“Atenda, atenda!”, você grita ao telefone
enquanto a pessoa que você ama está caída inconsciente no chão. Você já
ligou freneticamente para a emergência. O telefone chama e chama, mas
ninguém responde. “Quanto tempo, Deus, quanto tempo vai demorar até que
eles respondam à minha chamada?” Nada.
Imagine seu desespero. Segundos transformam-se em minutos, mas ainda
não há nenhuma resposta do atendente da emergência. Você está clamando
por socorro, mas recebe apenas silêncio em troca.
Você já clamou a Deus e não recebeu nenhuma resposta? Você já se
sentiu como se Deus estivesse surdo para você? O rei Davi de Israel
sentiu-se assim. No Salmo 13, Davi registrou sua intensa frustração com o
silêncio de Deus durante um tempo de profunda necessidade. Ali ele nos
deu o exemplo de oração para seguirmos quando nos sentirmos como ele se
sentiu.
É interessante que Davi não nos fornece os motivos específicos de seu
chamado de emergência a Deus. Portanto, não sabemos se foi causado por
enfermidade ou outra forma de dificuldade. O que sabemos é que a falta
de reposta de Deus foi agonizante. Um escritor comentou: “O próprio
tempo se torna uma força destrutiva, esgotando a capacidade do homem de
se suster e intensificando o sofrimento em um nível desumano”.[1]
O Lamento
O Salmo 13 é um lamento individual, “um gênero de salmo no qual o
falante do poema define uma crise e invoca a Deus para pedir por
socorro”.[2] Ele “termina com uma nota de esperança e confiança”.[3]
Davi colocava sua confiança em Deus com respeito ao seu pedido, e o
salmo enfatiza, cândida e sinceramente, a reação tripla de Davi à falta
de resposta de Deus. Primeiro, Davi revelou seu problema – que passara a
ser a falta de resposta do próprio Deus.
“Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até
quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro
de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá
contra mim o meu inimigo?” (Sl 13.1-2).
Davi se sentia ignorado e esquecido por Deus – alienado, sozinho com seus pensamentos.
Davi implorou a Deus quatro vezes, perguntando: “Até quando?” Você
pode perceber a intensidade da emoção nas perguntas retóricas de Davi.
Ele se sentia ignorado e esquecido por Deus – alienado, sozinho com seus
pensamentos. Como aquele que chama a emergência. Davi estava
profundamente angustiado.
Ele, então, verbalizou seu tumulto interior à medida que lutava com
seu problema que parecia não terminar e que o cercava por todos os
lados. As emoções francas de Davi podem ser desconfortáveis para alguns
leitores. Entretanto, como observaram Kenneth Baker e Waylon Bailey:
Deus é amigo do que duvida honestamente, que ousa conversar com Ele
em vez de falar sobre Ele. A oração que inclui um elemento de
questionamento a Deus pode ser um meio de aumentar a fé daquela pessoa
nEle. Expressar dúvidas e clamar sobre situações injustas no universo
mostram a confiança que a pessoa tem em Deus de que Ele deveria ter uma
resposta para os problemas insolúveis da sociedade.[4]
Quando você se defrontar com suas próprias frustrações com Deus, confie nEle – como Davi – expressando sua luta e angústia.
A Petição
Davi, então, faz uma transição: de questionar a Deus para orar a Deus. Ele faz sua petição a Deus, pedindo por uma resposta:
“Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu! Ilumina-me os
olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu
inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários,
vindo eu a vacilar” (Sl 13.3-4).
O salmista usou uma oração com três partes (atente, responda,
ilumine) para implorar a Deus. Ele buscou uma resposta, preferivelmente a
resposta positiva das bênçãos e do favor de Deus. Depois, Davi apelou a
Deus e a Sua reputação (v.4). Um comentarista escreveu o seguinte:
“Antes que venham mais problemas, e antes que os ímpios tenham motivo
para se regozijar por causa da derrota dos justos, Deus deve agir para
proteger Sua honra”.[5] Davi implorou a Deus, dizendo essencialmente:
“Por favor, dá-me motivos para me alegrar. Ou, pelo menos, não dês aos
meus inimigos (e aos Teus inimigos) motivos para se alegrarem”. Como
Davi, devemos orar a Deus em meio às circunstâncias difíceis e pedir que
Ele nos responda.
O Louvor
Depois que Davi expressou seu problema e orou, ele louvou a Deus por Sua bondade e pelas bênçãos passadas:
“No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração
na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”
(Sl 13.4-5).
Que grande contraste entre o apelo emocionado de Davi a Deus no
início (vv.1-2) comparado com estes versículos tranqüilos de confiança.
Davi verbalizou sua escolha intencional de confiar em Deus a despeito de
suas circunstâncias difíceis. Ele expressou sua confiança no amor do
Senhor, um amor que não falha – resolvendo se regozijar e cantar ao
Senhor porque Ele “me tem feito muito bem”.
“A esperança desespera, todavia, o desespero dá esperança”. Martim Lutero
Foi dito a respeito de Davi: “Embora ele tenha passado por profundo
desespero, o salmista não desiste. (...) Ele se apegou à promessa da
aliança de amor de Deus”.[6] Davi não estava arrasado pelos seus
problemas; em sua situação desafiadora, ele disse: “Confio”. Martim
Lutero certa vez declarou: “A esperança desespera, todavia, o desespero
dá esperança”.
É interessante que todos os salmos de lamentação (com exceção do
Salmo 88) terminam com louvor a Deus pela libertação e fidelidade
mostradas no passado.[8] Claus Westermann descreveu o final da situação
de Davi: “Aquele que lamenta seus sofrimentos a Deus não permanece em
seu lamento”.[9] Davi decididamente colocou sua confiança no cuidado
soberano de Deus, a despeito da falta de resposta de Deus. Ele
determinou que poria sua confiança naquilo que ele sabia que era verdade
sobre o caráter e a fidelidade de Deus em vez de ceder aos seus
sentimentos de desânimo e desilusão.
O Dr. Mark McGinniss disse: “O silêncio de Deus não significa a
ausência de Deus”. Davi resolveu confiar que o Deus soberano a quem ele
servia estava agindo por detrás das cenas, a despeito de Sua aparente
ausência.
Até quando, Senhor, eu terei que viver com esta doença crônica? Até
quando, Senhor, não trarás de volta meu neto desobediente? Até quando,
Senhor, terei que continuar desempregado? Até quando, Senhor, não nos
darás um filho? Quando nós, como Davi, estamos enfrentando o que parece
ser um silêncio sem respostas de Deus – a chamada sem resposta à
emergência, quando clamamos pelo Seu nome – devemos seguir o exemplo de
Davi: derramar diante de Deus os detalhes do problema; orar, pedindo a
Ele por uma resposta; e louvá-lO por quem Ele é, a despeito de como nos
sentimos em meio às nossas circunstâncias.
Deus tem um propósito para todas as coisas, até para aquilo que
parece ser o silêncio dEle. Todavia, Ele promete que nunca nos deixará,
nem nunca nos abandonará (Hb 13.5). Clamar pelo nome do Senhor está
apenas a uma chamada de emergência de distância. (Paul Golden — Israel My Glory — Chamada.com.br)
Paul Golden é diretor de admissões no Seminário Bíblico Batista em Clarks Summit, Pennsylvania/EUA.
Notas:
- Claus Westermann, The Living Psalms [Os Salmos Vivos], trad. J.R. Porter (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1989), 71.
- “Glossary of Literary Tems and Genres” [Glossário de Termos e Gêneros Literários], The Literary Study Bible [A Bíblia de Estudos Literários], www.esvLiteraryBibleStudy.org/glossary#lamnt.
- Peter Craigie, Word Biblical Commentary [Comentário Bíblico de Palavras] (Waco, Tx: Word Books, 1983), 19:141.
- Kenneth L. Baker e Waylon Bailey, Micah, Nahum, Habakkuk, Zephaniah [Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias], The New American Commentary [O Novo Comentário Americano], (Nashville, TN: Broadman & Holman, 1998), 20:277-278.
- Willem A. VanGemeren, “Psalm 13” The Expositor’s Bible Commentary [O Comentário Bíblico do Expositor] ed. Frank Gaebelein (Grand Rapids, Mi: Zondervan, 11991), 5:141.
- Ibid.
- Ibid.
- Dr. Mark McGinnis, entrevista pessoal, em 19 de janeiro de 2007.
- Westerman, 69.
fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/deus_parece_calado.html
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