O Reino da Besta


Charles E. McCracken


Tudo começou com um comercial da Coca-Cola no qual aparecia um grupo multicultural de adolescentes cantando numa colina nos arredores de Roma. O comercial ficou tão popular que a banda britânica The New Seekers rapidamente gravou uma versão expandida sem fazer referência ao refrigerante. A música “I’d like to teach the world to sing” (Eu gostaria de ensinar o mundo a cantar) chegou às paradas de sucessos, agradou imediatamente ao público e vendeu 96 mil cópias do disco no primeiro dia. Logo as pessoas estavam cantarolando a melodia e cantando a letra que falava de um mundo no qual todos viviam juntos, em perfeita harmonia.

Aquela canção popular e a mensagem simples encapsulavam a aspiração da humanidade pela harmonia e pela paz mundial. Nos anos 1970, a globalização parecia a anos-luz de distância. Hoje, ela está batendo às nossas portas. Claramente, estamos a caminho de um sistema mundial único. Mas como vai ser esse sistema? Será que ele vai trazer a paz e a harmonia sobre as quais The New Seekers cantaram, ou esse sistema trará a espada?

A Bíblia ensina que um império mundial existirá antes da Segunda Vinda de Cristo. O apóstolo João descreveu esse império da seguinte forma: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas” (Ap 13.1).

Tudo começou com um comercial da Coca-Cola no qual aparecia um grupo multicultural de adolescentes cantando numa colina nos arredores de Roma.

Este será o império final que dominará o mundo antes que Cristo estabeleça Seu Reino Milenar. Esse império incorporará características de rebelião de cada império que o precedeu.[1] Nas sete cabeças da besta estão nomes de blasfêmias sugerindo uma provocação aberta contra Deus. Há 2.000 anos atrás, João definiu o elemento distintivo desse império global profetizado como “o espírito do anticristo”, que já era predominante (1 Jo 4.3). Hoje ele está se tornando uma influência cada vez mais difundida. Caminhando pelas ruas de Toronto alguns meses atrás, não pude deixar de observar as grandes e fortes letras que cobriam o lado inteiro de um ônibus. O anúncio dizia: Provavelmente Não Exista Nenhum Deus. Agora, Pare de se Preocupar e Aproveite a Vida.

Lançado no Reino Unido em 2008, o projeto ateísta de anúncios em ônibus superou as expectativas de seus organizadores. O que começou com um plano de criar propagandas dizendo que Deus não existe em 30 ônibus em Londres, cresceu para mais de 800 ônibus no Reino Unido. Em menos de um ano, ônibus e cartazes em grandes cidades no mundo todo proclamavam a mensagem ateísta.[2]

Mais recentemente, um grupo que se denominava Rational Response Squad [Esquadrão da Resposta Racional] persuadiu adolescentes a aceitarem “o desafio blasfemo”, renunciando publicamente “a qualquer tipo de crença no Deus dos céus do cristianismo”.[3] À frente do movimento estava Richard Dawkins, britânico, professor de biologia, escritor cético e prolífero, além de ateu convicto. Ele vê Deus como sendo “indiscutivelmente o personagem mais desagradável de toda a ficção: ciumento e orgulhoso disso; uma aberração cheia de vontades, injusto, controlador, que não sabe perdoar; um vingador... e um briguento caprichosamente malévolo”.[4]

A Bíblia ensina que, no final, o mundo irá se juntar em torno de um homem caracterizado por essa mesma atitude provocadora, rebelde e antagonista com relação a Deus. Esse homem será o Anticristo. Predominante na descrição das Escrituras a seu respeito é seu caráter blasfemo. Ele é, de fato, a blasfêmia personificada. O apóstolo João escreveu: “[Ele] abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu” (Ap 13.6). O Anticristo falará de maneira desprezível sobre Deus, ridicularizará os céus, e escarnecerá de todos os que lá habitam.
A Marca da Besta

Surgindo para promover a carreira do Anticristo haverá uma segunda besta identificada como o Falso Profeta. Ele “emergirá da terra” (v.11; cf. Ap 16.13; Ap 19.20; Ap 20.10). Após fascinar o mundo com sinais e maravilhas, levará a população enfeitiçada da terra ao próximo nível: em uma provocação blasfema contra Deus, ele ordenará o levantamento da imagem do Anticristo e exigirá que o mundo se prostre em adoração diante dessa imagem. Indo um passo mais adiante, ele dará animação à imagem e, em uma demonstração sádica de poder, dará à imagem não apenas a habilidade de falar, mas também de matar qualquer um que se recusar a obedecer (Ap 13.15).

Para solidificar a subserviência do planeta, o Falso Profeta exigirá que todos, no mundo inteiro, recebam uma marca de fidelidade ao Anticristo e seu império global. A Bíblia não especifica a forma da marca, mas a palavra traduzida por “marca” é a palavra grega “charagma”, que significa “marca ou selo, feito através de gravação, carimbo, ou ferro quente”.[5]

Com sua obsessão megalomaníaca de controlar a todos e a tudo, o Anticristo indubitavelmente requererá a renúncia da privacidade pessoal em devotamento ao império. Crescente miniaturização da tecnologia, condensação da informação, bem como acessibilidade e velocidade de transferência de dados, poderiam, sem dúvida, equipar o governo global vindouro para monitorar a vida diária dos indivíduos de uma maneira nunca antes possível. Atualmente, as empresas já usam tecnologia de baixo nível para juntar informações sobre os lugares onde as pessoas fazem compras, o que elas compram, seus hábitos de gastos, e outros dados que consideram necessários para desenvolver estratégias de marketing. Uma versão melhorada desse tipo de transparência não é apenas inevitável, mas será imperativo para a forma final de globalização.[6]

O Falso Profeta exigirá que todos, no mundo inteiro, recebam uma marca de fidelidade ao Anticristo e seu império global.

As Escrituras não especificam se a marca em si irá incorporar a tecnologia para identificar cada pessoa, mas a função principal dela será fornecer evidências visíveis da lealdade ao império e ao seu líder. Esse será o requisito mínimo para aqueles que simplesmente quiserem funcionar dentro do sistema. É possível que aqueles que quiserem mostrar um grau mais elevado de lealdade ao império e solidariedade a seu líder possam escolher usar “o nome da besta, ou o número do seu nome” (Ap 13.17). Monitores globais de obediência ao estabelecido pelo império provavelmente executarão como traidor a qualquer um que for pego sem uma das opções de marca. Aqueles que não forem mortos imediatamente não terão oportunidade de realizar nenhum negócio em nenhum nível.
A Ferida Mortal

O que pode ter sido semelhante a um sonho cooperativo se transformará em um pesadelo total através de uma série de eventos. O primeiro está diretamente ligado ao fato de que uma das cabeças da besta de sete cabeças aparecerá “como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada” (Ap 13.3). Alguns usam essa passagem como evidência de que o Anticristo será um ditador ressuscitado ou algum personagem mau do passado. Como Satanás não tem o poder de transmitir vida aos mortos, essa idéia parece improvável.

Outros crêem que a cabeça ferida mortalmente corresponde à cabeça da besta que representa o Império Romano, que atualmente parece estar morto, mas reemergirá nos últimos dias de uma forma revivida. Entretanto, uma vez que Roma não sucumbiu diante de um ataque definitivo, mas se desintegrou vagarosamente, muitos acreditam que a cabeça que recebeu a ferida mortal é o próprio Anticristo. Essa visão parece ser indicada através da afirmação: “essa ferida mortal foi curada” (v. 3). Maior encorajamento para adorar a Besta cuja “ferida mortal foi curada” será dado pelo detalhe de que ela foi “ferida à espada, [e] sobreviveu” (v.14).

Como João usou o termo besta para se referir tanto ao Anticristo quanto ao reino dele, é possível que a cabeça ferida de morte refira-se ao Anticristo sendo ferido de tal maneira que ameace o colapso dessa forma final e revivida do Império Romano, o ponto principal do qual serão o gênio e o carisma de seu líder.

Falando sobre essa ferida mortal, um anjo diz: “A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição” (Ap 17.8). A palavra grega abyssou, é literalmente o “abismo”, uma palavra descritiva para Tártaro. Esse é um lugar onde alguns demônios são atualmente mantidos para julgamento e onde o próprio Satanás ficará durante os mil anos do Reino Messiânico (2 Pe 2.4; Jd 6).[7]

Logo após receber a ferida mortal, o Anticristo será habitado por um espírito demoníaco temporariamente liberado do abismo para dar poder e possivelmente até mesmo reavivar esse governante perverso. Quando a ferida mortal do Anticristo for curada, o fracasso potencial do reino dele será evitado; e lemos: “toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13.3).

Operando através do espírito maligno que estará habitando o Anticristo, Satanás dará a esse ditador global todos os recursos necessários para subjugar o planeta: “o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (Ap 13.2). Além da bajulação do mundo, “deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação” (v.7). Levado por uma ambição sem limites pela conquista do mundo, esse império governará a terra; nenhum indivíduo, nação, ou grupo de pessoas ficará de fora da autoridade ditatorial futura do Anticristo e de seu governo global.
No Horizonte

O próximo passo em direção à dominação absoluta virá através de uma coalizão de dez líderes contemporâneos aparentemente representando populações regionais. Esses líderes correspondem aos dez chifres de uma besta que emergiu do mar (Ap 13.1) e à quarta besta da visão de Daniel (Dn 7.7), bem como aos dez artelhos dos pés de ferro e barro da visão do rei Nabucodonosor, da Babilônia (Dn 2.41-43).

A coalizão global de líderes na revelação recebida pelo apóstolo João tem vida curta: “Mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora” (Ap 17.12). As palavras gregas mian horan descrevem “‘uma parte do dia’, especialmente a décima segunda parte do dia ou da noite, uma hora”.[9] O mandato desses dez líderes mundiais não será apenas excepcionalmente breve, mas poderá ser literalmente de 60 minutos. Imediatamente após receberem seu mandato para proporcionarem uma liderança global, eles poderiam transferir sua autoridade ao Anticristo, concordando unanimemente que ele é a única esperança de unidade global e o único capaz de resolver as questões complexas que o mundo está enfrentando.

Atualmente, as pessoas novamente crêem que, através do consenso global, elas podem resolver a miríade de questões que o planeta está enfrentando.

O elo comum no relacionamento deles com o Anticristo será a animosidade deles contra Deus e contra todos os que mantêm uma visão bíblica do mundo. Finalmente, essa coalizão de dez líderes se unirá à Besta em sua tentativa audaciosa de impedir o retorno de Jesus Cristo para estabelecer Seu Reino Messiânico (Sl 2; Ap 19.19). Nesse ínterim, o império global fará guerra contra os santos, e todos os que não forem leais ao Anticristo e ao seu reino experimentarão uma perseguição sem precedentes e também a morte (Dn 7.25; Ap 13.7).

A Bíblia documenta a primeira tentativa do homem de construir uma comunidade global quando o mundo pós-diluviano se juntou nas planícies de Sinear para construir “uma torre cujo topo chegue até aos céus” (Gn 11.4). Temendo o isolamento, Ninrode maquinou o projeto de rebelião, promovendo-o como o ponto fundamental para a adoração unificada, solidariedade cooperativa, colaboração tecnológica e prosperidade urbana.[10]

Atualmente, as pessoas novamente crêem que, através do consenso global, elas podem resolver a miríade de questões que o planeta está enfrentando. Elas estão se voltando para a governabilidade global para prevenir o desastre ambiental, a deficiência de energia, a instabilidade econômica, práticas comerciais injustas, aniquilação nuclear, intolerância religiosa, terrorismo, superpopulação, pandemias, e fome mundial.

O plano de unificar o mundo em um espírito de cooperação global, entretanto, culminará com a terra sendo subjugada pelo déspota possesso de demônio que estará governando o império totalitário final. E o sonho de uma utopia sem Deus, com as pessoas vivendo juntas, em perfeita harmonia, irá se transformar no mais terrível pesadelo mundial. (Charles E. McCracken — Israel My Glory)


Notas:
O anjo explicou a João que as cabeças representam sete impérios, cinco dos quais já haviam existido e terminado (Egito, Assíria, Babilônia, Média-Pérsia, e Grécia); um que estava em existência durante o tempo em que João viveu (Roma); e um que ainda existiria no futuro (Ap 17.11).
Cory Doctorow, “Atheist bus ads roll in London today: massive success” [Propagandas em ônibus ateísta roda em Londres hoje: sucesso completo], 6 de Janeiro de 2009 boingboing.net/2009/01/06/atheist-bus-ads-roll-.html.
The Rational Response Squad, “The Blasphemy Challenge” [O Desafio Blasfemo], 14 de dezembro de 2006 richarddawkins.net/print.php?id=425.
Richard Dawkins, The God Delusion [A Desilusão de Deus]. (New York: Houghton Mifflin, 2006), 51.
Timothy Friberg, Barbara Friberg, e Neva F. Miller, Analytical Lexicon of the Greek New Testament [Léxico Analítico do Novo Testamento em Grego], Baker’s Greek New Testament Library (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2000), acessado via Logos Software.
Thomas L. Friedman, The Lexus and the Olive Tree [O Lexus e a Oliveira] (New York: Anchor Books, 2000), 171-174.
Renald Showers, Those Invisible Spirits Called Angels [Aqueles Espíritos Invisíveis Chamados Anjos] (Bellmawr, NJ: The Friends of Israel Gospel Ministry, Inc., 1997), 89.
Lex Rieffel, “Regional Voices in Global Governance: Looking to 2010 (Part IV)” [Vozes Regionais na Governabilidade Global: Olhando para 2010 (Parte IV)] 27 de março de 2009 theglobalist.com/StoryId, aspx,?StoryId=7630.
W. E. Vine, Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words [Dicionário Expositivo Completo de Palavras do Antigo e do Novo Testamento de Vine] (Nashville, TN: Thomas Nelson, 1985), 312.
Henry Morris, The Genesis Record [O Registro de Gênesis] (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1976), 264-269.

Fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/reino_da_besta.html

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