Aniquilar cristãos e outros “infiéis” é
o alvo declarado do extremismo islâmico no Iraque. Uma das mais antigas
culturas cristãs do mundo está diante de seu fim.
As imagens são terríveis. Mulheres acorrentadas umas às outras são
ofertadas em fila como escravas sexuais. Os homens são obrigados a
deitar-se em valas comuns, onde são mortos com tiros na cabeça. Vêem-se
muitas cruzes com corpos humanos ensangüentados dependurados. Não apenas
soldados, até crianças pequenas são decapitadas; as cabeças cortadas
são expostas em estacas – fotografadas pelos assassinos e publicadas
orgulhosamente na internet.
Essas imagens terríveis vêm acompanhadas de histórias ainda mais
horríveis. É impossível saber se todas elas são verdadeiras ou se cada
uma delas se relaciona de fato com as imagens que vêm a público, mas
causam o efeito desejado: milhares de cristãos orientais estão em fuga.
Em pleno século 21, uma das mais antigas culturas cristãs está diante de
seu fim.
A “escritura na parede” era bastante evidente: o que hoje é a mais
cruel realidade, já vinha sendo anunciado há anos em pichações nas
paredes e nos muros das grandes cidades iraquianas como Bagdad e Mosul. E
o ódio anticristão ali grafitado não era sem precedentes. Há uma década
e meia, inscrições islâmicas já sujavam as ruas do Egito: “Primeiro o
povo do sábado (judeus)! Depois o povo do domingo (cristãos)”!
Há uma década e meia, inscrições islâmicas já sujavam as ruas do Egito: “Primeiro o povo do sábado (judeus)! Depois o povo do domingo (cristãos)”!
De fato, a expulsão em massa da população cristã do Oriente
árabe-islâmico é uma continuação coerente das limpezas étnicas
planejadas e meticulosamente executadas contra os judeus dos países
árabes, o “povo do sábado”. Se em meados do século 20 ainda vivia em
torno de um milhão de judeus no mundo árabe, hoje essa região é
praticamente “judenrein” (livre de judeus).[1]
Atualmente os centros, instituições e organizações do “povo do
domingo” tornaram-se “alvos legítimos” dos extremistas muçulmanos. Eles
querem declaradamente “matar todos os infiéis, onde quer que os
encontrem”. “Infiéis” do ponto de vista islâmico são todos os de outra
fé ou crença, não apenas cristãos, também os yasidis e os muçulmanos das alas opostas.
Da perspectiva cristã, a ameaça crescente não vem apenas dos
muçulmanos sunitas como a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaeda e suas
“filhas”, a Frente al-Nusra ou o “Estado Islâmico” (EI), pois cada vez
mais ela também parte de grupos xiitas. Assim, em 2012 o grão-aiatolá
Sayid Ahmad Al-Hassani Al-Baghdadi, em uma entrevista para o canal de
televisão Al-Baghdadiah, ordenou a ilimitada sujeição e o assassinato de
todos os cristãos do Iraque.
Islâmicos radicais agiram sistematicamente no Iraque durante anos,
difundindo um clima de ameaças, terror, intimidação. É curioso ver como
os grandes do mundo, especialmente os Estados Unidos, se mantiveram
calados diante dessa tendência. Os cristãos foram xingados de
“politeístas” ou “amigos dos sionistas”. Agora o EI coloca os cristãos
da Síria e do Iraque diante da alternativa: converter-se ao islã ou
morrer.
Concretamente, no dia 17 de julho de 2014 o EI impôs um ultimato aos
cristãos ao norte de Mosul, concedendo três dias para deixarem seu
“califado”. O anúncio salientava que o “califa” Abu Bakr Al-Baghdhadi
estava sendo muito generoso com esse prazo, pois nada o obrigaria a
concedê-lo. Esse ultimato causou uma fuga maciça de cristãos de Mosul ao
Curdistão autônomo, que fica próximo. Muitos cristãos idosos ou
deficientes, que não viram qualquer possibilidade de fugir, se
converteram ao islã.
Chocados, os refugiados contam como foram parados em barreiras nas
estradas logo depois que deixaram suas casas e como foram roubados de
seus últimos pertences: “Eles tomaram tudo, nossos carros, nosso
dinheiro, identidades e passaportes e até as fraldas dos bebês e os
medicamentos de uma menina com doença crônica”. Outra menina de seis
meses de idade teve seus brincos de bijuteria violentamente arrancados
de suas orelhas. “Muitos de nós foram surrados”, contam eles. E os
muçulmanos ameaçavam: “Não voltem nunca mais para este país! Esta terra é
nossa. Se vocês voltarem, vamos matá-los com a espada”.
“Eles tomaram tudo, nossos carros, nosso dinheiro, identidades e passaportes e até as fraldas dos bebês e os medicamentos de uma menina com doença crônica”.
O patriarca caldeu Louis Sako avalia que mais de 100.000 cristãos
estão em fuga. Ele menciona expressamente que 1.500 manuscritos antigos
foram queimados pelos fanáticos muçulmanos, coisa bastante incomum no
mundo islâmico. Geralmente os muçulmanos têm grande apreço até pelos
livros cristãos. Antes da “libertação” pelos americanos, ainda viviam em
Mosul 60.000 dos 1,5 milhões de cristãos iraquianos. Em 23 de julho de
2014 o arcebispo sírio-ortodoxo da cidade, Nikodimus Daud, que vive no
exílio em Irbil, declarou ao canal russo Russia Today: “Não existem mais
cristãos em Mosul!”. Contou ainda que os muçulmanos do EI arrancaram as
cruzes das igrejas, “primeiro da minha catedral Mar-Afram”. E então
queimaram tudo o que havia na igreja, instalaram alto-falantes, e com
suas orações transformaram-na em uma mesquita.
Outras igrejas da Síria e do Iraque foram explodidas pelos
combatentes do EI, como também diversas mesquitas que esses muçulmanos
fanáticos consideram uma ameaça à fé no Deus único (quando são locais de
peregrinação muçulmana). O venerável mosteiro de Mar-Behnam, na região
de Al-Chadhir, a sudeste de Mosul, que data do século quatro, foi tomado
e seus monges foram todos expulsos.
Pelo visto, o “califa” do EI havia oferecido aos habitantes da recém-conquistada Mosul o pagamento da jizya,
um imposto de proteção. Em fevereiro de 2014 os habitantes cristãos da
cidade síria de Al-Rakka, situada às margens do Eufrates, haviam firmado
um acordo como dhimmis dos conquistadores. Nele, os muçulmanos
se comprometem, segundo antigas tradições, a proteger a vida, a
propriedade e os locais religiosos dos cristãos. Por isso, esse status
“dhimmi” também é chamado de “status dos protegidos”.
Os cristãos, por sua vez, se comprometeram a pagar a jizya,
de acordo com suas condições de renda, variando entre 178 e 715 dólares
por ano. Além disso, não podem construir novas igrejas nem restaurar as
antigas ou danificadas. Cristãos sob a condição de dhimmis
estão proibidos de tocar sinos e de expor publicamente seus símbolos
religiosos, como cruzes ou textos sagrados. Na presença de muçulmanos,
não podem ler em voz alta ou recitar textos religiosos. Os dhimmis
devem evitar qualquer postura de oração em público e não podem carregar
armas. Além disso, comprometem-se a não impedir que outros membros de
sua própria religião se convertam ao islã, estão obrigados a honrar o
islã e os muçulmanos e a não ofendê-los da forma que for.
O Estado Islâmico baseia todas essas medidas no Corão (sura 9, verso
29), que leva o título de “O Arrependimento”. Ali está escrito acerca
dos cristãos e dos judeus: “Dos adeptos do Livro, combatei os que não
crêem em Deus [Alá] nem no último dia e não proíbem o que Deus [Alá] e
seu Mensageiro [Maomé] proibiram e não seguem a verdadeira religião –
até que paguem, humilhados, o tributo”. O xeque Hussein Bin Mahmud,
proeminente autor nos fóruns jihadistas na internet, opina a respeito:
“Esse é um claro texto divino. Todo aquele que lê o Corão vê isso”. A
humilhação que envolve o status de dhimmi é tributada à
incredulidade dos próprios cristãos, segundo explica Bin Mahmud: “Como
infiéis, eles são indignos e desprezíveis e devem ser tratados como
tais”.
Iraquianos fugindo de Mosul.
Segundo o acordo, uma transgressão desse contrato significa passarem a
ser tratados como “inimigos”. A alternativa à assinatura do contrato de
dhimmi é “a espada”. No começo de agosto, os milicianos do EI
em Tel Afar, uma cidade a oeste de Mosul, prenderam aproximadamente 100
cristãos e yasidis; os homens foram mortos e suas mulheres e filhas
vendidas como escravas. De forma oficial, os líderes religiosos
islâmicos decidem nesses casos: mulheres e moças cristãs são
consideradas “propriedade legítima dos muçulmanos”.
Como os cristãos de Mosul não quiseram submeter-se ao acordo como dhimmis,
só lhes restou a fuga. Seus bens foram consfiscados. A prova de que as
ações do EI foram planejadas sistematicamente e muito bem organizadas
pode ser vista na marcação dos imóveis dos cristãos: a letra árabe N (de
“Nasara”, nazareno, cristão) acompanhada da inscrição “Propriedade do
Estado Islâmico”.
Especialmente chocante para os cristãos de Mosul que viram essa
identificação de suas propriedades, foi o comportamento de seus vizinhos
muçulmanos, gente com quem conviviam pacificamente há décadas, agora
colaborando voluntariamente com o procedimento do EI. De repente eles
afirmaram: “Esta terra pertence ao islã! Os cristãos não devem viver
aqui!” Um refugiado cristão de Mosul contou: “Quando os homens do EI
entraram em nossa cidade, as pessoas os saudaram com júbilo – e
expulsaram os cristãos”.
Na segunda semana de agosto de 2014, o arcebispo caldeu católico de
Mosul, Amel Nona, que vive no exílio em Irbil, declarou diante de um
jornalista italiano: “Nossos sofrimentos atuais são apenas uma prévia
daquilo que espera pelos cristãos europeus e ocidentais em futuro
próximo”. E mais: “Vocês precisam dar-se conta da realidade aqui no
Oriente Médio, porque o número de muçulmanos que vocês recebem em seus
países torna-se cada vez maior. Seus princípios liberais e democráticos
não valem nada aqui”.
Em relação aos milhões de muçulmanos na Europa, ele declarou: “Vocês
terão de tomar decisões fortes e corajosas, nem que seja às custas de
seus próprios princípios”. O jornal italiano Corriere della Sera
o descreveu como “um homem marcado pelo sofrimento”, que “não se
rendeu”. O arcebispo Nona, conforme suas experiências, ainda vê “uma
possibilidade de interromper o êxodo cristão do lugar onde o
cristianismo tem raízes bem anteriores ao islamismo: Combater violência
com violência!”. Resta ver se os recentes bombardeios às posições do EI
poderão impedir o seu avanço. (Johannes Gerloff — israelnetz.de — chamada.com.br)
fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/cristianismo_iraque.html
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