, o chão de terra batida por
onde havia passado quase uma hora antes. Estava escuro, havia barro,
poças de lama e montes de sujeira, mas a diligência venceu a parada:
encontrei a chave descansando, à minha espera, em uma rua vicinal, bem
no meio do caminho. Quer recuperar os valores perdidos? Que tal um pouco
de diligência?
4. Em último lugar, devemos procurar até achar
É disso que precisamos, na maioria das vezes: perseverança, insistência
e, em alguns casos, teimosia. Ir até o fim, é disso que estou falando.
Uma boa parte de meus posts têm embutida essa idéia: perseverar. E estão
entre os posts mais lidos e mais bem avaliados, por quê? Sinceramente?
Não sei ao certo. Talvez por terem sido bem escritos ou interessantes?
Ou, ainda, porque as pessoas estão procurando algum incentivo, alguma
palavra que as motive a não parar, a não desistir e jogar tudo pro alto.
Talvez a última opção seja a mais correta.
O mundo está repleto de projetos inacabados, de projetos até a metade.
Houve uma época na história do Brasil onde cada governante tinha seu
projeto de governo e como não se conseguia fazer tudo em um só mandato, o
próximo que assumia deixava o projeto de seu “inimigo” abandonado, às
traças. Era a época dos “elefantes-brancos”, dos rios de dinheiro
público sendo desperdiçados a céu aberto (hoje se desperdiça ainda, mas
agora é “por debaixo dos panos”…).
É preciso entendermos que somente chegaremos até onde almejamos e
seremos aquilo que fomos projetados para ser se não pararmos, se não
desistirmos, se não jogarmos a toalha. Aquela mulher achou a dracma
perdida porque, para ela, não havia outra opção: era achar ou achar,
custasse o que custasse.
Nós, igreja evangélica atual, estamos enfrentando a crise do apagão
eclesiástico, onde um blackout espiritual está se formando bem debaixo
de nossos narizes, que só pode ser revertido se assumirmos a mesma
atitude e ação daquela mulher diligente: acender, varrer e buscar até
achar. Esse apagão espiritual trará muito mais prejuízo do que os
apagões logísticos que têm acontecido, e as trevas resultantes serão
muito mais perigosas do que a simples ausência de luz.
Urge que a igreja evangélica assuma seu papel como luz do mundo nesta
nação e resgate os verdadeiros valores do evangelho que está sendo
mascateado nos púlpitos neopentecostais, feitos de latrina pela teologia
da prosperidade. Achou fortes as palavras? E o que dizer de uma
teologia que perverte os conceitos bíblicos para destronar Deus e
entronizar o homem em Seu lugar? Chamar isso de que, senão fezes
teológicas? É preciso varrer essa teologia de nossos púlpitos, mas
somente após acender a luz do Espírito, pela Palavra é que as pessoas
vão enxergar essa sujeira para quererem se ver livres dela.
Vou encerrar com uma pergunta: de que vale a vitória financeira quando
se vive derrotado pelo pecado? Isso é verdadeiro cristianismo? Onde?
fonte:http://www.atendanarocha.com/2014/10/a-dracma-perdida-e-o-resgate-do.html#more
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