Wolfgang Schuler
A palavra hebraica Yeshua é uma descrição abrangente da divindade, da glória e da missão de Jesus Cristo.
Por que o Nome dado por Deus de nosso Salvador Yeshua (a segunda sílaba é a tônica), que foi transmitido claramente pelo anjo Gabriel, não consta com toda a sua extraordinária importância e bela forma original hebraica no Novo Testamento grego e na tradução das nossas bíblias? Não existe mais nenhuma das versões originais hebraicas dos Evangelhos. Isso não ocorre por acaso.
Os autores do Novo Testamento tinham a grandiosa e perigosa incumbência de divulgar a mensagem da salvação do homem para muito além das fronteiras de Israel, visando alcançar o amplo ambiente greco-romano. Em grego, o mais importante idioma original do Novo Testamento, o nome “Yeshua” tinha um som estranho, já que no grego não existe o som “ch” e um nome que terminava em “a” se assemelhava a um nome feminino. Os nomes masculinos normalmente terminavam em “-os” ou “-ous”. Assim, Yeshua foi adaptado ao vocabulário grego e transformado em Iäsous (a segunda sílaba é a tônica).
Na versão em latim da Vulgata, a tradução de Jerônimo – que se tornou popular no Império Romano –, o Nome foi transformado em Iesus e nessa forma ele foi assimilado pelos idiomas europeus e ainda por muitos outros.
Conhecemos a forma original desse nome através do sucessor de Moisés, Josué – Yehoshua em hebraico – a forma pré-babilônica de Yeshua. No idioma grego do Novo Testamento, Josué também é chamado de Iäsous, ou seja, Iesus, como consta na Carta aos Hebreus 4.8, apesar de que, como o próprio nome indica, esta carta era dirigida principalmente a pessoas crentes com base hebraica. Acontece que isso foi introduzido à Septuaginta no Século 2 a.C., que era a tradução oficial da Escritura Sagrada hebraica para o idioma grego. Originalmente, Josué se chamava Hoshua (auxílio, salvação, cura, redenção, libertação, livramento), até que Moisés, em Números 13.8 e 16, o renomeou como Ye-Hoshua, ou seja, “YHWH traz/é auxílio, salvação, cura, redenção, libertação, livramento”. Assim, na Septuaginta, Yehoshua é Iäsous.
Algo semelhante ocorreu com a indicação profética da missão de Jesus no Plano de Salvação de Deus, ou seja, de ser “o ungido de Deus” (Is 61.1) – “Ha-Mashiach” em hebraico. Os sacerdotes, os profetas e os reis eram ungidos, sendo que essas três funções eram unidas de modo perfeito em Jesus. A aplicação direta do nome “o Messias” no grego – “Mashiach” antecedido pelo artigo definido “Ha” – é encontrada apenas duas vezes no Novo Testamento, em João 1.41 e 4.25. Também essa expressão hebraica não soava bem aos ouvidos gregos e foi amplamente traduzida com a palavra grega Cristos, o que foi transformado em Cristus, no latim. Uma palavra grega com pronúncia semelhante contribuiu muito para a sua divulgação: Crästos, que significa suave, moderado, amável, gentil, honrado, eficiente – todos conceitos que se aplicavam perfeitamente a Jesus. Assim, o cognome Cristos, ou Cristus, foi um simpático auxiliar para a propagação dessa importante mensagem, e a palavra derivada Cristianoi, ou cristãos em português (At 11.26; 1Pe 4.16) rapidamente tornou-se comum através do mundo para identificar os respectivos seguidores.
O nome Yeshua, em Hebraico, tem um sétuplo significado, poderia se dizer que é uma luminária com 7 braços. Ele é composto por Ye- e -shua. Ye representa YHWH, ou Yahweh (הוהי em hebraico), o Nome mais santo de Deus que foi revelado a Moisés a partir da sarça ardente (ver Êx 3.14-15). A sílaba -shua significa: “ajuda, cura, salva, redime, liberta, torna alegre, faz feliz (isto é, eternamente feliz)”. Assim, o nome Jesus significa literalmente: “YHWH (Deus) ajuda, cura, salva, redime, liberta, torna alegre, faz eternamente feliz”. Todas essas sete incumbências (o número da santa perfeição) são condensadas nesse nome e representam exatamente o que é Jesus, o Filho de Deus.
Mesmo que a primeira sílaba Ye- conste prioritariamente como abreviatura para o santíssimo Nome de Deus, no idioma hebraico ela ainda tem um outro significado: se essa sílaba for considerada como prefixo, o Ye- aponta para algo futuro e, assim, se aplica aos textos proféticos. Desse modo, através dessa sílaba inicial indicando algo futuro, o nome Yeshua soa ao mesmo tempo como uma promessa, o que coincide totalmente, pois “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32; At 2.21).
No nosso idioma, o nome de Jeschua tem exatamente sete letras. Também na maneira de escrever esse Nome no idioma hebraico resplandece o número sete. Na grafia hebraica, com suas belas letras artisticamente elaboradas, sobre cada uma dessas letras livremente desenvolvidas é colocada uma pequena coroa ou labareda. Toda criança de Israel fica feliz se pode encontrar duas ou três dessas abas em seu nome e as pode colorir. No nome Yeshua aparecem sete dessas labaredas sobre cada uma das quatro letras! A grafia do nome Yeshua é semelhante a uma Menorá acesa, um castiçal com sete braços, que é o símbolo judaico mais importante para a iluminação divina.
Desde a destruição do Segundo Templo, os judeus crentes não acendem mais a Menorá, mas o farão somente depois da Volta do Messias. No entanto, a Menorá já está acesa nos corações daqueles que creem em Yeshua, em Jesus!
A qualidade da nossa fé não fica mais perfeita se falarmos somente em Yeshua, ao invés de dizermos Jesus. No entanto, podemos fortalecer nossa fé se voltarmos à fonte – inclusive à fonte linguística.
De acordo com o entendimento judaico, o Nome mais santo é clara e exclusivamente o Nome pessoal de Deus, YHWH, essa misteriosa concepção literária composta de 4 letras (YHWH/הוהי), que, em Hebraico, significa algo como a fusão entre os três tempos de “Eu sou”, ou seja: “Eu-sou-o-que-sou-(que)-era-(e)-serei”, e isto condensado em somente duas sílabas.
Além disso, o conceito hebraico a respeito de “Eu sou” não é o mesmo que imaginamos em nosso pensamento ocidental de influência grega. Não se trata do “ser em si”, algo ontológico ou filosoficamente abstrato, mas de um forte relacionamento pessoal e vivido ativamente, no sentido de “estou aqui para você!”, ou seja, “Eu estava e sempre estarei aqui para você!” Esta é a essência desse mais sagrado Nome de Deus.
Já antes da época de Jesus, esse nome YHWH (não o nome Yeshua, no qual o nome YHWH aparece abreviado e praticamente escondido) era considerado tão santo que, de acordo com a doutrina dos rabinos, ele não poderia ser pronunciado em público, exceto pelo sumo sacerdote e isto apenas uma vez por ano, por ocasião do Yom Kippur. Para tanto, os ouvintes precisavam se prostrar no chão e tapar os ouvidos. Aquele que pronunciasse indevidamente esse Nome, isto é, sem observar essas regras restritivas, estava sujeito a ser condenado à morte por apedrejamento.
O filósofo em religião Schalom Ben-Chorin foi o primeiro a observar que provavelmente tenha sido exatamente este Nome que constava no quadro acusatório, na cruz de Jesus, em forma de acrônimo, isto é, quando se juntava as letras iniciais das palavras no cartaz. Título, isto é: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS” (Mt 27.37), em hebraico: Yeshua Ha-Nozri We-Melech Ha-Yehudim. Pilatos considerava isso uma gozação para zombar dos judeus.
Os judeus têm uma antiga tradição em formar e reconhecer acrônimos. Assim, deve ter sido um tremendo choque para os sumo sacerdotes, quando descobriram o acrônimo desse santíssimo Nome de Deus escrito na placa condenatória sobre a cruz, Nome que eles mesmos não estavam autorizados a pronunciar, com exceção do sumo sacerdote encarregado dos ofícios, e, mesmo assim, somente durante a liturgia do Yom Kippur. Isso explica a sua reação enérgica, relatada em João 19.21, exigindo que isso fosse imediatamente modificado. Pilatos, no entanto, respondeu: “O que escrevi, escrevi”.
Como, então, Paulo pôde afirmar a respeito de Jesus, isto é, Yeshua: “Por isso Deus o exaltou... e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9)? Será que, com isso, ele não desrespeitou o santíssimo Nome de Deus? De modo algum, pois, como já vimos, assim como Ele, o Filho, é um com o Pai, assim também o Seu Nome é um com o Nome do Seu Pai (o Filho tem o Nome do Pai), pois Ye- é YHWH e, com os atributos contidos na sílaba –shua, complementa a missão sétupla que o Pai atribuiu ao Filho.
Porém, o trágico é que esse Nome pessoal de Deus até hoje não mais é invocado pelos judeus, contrariamente à clara orientação de Deus, em Êxodo 3.15b: “Esse é o meu nome para sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração”. O motivo disso é a interpretação exagerada que os rabinos fazem do texto de Êxodo 20.7. Ao invés disso, os judeus atribuem diversos nomes substitutivos, como Adonai, Elochim ou Ha-shem, e que significam “o nome”.
No entanto, quando se invoca o Nome de Jesus/Yeshua, satisfazendo assim o desejo do coração de Deus, então ao mesmo tempo invocamos o Seu Nome, pois Ele Se identifica com o Seu Filho, pois também o Pai “ajuda, cura, salva, redime, liberta, torna alegre, faz eternamente feliz”, em unidade com o Seu amado Filho!
Ainda mais trágica é a doutrina rabínica ainda difundida em que, ao invés de se usar o nome completo Yeshua, emprega-se uma forma abreviada do Seu nome, isto é, Yeshu, com o que se suprime toda profundidade do significado dado por Deus e se forma um acrônimo que se assemelha a uma maldição: “Que seu nome e sua lembrança sejam extintos”! Que o Senhor lhes perdoe. Eles não sabem o que fazem.
No maravilhoso Nome de Yeshua (Jesus) está resumida toda a glória de nosso Messias em um formato condensado que simultaneamente serve de lacre. Na forma ocidental de Jesus Cristo, que todos apreciamos, mal conseguimos reconhecer o “judaísmo” de nosso Messias. Os judeus, por sua vez, enxergam Jesus como um estranho que provavelmente não receberia a licença de imigração para o atual Israel. De nossa parte, dois mil anos de história da Igreja carregada de culpa contribuíram consideravelmente para essa tragédia.
Tanto mais podemos novamente, nesses tempos finais, nos lembrar com humildade das raízes judaicas de nossa fé e descobrir o Nome original de Jesus, com toda a sua beleza e seu múltiplo significado, bem como louvá-Lo, invocá-Lo e confessá-Lo com ânimo e sem restrições diante de nossos amigos judeus.
Muitas igrejas cristãs começaram, em suas orações e seus hinos, a enaltecer e louvar o Nome Yeshua, em sua maravilhosa forma hebraica, pois “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
A qualidade da nossa fé não fica mais perfeita se falarmos somente em Yeshua, ao invés de dizermos Jesus. No entanto, podemos fortalecer nossa fé se voltarmos à fonte – inclusive à fonte linguística. — Wolfgang Schuler (factum-magazin.ch)
Fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/nome_perfeito.html
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