Joel Richardson e alguns outros autores
têm afirmado pela última década que o Anticristo que está por vir será
muçulmano. Ele escreveu uma série de livros advogando esta visão. Sua
última contribuição é The Islamic Antichrist [O Anticristo
Islâmico].[1] Os seus principais argumentos baseiam-se na comparação da
escatologia cristã com a islâmica, das quais ele retira uma determinada
conclusão. Depois ele vai, em segundo plano, para a Bíblia em um esforço
para tratar das passagens que contradizem sua conclusão. Este é um
exemplo clássico de exegese de jornal em que um indivíduo vê algo
acontecendo no mundo, depois vai à Bíblia e tenta fazer aquilo se
encaixar no programa profético das Escrituras. Penso que Richardson e
aqueles que concordam com ele estão absolutamente errados sobre esta
questão, uma vez que o livro de Daniel afirma claramente que o
Anticristo virá de Roma, não de uma nação islâmica.
Exegese de Jornal
Hoje, muitos mestres populares de profecias bíblicas empregam a
exegese de jornal em suas análises de eventos atuais em relação às
profecias. Richardson é um dos exemplos mais extremos disso em nossos
dias. A abordagem adequada que todos os estudantes de profecia bíblica
deveriam empregar é primeiramente estudar a Bíblia indutivamente para
ver o que ela diz, não levando em consideração nenhum dos acontecimentos
correntes. Deve-se primeiro verificar, a partir de uma interpretação
adequada das Escrituras, o que é que o Senhor afirma sobre profecias
bíblicas futuras. Uma vez que a pessoa verificou o que a Bíblia afirma,
então será capaz de montar uma estrutura do plano de Deus para o futuro.
Nosso Senhor não nos falou todos os detalhes; todavia, há muita
informação que Ele nos forneceu. Portanto, somos capazes de construir um
esboço bastante amplo sobre como será o período da Tribulação.
Assim que tiver manuseado adequadamente as Escrituras desta maneira, a
pessoa pode, então, olhar os acontecimentos atuais e verificar
determinadas tendências que podem estar se desenvolvendo e movimentando
na direção que a Bíblia prediz. Por exemplo, a Bíblia tem dezenas de
profecias sobre Israel ser uma nação em sua própria terra durante a
Tribulação. Já vimos o retorno de milhões de judeus para sua terra natal
e o estabelecimento da nação de Israel para acontecimentos que
ocorrerão durante a Tribulação. Centenas de anos antes que isto
ocorresse, muitos cristãos tomaram conhecimento, através da Bíblia, de
que isso aconteceria e escreveram dezenas de livros explicando tal
visão. Isto não seria exegese de jornal. Entretanto, Richardson teve a
idéia de um Anticristo muçulmano lendo primeiro as notícias dos eventos
atuais e passou a especular sobre sua idéia. Esta é uma abordagem errada
à profecia bíblica.
A Falsa Visão de Richardson
Richardson acredita que há muitas semelhanças entre a escatologia
cristã e a escatologia islâmica. Deve haver mesmo algumas semelhanças,
pois muitas das crenças do islamismo se desenvolveram a partir de fontes
cristãs e judaicas. Na época em que Maomé viveu, 50% dos habitantes da
Arábia eram cristãos. Havia também uma forte presença de judeus na
Arábia; sendo que os cristãos e judeus eram praticamente os únicos
habitantes alfabetizados. Diz-se que um escriba judeu foi quem fez os
principais registros do Corão. Além disso, o Hadith, que é uma coleção
de cerca de 400.000 ditados, supostamente expressos por Maomé e escritos
durante um período de mais de 200 anos depois de Maomé, contém muitas
visões contraditórias sobre o futuro. Portanto, não surpreende que
algumas idéias cristãs e judaicas tenham sido tomadas emprestado e
trazidas para dentro do islamismo.
Dave Reagan, em uma palestra feita em uma Conferência de Grupos de Estudo Sobre Pré-Tribulacionismo, observou:
De acordo com o cenário do final dos tempos de Richardson, o Mahdi e o Jesus muçulmano (o Falso Profeta) unirão todo o mundo islâmico, reavivando o Império Otomano. Eles conquistarão Israel e estabelecerão o quartel-general de um Califado em Jerusalém. Seu governo chegará ao fim com a batalha de Gogue e Magogue, que está retratada em Ezequiel 38 e 39, e que acontecerá no final da Tribulação, quando o Senhor Jesus Cristo retornar. E, novamente, quando Jesus retornar, o mundo islâmico verá o verdadeiro Jesus como o Daijal, ou o Anticristo islâmico. Um problema evidente com este cenário é que a escatologia islâmica afirma que o Daijal, o Anticristo, virá primeiro, e seu surgimento será o sinal de que o Mahdi está para chegar. O cenário de Richardson coloca o aparecimento do Daijal islâmico no final da Tribulação, em vez de ser no início. Portanto, pergunto: Se alguém entra em cena afirmando ser o Mahdi antes do surgimento do Daijal, por que esse alguém seria aceito pelos muçulmanos?[2]
O Anticristo Será Romano
Na passagem das 70 semanas de Daniel, Gabriel diz a Daniel que o
Anticristo virá do mesmo povo que destruiria Jerusalém e o Templo, o que
aconteceu no ano 70 d.C. Todos concordam que foram os romanos que
realizaram essa destruição. A passagem se refere ao “príncipe que há de vir” (Dn 9.26). “Ele”, no versículo 27, se refere também ao “príncipe que há de vir”
e é uma referência ao futuro Anticristo durante a Tribulação. Assim,
esta passagem diz claramente que o Anticristo virá do Império Romano
reavivado.
“Depois de sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não
estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o
santuário, e o seu fim virá num dilúvio, e até ao fim haverá guerra;
desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a
destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (Dn 9.26-27).
Daniel 7 fala da quarta besta (Dn 7.7), que é Roma. Isto se confirma no livro do Apocalipse, que fala sobre os mesmos impérios e diz:
“As sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está
sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o
outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco. E a besta,
que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e
caminha para a destruição” (Ap 17.9-11). Os sete montes não se
referem a Roma, pois o versículo seguinte diz tratar-se de sete reis. A
quem eles se referem? Trata-se dos sete reis na história que perseguiram
o povo judeu. O primeiro é o Egito, que escravizou Israel. O segundo
são aos assírios, que levaram o Reino do Norte ao cativeiro. O livro de
Daniel fala sobre o terceiro rei, que foi Nabucodonosor [Império
Babilônio], que escravizou o Reino do Sul. O número quatro é o Império
Medo-Persa, durante o qual ocorreu o que está relatado no livro de Ester
e o povo judeu foi libertado. O quinto se refere aos gregos, à sua
tentativa de helenizar os judeus e a perseguição que ocorreu no reinado
de Antíoco Epifânio. O sexto se refere a Roma e à destruição de
Jerusalém e do Templo sob o domínio do governo romano. Este é o império
sobre o qual Apocalipse 17.10 diz “um existe”, uma vez que o
Apocalipse foi escrito durante o tempo do Império Romano. Assim, o
sétimo rei se refere ao Anticristo, que surgirá do Império Romano
reavivado no futuro. O sétimo rei se refere ao Anticristo na primeira
metade da Tribulação, enquanto que o oitavo é o Anticristo que foi morto
no meio da Tribulação, depois é ressuscitado e provavelmente habitado
pelo próprio Satanás.
O islamismo só foi fundado no Século VII d.C.; por isso, não pode
fazer parte do Império Romano reavivado, especialmente porque Roma
jamais fez parte do islamismo. Não há uma maneira pela qual Richardson
consiga torcer a história o suficiente para tentar encaixar, mesmo que
de modo espremido, suas idéias desviantes a ponto de incluir o islamismo
nessa estrutura bíblica do passado ou do futuro. A Bíblia, tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento, apóia a noção de que o Anticristo virá
de alguma reforma do Império Romano. A atual União Européia (UE) também
não é o cumprimento dessas profecias. Pode ser que a UE esteja
estabelecendo o palco ou preparando o caminho para um futuro cumprimento
de alguma forma do Império Romano reavivado.
Conclusão
Há muitas outras razões pelas quais o Anticristo não será um
muçulmano, mas deverá ser do Império Romano reavivado. O espaço não me
permite examinar tais razões aqui. Richardson também tenta dizer que
Gogue, em Ezequiel 38 e 39, é o Anticristo que vem da atual Turquia. Ele
também coloca o tempo desse acontecimento na Segunda Vinda. Esta visão
é, da mesma forma, impossível porque a profecia diz que Gogue vem do
lado do Norte (Ez 38.6). As mais distantes partes que estão ao norte de
Israel só podem se referir à Rússia. O Anticristo certamente não virá da
Rússia. Quando se estudam as passagens que falam sobre o lugar de onde
virá o Anticristo, nos livros de Daniel e do Apocalipse, não há nada que
defenda a falsa noção de que ele será islâmico. O islamismo não existia
quando a Bíblia foi escrita, portanto, não é mencionado por ela. Parece
que não há nada na Bíblia que antecipe especificamente o surgimento do
islamismo. Como não há base bíblica para tal visão, então não importa o
que alguém possa pensar sobre os acontecimentos atuais ou para onde as
tendências parecem pender em relação ao islamismo, essa visão não é
absolutamente mencionada na profecia bíblica e, especialmente, a Bíblia
não menciona um Anticristo islâmico. Os muçulmanos serão como o restante
do mundo incrédulo, que seguirá após o Anticristo romano reavivado, a
menos que eles venham a confiar em Jesus Cristo como seu Senhor e
Salvador durante os anos da Tribulação. Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - Chamada.com.br)
Notas:
- Joel Richardson, (Washington, D.C.: World Net Daily Books, 2015).
- Dave Reagan, “An Evaluation of the Muslim Antichrist Theory” (Uma Avaliação da Teoria do Anticristo Muçulmano), http://www.pre-trib.org/data/pdf/Reagan-AnEvaluationoftheMus1.pdf. Este trabalho é uma excelente refutação da visão do Anticristo islâmico que eu recomendo sinceramente, exceto por seus comentários no final a respeito do Salmo 83.
fonte: http://www.chamada.com.br/mensagens/anticristo_muculmano.html
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