A Democracia iniciou uma marcha vitoriosa
no decorrer do século 20. Principalmente depois do final da Segunda
Guerra Mundial ela alcançou o status de paradigma (padrão ou modelo para
todos os casos semelhantes)... Como avaliar esse desenvolvimento do
movimento democrático? Podemos aprová-lo sem ressalvas, como tantos têm
feito em tantos lugares? A Palavra de Deus e suas declarações proféticas
acerca dos tempos finais nos exortam à sobriedade e à vigilância –
também em relação ao processo democrático.
Democracia é uma palavra grega formada por duas partes: demos é povo e kratos significa domínio. Portanto, Democracia seria “o governo do povo”.
O conceito de Democracia define a forma de governo que surgiu e se
estabeleceu na antiga Grécia nos anos 509-458 a.C. Ela diferenciava a
Grécia dos países ao seu redor, governados por um rei. Uma das
características principais da Democracia é o poder estar nas mãos de
representantes do povo (o Parlamento), complementado por outras duas
instâncias: o Governo (o Executivo) e o Poder Judiciário. Esses três
poderes funcionam como partes de um todo: o Parlamento é a instância
legislativa, o Governo é o poder executivo e os Tribunais supervisionam a
correta aplicação das leis. A grande vantagem dessa forma de governo é o
controle mútuo dos três organismos governamentais (o sistema de “checks
and balances” – controles e equilíbrios), que dificulta o surgimento de
uma ditadura. Mas o sistema tem duas fraquezas:
• Primeiro, a Democracia em si não possui valores que tornem o Estado
apto e capaz. O único valor que o sistema democrático exige
categoricamente é que o poder seja exercido pelo povo –
independentemente da condição moral desse povo.
• Segundo, o sistema democrático pressupõe que todos os membros da
sociedade tenham disciplina e virtude acima da média. Um movimento
democrático com governantes e governados sem disciplina e sem virtude
transforma-se rapidamente em ditadura. Uma profusão de exemplos antigos e
atuais comprovam essa tese.
Apenas essas duas fraquezas da Democracia já bastariam para nos
deixar atentos e de olhos bem abertos, especialmente em sua relação com
as profecias bíblicas. Mas há outras razões que fazem da “Democracia” um
conceito-chave nos tempos finais e um tópico que merece a atenção dos
cristãos.
O cerne da problemática acerca da questão da Democracia é
representado pela pergunta: “Quem tem autoridade?”. Tanto a Bíblia como o
sistema democrático respondem essa pergunta, só que as respostas são
tão diferentes entre si como a noite difere do dia.
O conceito bíblico de autoridade
Muitas e muitas vezes a Palavra de Deus salienta que toda autoridade
pertence ao Deus vivo e emana dEle pessoalmente. O próprio Deus é a
autoridade em si. Esse é o tema central do livro de Daniel e uma das
doutrinas centrais da Bíblia. A frase “Eu sou o Senhor”, no
sentido de uma declaração autoritativa, é encontrada sete vezes só nos
doze capítulos entre Isaías 40 e 51, e temos muitas outras passagens
bíblicas do Antigo Testamento com o mesmo teor, repetindo que toda a
autoridade vem do Senhor Deus. Assim, a autoridade conforme Deus a quer é
sempre uma autoridade exercida a partir do Alto.
Outra particularidade da autoridade como Deus a quer e a vê consiste
no fato de que Ele, no decorrer da História da humanidade, delegou Sua
autoridade a homens. Deus ordenou a Adão e Eva: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja na terra” (Gn 1.28).
Enquanto Adão e Eva se sujeitaram à autoridade divina, tinham
autoridade sobre a Criação. Mas, com a queda em pecado perderam essa
autoridade. Mesmo depois dessa catástrofe, porém, o Senhor achou pessoas
que se submeteram confiadamente à Sua autoridade suprema, tornando-se,
assim, portadoras da autoridade divina. Moisés, escolhido por Deus para
ser autoridade sobre o povo de Israel, tornou-se o legislador dessa
nação e o mediador da Antiga Aliança entre Deus e os judeus. Mas as
declarações proféticas de Daniel foram além de Israel, expondo a moldura
geral do quadro das nações como viria a se apresentar por toda a
História mundial (Dn 2; Dn 9.24-27). Esses homens, juntamente com todos
os detentores de autoridade e poder no Antigo Testamento, tinham certeza
de uma coisa: toda autoridade vem de Deus e minha responsabilidade
primeira diante dessa autoridade consiste em me curvar
incondicionalmente a ela e obedecer-lhe com toda a confiança.
Na Nova Aliança o Senhor confirmou Sua reivindicação de autoridade de
forma resumida, porém abrangente em seu alcance, ao afirmar
categoricamente que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm 13.1b).
No âmbito dessa Nova Aliança, Deus declarou explicitamente algumas
pessoas como investidas de autoridade em uma sociedade constituída
hierarquicamente:
- As autoridades do Estado em relação aos cidadãos (Rm 13.3-7).
- Os anciãos são autoridade sobre os membros da igreja (1 Ts 5.12-13; 1 Pe 5.5).
- Os patrões têm autoridade sobre os empregados (Ef 6.5-8; Cl 3.22; 1 Tm 6.1; Tt 2.9-10; 1 Pe 2.18-21).
- O marido tem autoridade sobre a esposa (1 Co 11.3; Ef 5.22-24; 1 Pe 3.1).
- Os pais têm autoridade sobre os filhos (Ef 6.1-3; Cl 3.20).
Em todas essas relações entre quem manda e quem obedece, as
autoridades estão sempre debaixo da obrigação, claramente formulada no
texto bíblico, de amar e cuidar de seus subordinados. Apesar disso,
continua válido o princípio de que a legitimação divina para exercer
autoridade foi concedida ao superior, não ao subalterno. Esses
detentores de autoridade são as instituições que sustentam a ordem
social bíblica, os reais pilares da sociedade.
O conceito democrático de autoridade
Na ordem democrática, ao contrário da Bíblia, é a população, e não
Deus, quem delega sua autoridade aos organismos estatais. No sistema
democrático, Deus não desempenha papel algum. O Parlamento é a reunião
daqueles que o povo escolheu para representar seus interesses através
das leis que formula. O Governo (Executivo) deve fazer valer essas leis,
e o Judiciário deve zelar para que os interesses do povo sejam
atendidos dentro das normas da lei.
Formulando de outra maneira, podemos afirmar que nesse sistema a
autoridade vem basicamente “de baixo”. Não é raro ouvirmos declarações
dizendo que certas reivindicações são “das bases”. Em caso extremo,
significaria que não é válido o que as autoridades dizem, mas o que o
povo diz (= os subalternos). Quando a democracia tornou-se um assunto
cada vez mais relevante na Europa e nos Estados Unidos no final do
século 18 e a partir da metade do século 19, vindo a ser um tema
debatido e pensado publicamente, havia o temor de que essa
característica do poder legitimado a partir de baixo poderia conduzir a
uma “posição de poder do populacho”, a quem os órgãos estatais não
poderiam mais controlar ou frear. As discussões lembravam daqueles casos
em que uma sociedade democrática decadente transformou-se em ditadura
(por exemplo, o repetido surgimento de figuras autoritárias dentro da
Democracia grega no quinto século a.C. até Alexandre, o Grande, no final
do século IV a.C.; Roma antiga no decorrer do primeiro século a.C.; o
desenvolvimento na França a partir dos primórdios da Revolução Francesa
até a ditadura militar de Napoleão Bonaparte).
Assim como o modelo bíblico, o modelo democrático também tem algumas instituições de grande peso:
• Já citamos que a população é a instância que molda a autoridade do Estado.
• A noção de um pacto social: O Contrato Social ou Princípios do Direito Político
foi uma das principais obras do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau.
Editado pela primeira vez em 1762, exerceu influência decisiva sobre o
desenvolvimento da política interna francesa no final do século 18 (a
Revolução Francesa foi em 1789). Uma das teses mais importantes do livro
de Rousseau é a que preconiza que os membros da sociedade, por meio de
um contrato, concordem com ordens válidas para todos. A “vontade comum”
como base da sociedade seria absoluta e infalível (!). – Uma versão
atualizada dessa concepção é o “Tratado de Lisboa”, o acordo de direito
internacional público entre os 27 membros da União Européia, que, ao
estilo de uma constituição, regula o ordenamento jurídico entre os
países-membros desde 1 de dezembro de 2009.
• Os direitos fundamentais: No transcorrer da história do Direito,
certos direitos e liberdades individuais foram sendo estabelecidas,
liberdades que cabem ao cidadão individual em sua relação com o Estado,
por exemplo, liberdade de fé e consciência, liberdade de expressão e
liberdade de reunião. Direitos fundamentais são áreas do direito
individual em que o Estado não pode interferir arbitrariamente. Se ainda
assim interferir, poderá ser processado pelo cidadão.
A instituição dos direitos fundamentais desenvolveu-se no decorrer da
Idade Moderna, especialmente desde o final do século 16. Nos séculos
16, 17 e 18 diversos monarcas europeus impuseram governos absolutistas
aos seus países. Isso significava que seus cidadãos estavam expostos aos
seus soberanos sem qualquer proteção jurídica e legal e tinham de
aceitar toda e qualquer interferência ou arbitrariedade do governo, sem
poder se defender. Um expoente clássico dessa concepção de Estado foi o
rei francês Luís XIV, que dizia cheio de auto-glorificação: “L’Etat,
c’est moi” (“O Estado sou eu”). Para coibir os abusos que ocorriam na
aplicação prática dessa idéia de governar e exercer poder, e como forma
de proteger os cidadãos, foram criados os Direitos Fundamentais.
Desde então, a noção de direitos fundamentais mudou muito. Os
direitos individuais tornaram-se quase que uma zona-tabu do indivíduo,
uma área intocável pelo Estado. O indivíduo pode entrar em cena não como
subalterno mas reivindicando igualdade de voz.
Isso tem por conseqüência uma concepção completamente nova acerca
daqueles que devem exercer a autoridade, diametralmente oposta ao que a
Bíblia preconiza. Os que exercem autoridade conforme a Bíblia, recebem
seu poder com a certeza de que “um dia prestarei contas a Deus pelo que
me foi confiado”; “terei de provar se fui obediente às normas
estabelecidas por amor ao Senhor e por amor ao próximo”. Segundo a
Bíblia, os que estão sujeitos à autoridade têm a obrigação de obedecer. A
autoridade moderna não tem, por sua vez, a obrigação de prestar contas,
já que pensa basicamente em reivindicações, direitos e demandas. Essa
diferença de postura produz personalidades com características
completamente distintas entre si.
Constatamos que os conceitos de autoridade bíblica e/ou democrática
diferem radicalmente. No modelo bíblico, a autoridade vem de cima e
existe o vínculo com Deus. No conceito democrático, a autoridade vem de
baixo e Deus não tem qualquer relevância. Na realidade, as diferenças
parecem tão significativas a ponto de impossibilitar que esses dois
conceitos se fundam. O desenvolvimento histórico dos últimos 250 anos,
porém, comprova sinistramente que aconteceu justamente o contrário.
A marcha da Democracia
Durante muitos séculos, a idéia predominante de autoridade na Europa era de que autoridade vem de cima.
O próprio Deus como fonte da autoridade não era um pensamento incomum
para as pessoas marcadamente religiosas da Idade Média. Muitos
governantes medievais, como os carolíngeos, reivindicavam a graça divina
como sendo a base de sua autoridade. Essa concepção se manteve ativa
até os tempos modernos. Inclusive, no prefácio da edição de 1611 da
Bíblia King James (em inglês) lemos as seguintes palavras na dedicatória
dos tradutores a Tiago I, rei inglês da época: “Grandes e multiformes
foram as bênçãos, ó soberano e temido senhor, que o Todo-Poderoso Deus, o
Pai de todas as misericórdias, concedeu a nós, o povo da Inglaterra,
quando primeiramente enviou a real pessoa de Sua Majestade para nos
determinar e governar...”. Essa citação é apenas um exemplo do quanto as
pessoas da era moderna tinham a consciência de que seus regentes e
governantes eram instituídos por Deus.
Já registramos que as idéias democráticas adquiriram mais e mais
influência na Europa e nos Estados Unidos a partir do século 18, e mais
fortemente a partir da metade do século 19. Em 1776 os Estados Unidos
foram fundados com uma constituição democrática, e em 1848 seguiu-se a
fundação da Suíça moderna como federação sob o regime de Estado de
Direito. A França tornou-se república em 1870, e outros países seguiram
esses exemplos ou limitaram os poderes dos reis através de corretivos
democráticos. A vitoriosa jornada da democracia continuou no século 20 e
se espalhou até pelo Terceiro Mundo.
O elemento especial na fundação de Estados no século 19 foi a
circunstância de que, a partir de 1820, um gigantesco avivamento
espiritual varreu muitos países da Europa e perdurou por diversas
décadas. Uma das conseqüências desse despertamento espiritual foi que os
fundadores desses novos países concederam grande importância aos
valores bíblicos no momento de elaborar suas leis. O temor a Deus e à
Sua Palavra ainda era tão grande que se reconhecia a bênção que
repousava sobre a obediência ao que Deus diz. E as leis eram formuladas
com esse temor e esse respeito à Palavra de Deus. As autoridades segundo
a Bíblia exerciam a devida influência no ordenamento jurídico dessas
nações. Em outras palavras, mesmo que as instituições democráticas
recebessem sua autoridade de baixo, a influência espiritual (do alto)
era tão forte que os sistemas jurídico e legal eram vistos como sendo
instituídos e regulamentados a partir do alto. Dentro dessa noção de
autoridade, então, era evidente que se salientasse a obediência às
autoridades como obrigação indispensável dos cidadãos. Por exemplo,
Bismarck, pioneiro da fundação do Estado alemão e primeiro chanceler do
Império Alemão, fundado em 1871, era tão rigoroso nesse quesito que se
chegava a falar em “Estado autoritário”. Os reflexos dessa concepção de
autoridade se mantiveram até o final da Segunda Guerra Mundial.
O abandono dessa noção de autoridade começou com o domínio
nacional-socialista na Alemanha, o “Terceiro Reich”. Hitler e seus
acólitos exploravam inescrupulosa e criminosamente a obediência às
autoridades. O resultado foi que, depois do final da Segunda Guerra e da
concomitante decadência do cristianismo nos países europeus, milhões de
pessoas desenvolveram uma negação instintiva e uma desconfiança
renitente a toda e qualquer autoridade. A Escola de Frankfurt –
um grupo de filósofos como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen
Habermas ou Herbert Marcuse, inspirados principalmente por Marx, Hegel e
Freud, – deu formato intelectual a essa desconfiança e a sistematizou
na Teoria Crítica. O ideário e a apreciação desse grupo de
filósofos marcaram profundamente o pensamento europeu dos últimos 60
anos. O movimento feminista, a educação anti-autoritária na Pedagogia, a
resistência à autoridade do Estado como legítima manifestação política,
o movimento estudantil de 1968: todos esses movimentos sociais tinham
suas raízes na Teoria Crítica, como a Escola de Frankfurt
também poderia ser chamada. Essa corrente de pensamento humanista e
ateísta recebeu mais apoio a partir de meados de 1980 através do
movimento da Nova Era, que vinha entremeada de um componente ocultista
(“Desde que nasce, todo homem tem Deus dentro de si na forma de chama
divina”).
Por conseqüência dessa influência ideológica, em poucas décadas as
autoridades que o Novo Testamento considerava como legítimas foram sendo
desmontadas e esvaziadas em todos os níveis da sociedade. O que até
então era considerado pilar da sociedade transformou-se em alvo a ser
atacado. Na mídia, nas escolas, na família, nas empresas e fábricas foi
contínua a pregação contra uma estrutura social caracterizada por
valores cristãos. Um maciço retrocesso do saudável temor a Deus e da
convicção da responsabilidade individual, bem como uma enorme perda de
força moral foram as conseqüências lógicas. Hoje os cinco entes
detentores de autoridade segundo os ensinos bíblicos restaram apenas
como meras sombras daquilo que representavam há sessenta anos, ou mais
ainda há cem anos.
Mas os resultados dessa manipulação ideológica do pensamento europeu
se espalharam como as ondas circulares formadas quando se lança uma
pedra na água: as instituições democráticas do Pacto Social e os
Direitos Fundamentais adquiriram uma dimensão totalmente nova.
• O Pacto Social: Manifestações em massa tornaram-se um fator muito
influente na formatação da vontade popular. Na consciência da sociedade e
de suas autoridades, aos poucos um dogma foi se estabelecendo: “O que
centenas de milhares de pessoas pedem nas ruas não pode estar errado!”.
• Direitos Fundamentais: Pensados originalmente como proteção
legítima diante do poder do Estado, a idéia de direitos fundamentais da
era moderna foi se desenvolvendo cada vez mais no sentido de: “Eu tenho
os meus direitos e ninguém manda em mim”.
Se acoplarmos esses dois “direitos” da era pós-cristã com as
possibilidades de manipulação que a mídia disponibiliza através de
filmes, televisão, internet, música, jornais e revistas, apenas podemos
imaginar o tamanho e o poder das forças anti-divinas em ação nos
corações dos homens contemporâneos.
Quem pensa que, como cristão com uma base bíblica sólida e uma
doutrina saudável, está imune a esses modismos perniciosos, engana a si
mesmo. Nossa geração de cristãos encontra-se na era de “Laodicéia” (veja
Ap 3.14-22). Nas questões da vida prática, permitimos ser muito mais
influenciados por esses processos do que gostaríamos de admitir. A
geração de nossos pais e avós na fé talvez tivesse menos conhecimento do
que nós, mas quando nos questionam, com a Bíblia na mão, acerca de
nossa prática de vida, da nossa compreensão e de nossas convicções a
respeito da obediência singela à Palavra de Deus, nos deixam
constrangidos e envergonhados em muitas questões do discipulado cristão.
Muitos cristãos pensam, por exemplo, que teriam certos “direitos” em
relação à liderança da igreja e reagem muito irritados quando são
chamados à atenção ou quando alguém ousa repreendê-los.
As já mencionadas forças ideológicas também se fizeram sentir
concretamente no dia-a-dia da política. Observemos alguns movimentos
sociais que se levantaram em nome da democracia e mudaram a face do
nosso mundo:
• O movimento de 1968: os jovens rebeldes de 1968 não apenas causaram
um grande choque na sociedade burguesa; muitos de seus expoentes
lograram mesmo fazer a “longa marcha através das instituições”, galgando
posições de influência, especialmente na educação e na política.
• A queda da Cortina de Ferro em 1989/1990: o final da divisão da
Europa foi desencadeado pelas gigantescas levas de refugiados e pelas
manifestações públicas de proporções incontroláveis.
• A Revolução Laranja da Ucrânia entre novembro de 2004 e
janeiro de 2005: depois de eleições manipuladas no outono de 2004,
milhares de ucranianos insatisfeitos foram às ruas e protestaram por
tanto tempo que a eleição foi anulada e repetida, com a vitória do
candidato da oposição, Viktor Yushchenko, à presidência do país.
Dois fatos nessa cronologia são preocupantes:
• Primeiro, chama a atenção o fato dos intervalos entre esses grandes
eventos estar se reduzindo paulatinamente. O moderno espírito da
democracia levou a distúrbios sociais cada vez maiores e mais
freqüentes.
• Em segundo lugar, esses movimentos tentaram alcançar seus alvos
fora dos canais legais do Estado. Basta uma grande multidão insatisfeita
(muitas vezes com razão) para lançar as instituições do Estado em uma
situação de grande desequilíbrio. Não raro, as massas de manifestantes
estavam e estão sendo influenciadas por fatores irracionais e acabam
gerando a violência. Em 23 de março de 2011, o jornal Neue Zürcher Zeitung
(de Zurique, Suíça) publicou um artigo sobre as reviravoltas no mundo
árabe com o título: “No ritmo da revolução: rap, rock e pop fornecem uma
espécie de música de fundo para as transformações políticas nos países
árabes”. O prognóstico dos céticos da democracia no século 19, que
pensavam que a democracia escancararia as portas para a influência
manipulativa das massas, provou-se mais do que acertado.
Os acontecimentos recentes na Grécia fornecem uma verdadeira aula do
que é possível sob essas condições ideológicas. Em nome do “Pacto
Social” (a União Européia) um Estado democrático foi destituído de sua
soberania. A dependência financeira da Grécia com a União Européia era
tão grande que o Parlamento grego só conseguiu baixar a cabeça
concordando com as propostas de austeridade fiscal. Um “não” teria
significado a falência da Grécia. O povo grego – segundo as regras
democráticas, o comitente do governo nacional – só pode ficar
assistindo, impotente, à interdição de seu país. Manifestações e
protestos foram a conseqüência óbvia. Tudo isso aconteceu na Grécia, o
berço da Democracia.
O desmonte efetivo do Estado nacional grego foi apenas o começo desse
processo em nível internacional. Aproxima-se o momento em que dez
delegações políticas com competência global transferirão o poder que
lhes foi delegado a um homem brilhante, com extraordinário carisma e
capacitação impressionante para que, finalmente, resolva os problemas da
humanidade (veja Ap 17.12-13). Esse será o momento de largada para a
etapa final de um caminho que a própria humanidade caída elegeu em nome
da “liberdade” e da “democracia”.
Ao encerrarmos aqui essa retrospectiva histórica, constatamos que os
fatos reais básicos da sociedade foram completamente invertidos num
prazo de apenas 250 anos. Especialmente depois do final da Segunda
Guerra Mundial o princípio marcadamente cristão da “autoridade de cima”
foi substituído pelo conceito democrático de autoridade, que é “de
baixo”. Os atuais detentores de autoridade encontram-se embaixo, os
valores apresentados às massas geralmente também vêm “de baixo”. Devido à
erosão dos valores cristãos, a autoridade “de cima” tem pouco poder
para se impor. Quando as autoridades defendem valores claramente
cristãos, são massivamente atacadas na mídia e na política (por exemplo:
o político católico Rocco Buttiglione, que em 2004 condenou a
homossexualidade por considerá-la contra a Criação. Por causa dessa
declaração, não conseguiu tomar posse em seu cargo na Comissão da União
Européia). Uma mudança nessa tendência não está à vista. Seria muita
ingenuidade acreditar que a forma de organização democrática de muitos
países representaria uma proteção eficaz contra os enganos dos tempos
finais. Quem avalia realisticamente o desenvolvimento espiritual do
mundo ocidental, especialmente da Europa, não pode esperar por uma
reviravolta. Por isso, impõe-se a pergunta: O que nos espera?
Abandonando as ilusões: pessoas que se posicionam do lado de Jesus
Cristo como Deus, que se firmam na Bíblia como Palavra de Deus e são a
favor do verdadeiro significado da uma obediência singela a essa
Palavra, enfrentarão tempos cada vez mais difíceis. Wim Malgo, fundador
da Chamada da Meia-Noite, já dizia na década de 1960 que a Europa se
transformaria em uma região onde a vida seria difícil para os
verdadeiros seguidores de Jesus. As décadas transcorridas desde então só
validaram seu prognóstico em todas as áreas. Como estamos nos equipando
para os desafios que esperam por nós?
Enfrentando os desafios da nossa época
O próprio Senhor Jesus dá três conselhos à geração-“Laodicéia”, que é
a nossa. Se obedecermos a esses conselhos não falharemos como cristão
nem seremos envergonhados diante do Senhor:
• “Aconselho-te que de mim compres... colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas” (Ap 3.18).
Essa é uma exortação a uma auto-avaliação sóbria e consciente.
Precisamos ficar de olhos bem abertos. Se medirmos honestamente nossa
vida prática segundo os parâmetros da sagrada Palavra de Deus,
constataremos que somos muito mais débeis espiritualmente do que nossa
percepção nos sugere. Essa clareza na auto-avaliação é dolorida, mas nos
livra da ilusão acerca de nós mesmos, marca tão característica de
Laodicéia (Ap 3.17).
• “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres” (Ap 3.18).
O fogo é um símbolo da provação que purifica, cristaliza e aglutina
aquilo que é precioso. Ser fiel ao Senhor e à Sua Palavra nos
proporcionará sofrimento em uma época cada vez mais anticristã. Para um
crente sincero e comprometido, esse fogo terá apenas o efeito de
purificá-lo mais e mais e de aumentar o tesouro de sua fé.
• “Aconselho-te que compres de mim... vestiduras brancas para te
vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez” (Ap
3.18). Depois que já recebemos as vestes de justiça pela fé no
Senhor Jesus Cristo como dom da graça de Deus, comprar vestiduras
brancas significa uma exortação à obediência prática e ao afastamento do
mundanismo, tão típico da era de Laodicéia.
Assim, além desses corretivos evidentes na Palavra de Deus para nossa
época, devemos nos preocupar com as pessoas ao nosso redor que ainda
não conhecem a Jesus como Salvador, levando-lhes, com muito amor, o
Evangelho claro e autêntico. Quanto mais nos rejeitarem por causa de
Jesus, mais mansamente devemos reagir. Nossa geração tem a possibilidade
de aprender de uma maneira toda nova o que significa “seguir o Cordeiro
por onde quer que vá”, como fazia o grupo mencionado em Apocalipse
14.4. Somos seguidores do Cordeiro. Ele nos guia, Ele é nossa
autoridade. Isso nos coloca em descompasso com nossa época. Mas,
coloca-nos também em um contexto de bênção, permitindo-nos usufruir
privilégios que o mundo desconhece. (Peter Bertschinger - Chamada.com.br)
fonte:http://www.chamada.com.br/mensagens/democracia_tempos_finais.html
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