Thomas Ice
“Portanto, vigiem, porque vocês não
sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa
soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e
não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, também vocês
precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que
vocês menos esperam” (Mt 24.42-44, NVI).
Para muitos de nós, nascidos por volta da década de 1950, o início
dos anos 1970 foi um tempo bem estimulante! O Movimento de Jesus viu
centenas de milhares de jovens virem a Cristo. Foi um tempo no
cristianismo dos Estados Unidos em que houve grande ênfase na profecia
bíblica, especialmente no Arrebatamento da Igreja.
Embora eu tivesse crescido na igreja, fui pela primeira vez
apresentado à profecia bíblica e ao Arrebatamento durante essa época,
quando estava terminando a adolescência. Havia um ar de expectativa de
que Cristo poderia realmente vir para Sua Igreja a qualquer momento, o
que não vi acontecer desde aqueles dias. Naquela época, muitos estavam
aguardando a vinda do Senhor enquanto alcançavam os perdidos com o
Evangelho para que eles não perdessem o Arrebatamento. Eu tinha muitos
amigos que aceitaram a Cristo durante aqueles dias por causa da urgência
da hora.
Evangelismo nos anos 1970
Primeiro, creio que o Espírito Santo estava extremamente ativo,
movendo-se sobre minha geração rebelde como Ele jamais havia feito. O
Senhor usou livros como O Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual certamente fez milhões virem a Cristo por meio de sua influência. Filmes como A Thief in the Night
[Um Ladrão na Noite], de Russell Doughten,[1] ensinavam sobre o
Arrebatamento antes da Tribulação e também foram um catalisador que
levou muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta o Arrebatamento como
Cristo vindo feito um ladrão na noite.
Começando em 1969, surgiu em cena o que foi na época chamado de
música “Jesus Rock” [N.T.: um trocadilho entre Jesus como sendo a Rocha,
e o Rock de Jesus]. O enfoque de grande parte da música do movimento
incluía a crença de que Jesus voltará em breve e que é melhor você
confiar nEle como Salvador para não perder o Arrebatamento. Larry Norman
foi considerado o fundador e líder do “Jesus Rock”, com sua conhecida
canção sobre o Arrebatamento “I Wish We’d All Be Ready” [Gostaria Que
Todos Estivéssemos Prontos]. Larry compôs uma outra canção, em torno de
1970, chamada “Right Here in America” [Bem Aqui na América], uma balada
de sete minutos e meio sobre a vinda da perseguição sobre os cristãos.
Ele colocou as seguintes palavras na canção:
Oro para que nós, cristãos, nos levantemos do sofá,
E fiquemos em pé em favor do que cremos.
O tempo é muito curto e Cristo está voltando.
É melhor nos aprontarmos para partir.
Nós, que somos cristãos, deveríamos acender a luz,
Para que a luz brilhe como o dia.
Jesus virá como um ladrão na noite,
E levará todos os que O amam.
A letra também vê a vinda de Cristo no Arrebatamento como “um ladrão
na noite”. Para mim, isto levanta a questão: o Arrebatamento está ou não
diretamente ligado com o tema “um ladrão na noite”.
Uso bíblico
A idéia do “ladrão” em relação à vinda de Cristo é usada sete vezes,
apenas no Novo Testamento (Mt 24.43; Lc 12.39; 1Ts 5.2,4; 2 Pe 3.10; Ap
3.3; Ap 16.15). Cristo usa “um ladrão vindo no meio da noite” na
ilustração do pai de família sensato apresentada em Mateus e Lucas (Mt
24.43; Lc 12.39). Nenhum desses textos se refere ao Arrebatamento da
Igreja; em vez disso, ambos os contextos apóiam a noção de que Jesus se
referiu à Sua Segunda Vinda. Nessas passagens Jesus fala da nação de
Israel durante o tempo da Tribulação de sete anos, quando os crentes
judeus fiéis daquela época estarão aguardando o retorno do Senhor,
diferentemente daqueles que não estavam esperando pela chegada do
Messias em Sua primeira vinda.
À medida que nos movemos cronologicamente através do cânon do Novo
Testamento, chegamos a uma importante passagem dos escritos de Paulo que
se refere duas vezes a um ladrão vindo de noite (1Ts 5.2,4). 1
Tessalonicenses 5.1-11 é uma seção que segue o parágrafo anterior (1Ts
4.13-18), no qual Paulo fala sobre o Arrebatamento (1Ts 4.17). Paulo usa
a frase transitiva do grego peri de (“relativamente”) em 1 Tessalonicenses 5.1, à medida que muda do assunto profético do Arrebatamento para “o Dia do Senhor”.
John MacArthur explica o significado:
Paulo empregou palavras gregas conhecidas para indicar a mudança referente aos tópicos dentro do mesmo tema geral da profecia (cf. 4.9,13; 1Co 7.1,15; 8.1; 12.1; 16.1). A expressão aqui aponta para a ideia de que, num contexto mais amplo sobre o tempo final da vinda do Senhor Jesus, o tema está mudando de uma discussão a respeito do arrebatamento dos cristãos para o julgamento dos incrédulos.[2]
Deve-se observar que Paulo identifica claramente seu tópico como “o dia do Senhor”, que “vem como ladrão de noite” (1Ts 5.2b).
O Arrebatamento não é mencionado como algo que vem como um ladrão à
noite. O versículo 3 nos fala daqueles que estarão dizendo: “Paz e segurança, então, de repente, a destruição virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão”. Os incrédulos, descritos como “das trevas” (v. 5), são aqueles que serão pegos desprevenidos e despreparados para a ira de Deus durante a Tribulação.
Na verdade, o versículo 9 lembra aos crentes que eles não experimentarão a ira de Deus durante a Tribulação, pois diz: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.9). O meio de livramento da ira de Deus será o Arrebatamento da Igreja mencionado por Paulo no final do capítulo 4.
A figura do ladrão também é usada em 2 Pedro 3.10, onde o Dia do
Senhor é o assunto abordado por Pedro. Fica bem claro que essa passagem
não é uma referência ao Arrebatamento, uma vez que diz: “Os céus
desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo
calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada”.
“Mas se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você” Apocalipse 3.3
As duas últimas referências ao tema do ladrão ocorrem em Apocalipse
3.2 e 16.15. Jesus está falando diretamente à igreja carnal de Sardes, a
quem Ele diz para acordar da inércia espiritual e se arrepender: “Mas se você não estiver atento, virei como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você” (v.3 – NVI).
Esta passagem certamente não está relacionada ao Arrebatamento, mas a
uma promessa de juízo para aqueles dentro da Igreja que não se
arrependerem.
Apocalipse 16.15 é um enunciado intercalado que ocorre entre a sexta e
a sétima taça de juízo. Desta forma, dezoito dos dezenove juízos da
Tribulação já aconteceram. Como a última taça de juízo está associada à
preparação para a Segunda Vinda de Cristo, ela é uma admoestação para os
santos da Tribulação observarem os sinais que apontam para o retorno de
Cristo, o que está descrito na segunda metade de Apocalipse 19. Esta
certamente não é uma referência ao Arrebatamento.
Conclusão
Embora haja outras questões de maior importância do que analisar se o
Arrebatamento pode ser comparado com a chegada de um ladrão na noite,
creio que é importante manejarmos adequadamente a Palavra de Deus (2Tm
2.15), relacionando frases e descrições bíblicas da mesma forma que a
Bíblia o faz. Pode acontecer que, quando aplicamos mal o imaginário
bíblico, não apenas criamos associações falsas, mas também deixamos
escapar a aplicação do tema que a Bíblia está realmente ensinando. Este
poderia ser o caso da linguagem do ladrão na noite.
A figura do ladrão na noite nunca se aplica ao Arrebatamento. Tal
linguagem é geralmente descritiva dos incrédulos e da ira de Deus ou do
juízo relacionado com a Tribulação ou com a Segunda Vinda. A figura de
um ladrão na noite mostra que ela se aplica aos incrédulos que são pegos
desapercebidos, uma vez que eles nunca realmente crêem que Deus vai
julgar a história. O incrédulo pensa que vai sair impune, mesmo
ignorando Deus por toda a sua vida; portanto, Deus não é um fator
decisivo, pensa ele.
O que a Bíblia quer enfatizar é: “Algum dia ele vai ter uma grande
surpresa”, exatamente como o indivíduo que é roubado por um ladrão. Ser
roubado é um acontecimento que interrompe o estado normal de voltarmos
para casa todos os dias, encontrando-a da maneira como deveria estar.
Como o aluno indolente, que nunca está pronto para o exame e, portanto, é
pego desprevenido quando chega realmente a hora da prova, assim o
incrédulo nunca estará preparado, já que ele não acredita em Deus de
jeito nenhum, ou não acredita que Deus um dia o responsabilizará por
seus erros.
A canção de Larry Norman diz: “Jesus virá como um ladrão na noite, e
levará todos os que O amam”. Cristo não levará nada como um ladrão no
Arrebatamento. Ele virá para Sua Noiva – a Igreja, o Corpo de Cristo. Os
crentes são chamados “filhos da luz” em 1 Tessalonicenses 5.5 e
instruídos por Paulo a ficarem despertos durante o tempo presente, que
antecede o Arrebatamento, ao qual ele dá o nome de noite. “Mas
vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda
como ladrão. Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos da
noite nem das trevas” (1Ts 5.4-5). No contexto de 1 Tessalonicenses
5, o dia se refere ao Dia do Senhor, que é o tempo da ira de Deus, que
geralmente chamamos de Tribulação.
Os acontecimentos dos últimos dias pegarão o mundo desapercebido, já
que, mesmo em seus sonhos mais desvairados, as pessoas não crêem que
aqueles cristãos malucos e sua Bíblia poderiam estar certos. Todavia,
nós, crentes, conhecemos a verdade e não nos surpreenderemos quando os
acontecimentos da profecia bíblica começarem a se desenrolar. Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - Chamada.com.br)
Thomas Ice é diretor-executivo do Pre-Trib Research Center. Ele é autor de muitos livros e um dos editores da Bíblia de Estudo Profética.
Notas:
- Russell S. Doughten, Jr., A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite] (1972).
- John MacArthur, ed., Bíblia de Estudo MacArthur, p. 1643.
http://www.chamada.com.br/mensagens/ladrao_na_noite.html
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