O Papel Crucial da Pregação Bíblica
Não tenho certeza sobre como minha mãe dava conta, mas ela fazia dos
almoços de domingo uma ocasião especial. Tenho lindas lembranças dos
cheiros, sabores e da atmosfera familiar da refeição do meio-dia, depois
do culto de domingo pela manhã. Freqüentemente, comíamos carne assada,
batatas, legumes frescos e torta feita em casa. Era o ponto máximo da
semana para toda a nossa família, e a comida era tão abundante que
domingo era o dia em que o “almoço” era chamado de “ceia”.
Nestes dias atuais, de lares com duas fontes de renda, poucas
famílias se reúnem para comer uma refeição, quanto mais para
compartilhar, em clima de lazer, um almoço feito em casa, depois de
terem participado do culto como família. A refeição de domingo é
provavelmente uma pizza encomendada por telefone celular, chamada feita
do estacionamento da igreja, ou fast-food apanhado no caminho para os
jogos de futebol da tarde das crianças. Tempo adequado com a família e
nutrição balanceada enfrentam muitos desafios em nossa sociedade cheia
de estresse.
Deus inspirou a Bíblia com um propósito: ser o instrumento para o
homem de Deus equipar o rebanho para um viver como o de Cristo.
Outro almoço de domingo, ainda mais importante, também está passando
por tempos difíceis: alimentar o rebanho de Deus com a Palavra de Deus
pelos pastores de Deus. Muitas ovelhas estão mal nutridas e se tornam
presa fácil para os lobos em uma cultura pós-cristã e cada vez mais
anticristã. Hoje, o rebanho geralmente vive com uma dieta de alimentos
que não valem nada, que são uma porcaria, em vez de se alimentar de
banquetes nutritivos e bem planejados, que incluem a carne da Palavra de
Deus. Por que estamos vivendo neste estado lastimável? Seguem algumas
das muitas razões:
1. Muitas pessoas desvalorizaram a Palavra de Deus como não sendo infalível, não tendo autoridade e não sendo relevante.
2. A experimentação sobre “como fazer igreja”
enfatiza metodologias estimulantes, mas coloca menos ênfase na pregação
ou deixa pouco tempo para o ensino bíblico.
3. Pregações expositivas estão enfrentando tempos
difíceis. São consideradas fora de moda para uma cultura pós-moderna que
evita o proposicionalismo (a apresentação e a defesa das verdades
teológicas por meio de proposições que podem ser provadas verdadeiras) e
o absolutismo (a visão de que determinadas coisas estão certas ou
erradas).
4. As muitas ocupações e o baixo nível de
compromisso da sociedade militam contra os crentes se tornarem
consistentemente envolvidos na igreja local e seriamente enfocados nela.
Um pastor não pode controlar as filosofias populares de ministério,
quanto mais a influência da cultura secular. Como pastores, precisamos
assumir um compromisso novo: “Nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.4),
e faremos o que for necessário para alimentar o rebanho de Cristo sob
nosso cuidado. A menos que um pastor assuma tal compromisso e tenha um
planejamento sistemático e implacável de estudar e pregar, suas boas
intenções provavelmente cairão vítimas das intensas exigências da vida
pastoral ou de suas próprias distrações.
Andrew Telford (1895-1997), um eficiente pregador expositivo mesmo
aos 90 anos, escreveu: “As realizações da igreja cristã são as
realizações do púlpito. Com a pregação, o cristianismo ou cresce ou
cai”.[1] O fundamento bíblico para tal afirmação está explicado em 2
Timóteo 3.16-4.4. Como a Escritura é soprada por Deus, ela é proveitosa e
equipa completamente o homem e a mulher de Deus para toda boa obra.
Deus inspirou a Bíblia com um propósito: ser o
instrumento para o homem de Deus equipar o rebanho para um viver como o
de Cristo. Warren Wiersbe escreveu: “A Palavra é proveitosa para a doutrina – isto é, o que é certo; para a repreensão – isto é, o que não é certo; e para a instrução na justiça
– isto é, como permanecer certo”.[2] Baseados no que a Escritura é
(soprada por Deus) e no que ela faz (equipa totalmente o povo de Deus),
os pastores recebem um dos encargos mais solenes das Escrituras: “Prega
a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende,
exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres
segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos;
e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm
4.2-4).
A palavra “pregar” (kerykson, em grego) é o termo usado para
o que o pregoeiro público de uma cidade faria: anunciar, proclamar e
divulgar. Ele vinha da corte do rei com uma proclamação com autoridade, e
era obrigado a torná-la verbalmente conhecida com absoluta clareza e
precisão. Essa descrição do trabalho de um pastor enfatiza tanto
entender quanto sentir – tanto ver quanto saborear – a mensagem:
“Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo
em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de
mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às
fábulas” (2 Tm 4.2-4).
Ela não é desinteressada, nem fria, nem neutra. Ela não é uma mera explanação. (...) A pregação é uma exultação expositiva. (...) Ela é singularmente adequada para alimentar tanto o entendimento quanto os sentimentos. (...) Deus ordenou que Sua Palavra venha em uma forma que ensine a mente e alcance o coração.[3]
É por isso que o Rei do universo envia um homem de Deus como pregador e não envia simplesmente um texto escrito ou um filme.
Wiersbe definiu pregação como “a comunicação da verdade de Deus pelo
servo de Deus para satisfazer as necessidades do povo de Deus” e citou
Phillips Brooks, que descreveu a pregação como “trazer a verdade através
da personalidade”.[4]
A pregação canaliza de maneira única a verdade inspirada de Deus
através de um homem que está apaixonado por Deus. Piper escreveu:
As pessoas estão morrendo de fome da grandeza de Deus, mas a maioria não daria este diagnóstico sobre suas vidas cheias de problemas. A majestade de Deus é uma cura desconhecida. (...) A visão de um grande Deus é a peça-chave na vida da igreja.[5]
A pregação bíblica tem o objetivo de proporcionar essa visão de que o
banquete de domingo precisa ser restaurado ao seu lugar de honra na
vida da igreja local. O apóstolo Paulo instou os anciãos da igreja de
Éfeso: “Para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com seu próprio sangue” (At 20.28).
Olhando, através de um fogo feito com carvão, em uma praia, para Seu
discípulo Pedro, que havia professado amá-lO, Jesus o desafiou: “Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21.15).
Sua ordem reverbera através dos corredores da história até nossos dias,
e todos os pastores que professam amá-lO não deveriam fazer menos do
que isso. (Israel My Glory)
Mark Johnson é pastor da Igreja Bíblica Independente de Martinsburg, Virgínia Ocidental (EUA).
Notas:
- Andrew Telford, Pearls for Practical Preaching: A Study Course in Homiletics [Pérolas para a Pregação Prática: Um Estudo Sobre Homilética], (Richmond, VA: Cussons, May and Co., 1970), 12.
- Warren Wiersbe e David Wiersbe, The Elements of Preaching [Os Elementos da Pregação], (Wheaton, IL: Tyndale, 1986), 66-67.
- John Piper, The Supremacy of God in Preaching [A Supremacia de Deus na Pregação], ed. rev. (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 2004), 10-11.
- Wiersbe e Wiersbe, 17, 19.
- Piper, 13-15.
fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/ceia_domingo.html
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