Wilma Rejane
A epístola de Colossenses reflete um período de sincretismo religioso em
que a igreja localizada na cidade de Colossos estava sendo influenciada
por doutrinas estranhas e alheias ao cristianismo. Ali haviam gregos,
judeus, frígios e indígenas, uma diversidade de nacionalidades onde cada
um queria fazer prevalecer sua cultura social e religiosa. Da filosofia
grega ao misticismo oriental tudo estava sendo propagado como formas de
bem-estar espiritual sob o pretexto de que nenhuma religião é tão boa
quanto a outra.
E Paulo escreve àquela igreja falando da superioridade de Cristo em
relação a tudo mais. É curioso perceber que mesmo contando com um
dirigente local fiel a Cristo, chamado Epafras, as pessoas ainda
divagavam sobre a realidade das Escrituras, de quem era Cristo e quem
eram em Cristo. A causa dessa divagação estava no egocentrismo de alguns
irmãos que se negavam a abandonar os velhos costumes querendo aliá-los
ao novo modo de vida.
O problema era que não poderia haver novo modo de vida se não houvesse o
abandono das práticas do passado, se não houvesse a morte do eu, da
história individual em detrimento da história de Cristo. Paulo diz aos
Colossenses: “ Já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos
vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;
onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, servo ou livre, mas Cristo é tudo em todos” Cl 3: 9-11.
Ou seja: o objetivo do cristianismo não é a separação, a subjetividade
do ser. Não é o que vocês são, mas o que Cristo é. E é esse Cristo que
deve habitar em vós de tal forma que vocês reflitam Ele, se amoldem a
Ele. Não é o lugar de onde vieram, os costumes que receberam, a cultura
herdada que comporá vosso ser; é Cristo.
E ao olhar para o contexto histórico da igreja de Colossos faço um
paradoxo com os dias atuais em que a história de cada um parece ser tão
vital que reflete imagens como o mito de Narciso. Narciso era exuberante
e desprovido de amor pelo próximo. Carregava consigo uma sina: não
podia ver sua própria imagem, caso contrário morreria. Mas Narciso viu
sua imagem refletida na água e se apaixonou por ela, ficou tão
encantando que morreu imóvel contemplando-a.
Quantos de nós não carregamos intrinsecamente esse mito de Narciso?
Encantados com a própria história; quem somos, o que temos, o que
vivemos. E assim se morre, contemplando a si mesmo ou a imagem de si
mesmo que nem sempre é real e na maioria das vezes é enganosa. Os
Colossenses estavam enganados sobre a Verdade do ser e aquilo que
julgavam verdade; era ilusão. Nenhuma outra filosofia seria capaz de
salvá-los de si mesmos; a não ser Cristo. E Cristo devolveria a cada um o
que realmente eram. Aquilo para o qual foram criados.
Que nós possamos refletir sobre a mensagem de Paulo aos Colossenses
aplicando-a em nossas vidas. É preciso deixar morrer o Narcisismo. A
história individual produz ídolos, ilusões. A história de Cristo em nós
produz santidade. É a história do Cristo que deve causar perplexidade em
nós e não a história do grego, do celta, do outro. E a história do
outro pode e deve causar perplexidade em nós quando ela refletir Cristo.
Paulo tinha esse objetivo de que a vida de Cristo nele transformasse
outras vidas, no que diz:
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de
Deus, que me amou e se entregou por mim.”
Gálatas 2:20
Não, não é a vida de Paulo, pois Paulo sem Cristo seria o velho e
miserável Saulo. É Cristo em Paulo. Que assim seja conosco. Que o velho
homem do pecado já não habite em nós, por Cristo ser em nós de tal forma
que não haja mais lugar para qualquer outra coisa que não edifica.
Deus o abençoe
fonte;http://www.atendanarocha.com/2016/01/colossenses-e-o-mito-de-narciso.html#more
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