A história da Torre de Babel, situada logo no início na pré-história, é
um dos acontecimentos que mudaram a história da humanidade, que ilustra
muito bem o que pode dar errado nas
civilizações e nas sociedades.
A curta narrativa contada em apenas nove versos é uma obra-prima compacta de literatura e virtuosidade filosófica. A primeira característica notável é sua precisa descrição histórica.
A torre, também chamada de zigurate, era o maior símbolo das cidades estados do vale do Tigre-Eufrates, na antiga Mesopotâmia, o berço da civilização. Foi neste local que os primeiros grupos humanos se fixaram, desenvolveram a agricultura e passaram a construir cidades.
A curta narrativa contada em apenas nove versos é uma obra-prima compacta de literatura e virtuosidade filosófica. A primeira característica notável é sua precisa descrição histórica.
A torre, também chamada de zigurate, era o maior símbolo das cidades estados do vale do Tigre-Eufrates, na antiga Mesopotâmia, o berço da civilização. Foi neste local que os primeiros grupos humanos se fixaram, desenvolveram a agricultura e passaram a construir cidades.
E o Gênesis chama a atenção para a habilidade que
possuíam de fabricar materiais de construção, especialmente tijolos (não
só tijolos, mas também a roda, o arco
e o calendário). Os tijolos eram feitos de barro, cozidos ao sol ou
queimados ao forno, "E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o
tijolo por pedra, e o betume por cal". Gênesis 11:3.
Este conhecimento tornou possível a construção de
prédios em grande escala, atingindo alturas jamais vistas até aquele
momento. Apartir daí que o zigurate
começou a crescer em tamanho, com vários níveis de muitos andares e
milhares de degraus para se chegar ao seu topo, e que possuía um
significado religioso profundo.
Essas torres, em sua essência (as ruínas de pelo
menos trinta foram descobertas), configuravam-se em "montes santos"
construídos pelo homem, onde o céu e a
terra pareciam se encontrar.
"E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus," Gênesis 11:4.
Inscrições encontradas nestas construções, que
foram decodificadas por arqueologistas, se referiam à idéia de seu topo
"atingindo os céus". O maior deles,
o grande zigurate de Babel do qual fala o Gênesis, era um edifício de
sete andares com 91,44 metros de altura, uma construção sem precedentes
para a época.
A história da Torre de Babel não é apenas precisa
em descrever os fatos e o meio histórico-cultural em que se desenvolve a
narrativa. Está repleta também de
recursos literários, inversões e jogos de palavras no original hebraico.
Isso porque a maioria das palavras em hebraico, podem ser quebradas e
reduzidas à sua raiz, à matriz de cada
palavra, composta de três consoantes, que contém a essência do
significado daquela palavra.
Um exemplo que ilustra bem essa característica do
hebraico escrito é o familiar ensinamento Talmúdico que nota a
similaridade entre as palavras banayikh
(seus filhos) e bonayikh (seus construtores), e sugere que Isaías 54:13 "E todos os teus filhos/construtores serão estudantes do Senhor; e a paz de teus
filhos/construtores será abundante", o que indica que todos aqueles que estudam a palavra de Deus são chamados construtores da paz.
Voltando ao Gênesis, um dos recursos literários
mais notadamente conhecidos no texto, tem a ver com o jogo de inversão
de palavras da raiz hebraica
l-v-n, "tijolos", com n-v-l, "confusão", que são precisamente inversões uma da outra. Essa técnica literária está relacionada a uma mensagem moral e
espiritual muito importante no Gênesis.
Neste caso, o jogo de palavras chama a atenção
para o fenômeno da inversão de papéis entre o divino e o humano, uma
certa tendência entre os descendentes de
Adão. O resultado do comportamento humano resulta frequentemente no
oposto do que foi intencionado.
Os construtores queriam concentrar a humanidade em um só lugar "e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra"
Gênesis 11:4. O resultado foi que eles foram dispersados por todo o mundo. "Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a
cidade" Gênesis 11:8. Eles queriam e fizeram um "nome" para eles mesmos, mas o nome Babel tornou-se o símbolo eterno de confusão.
A Confusão das Línguas Impediu a Construção da Torre de Babel.
A Confusão das Línguas
E eles estavam super orgulhosos na sua mais
recente descoberta tecnológica, a capacidade de construir edifícios em
uma escala nunca vista até aquele ponto. Eles
só não sabiam que o maior poder criativo de todos é a linguagem e não o
conhecimento técnico.
Através da linguagem nós formamos nossas idéias
imaginativas, construímos possibilidades e convocamos outras pessoas
para nos ajudar a torná-las em realidade.
As palavras precedem o trabalho. Não foi um problema técnico que
impossibilitou a continuação da construção da Torre de Babel, mas a
inabilidade de se comunicar.
Nesta narrativa, podemos encontrar algumas
palavras que nos trazem ricos significados espirituais. A primeira está
na frase que abre e fecha este episódio,
kol ha-aretz, "toda a terra". "E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala" Gênesis 11:1.
A outra palavra é o vocábulo hebraico shamayim, "céus",
o lugar que os construtores da Torre de Babel tentavam profanar. A
temática do texto
bíblico fica então bem clara, esta é uma história sobre céu e terra, o
que faz com que retornemos ao capítulo 1 do Gênesis, onde vemos Deus
criando os céus (shamayim)
, e a terra (aretz).
A descrição da criação em Gênesis 1 fala mais da
bondade de Deus em criar um universo bom e cheio de ordem, do que sobre o
seu poder. Os antigos pagãos orientais
viam o mundo como um lugar cheio de perigos, maldades, ameaças,
desastres, fomes e dilúvios. O universo que enxergavam, era o resultado
de batalhas entre poderes cósmicos,
personificados por conflitos entre os "deuses".
Mas há uma outra palavra chave envolvida na criação, sua raiz hebraica é b-d-l, "separar, dividir, distinguir",
que aparece cinco vezes no
capítulo 1 de Gênesis, e que traz importantes verdades sobre a criação. A
bondade da criação reside na ordem e na ordenação dos elementos,
representados por fronteiras e separações.
Deus separou diferentes domínios.
No primeiro dia - luz e trevas; no segundo - águas
acima da expansão e águas abaixo; no terceiro dia - dia e noite; no
quarto dia - sol e lua; no quinto -
pássaros e peixes; no sexto dia - animais e a espécie humana. Cada
domínio foi preenchido com formas de vida apropriadas aos respectivos
ambientes.
A visão que o Gênesis passa é que ordem é sinônimo de bondade. O mal é desordem. A palavra het, "pecado", vem de um verbo que significa "errar o
alvo". A palavra avera, "transgressão", significa "ultrapassar os limites e entrar em um local proibido". Muitos dos hukkim, "estatutos", dos
hebreus são sobre o ensinamento do respeito que devemos ter pela ordem natural estabelecida no universo.
A própria criação trouxe ordem ao caos em que os
elementos estavam no princípio. O físico Gerald Schroeder, afirma que
esta ordenação do universo está presente
implicitamente nas palavras hebraicas erev (tarde) e boker (manhã). "E foi a tarde (erev) e a manhã (boker), o dia primeiro" Gênesis 1:5.
Erev em
hebraico significa "uma mistura sem diferenciação de elementos". Boker
vem de uma raiz que tem por significado "refletir, contemplar, buscar
esclarecer".
Os Homens Queriam Ser Divinos em Babel.
Ordem e Bondade
Um universo ordenado é um universo de paz, em que
cada ser, seja ele humano ou inanimado, tem o seu lugar apropriado.
Violência, injustiça e conflito são formas
de desordem - fracassos em respeitar a integridade das diferentes formas
de vida e de cada pessoa.
No mundo mitológico, contra o qual as escrituras
sempre protestaram, nenhum limite é respeitado. Lá, deuses e humanos se
confundem. Há homens deuses e
semi-deuses. E ainda há seres estranhos, híbridos, metade humanos e
metade animais.
Esse era o estado em que estava o universo antes do dilúvio, quando "viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido
o seu caminho sobre a terra" Gênesis 6:12.
Estas quebras de barreiras e de domínios é que
trazem o caos e a desordem. Deus criou os limites para trazer ordem e
bondade, o homem frequentemente quebra
estes limites, e com isso cria o caos, gerando resultados
inevitavelmente destrutivos.
O limite mais fundamental que Deus criou foi a
diferenciação entre o céu e a terra. Deus não pode ser representado por
nada do que há na terra. "Os céus
são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos filhos dos homens" Salmos 115:16. Esta divisão ontológica é fundamental: Deus é Deus, homem é homem. Ninguém pode cruzar esta
fronteira.
Este foi o maior pecado dos construtores da Torre
de Babel. Sua aspiração em "atingir os céus" era risível, e o Gênesis
com seus jogos de palavras e inversões,
faz piada deles. Uma construção com 91,44 metros e eles pensavam que
tinham chegado "aos céus". Era realmente risível a pretensão que eles
tinham em se tornar seres divinos.
Intoxicados pela sua proeza tecnológica,
acreditavam que eles tinham se tornado "deuses" e poderiam construir seu
próprio mini-universo. E não se contentando em
dominar a terra apenas, agora partem para invadir o domínio divino. Este
é um erro que muitas civilizações cometeram e o resultado foi
catastrófico. O espírito de Babel esteve
presente e ainda está, em muitas ações humanas na história.
Um exemplo recente que temos, é o deixado pelos nazistas, que se intitulavam "raça pura, ariana, divina", e veja todos os crimes que cometeram.
Quando seres humanos tentam ser mais do que humanos, eles rapidamente se tornam desumanos. Graças a Deus, somente Ele é Deus, pois somente quando aceitamos que Ele é
Deus, é que podemos ser totalmente o que somos, humanos, e exercer toda a nossa humanidade.
E assim mantemos a distinção do céu e da terra,
organizando a terra sempre debaixo da consciente soberania dos céus.
Somente quando respeitamos os limites da
criação é que impedimos os seres humanos de destruírem-se mutuamente, na
ânsia utópica de serem reconhecidos como seres mais "altos", "divinos",
de "raça superior".
O mundo que Deus criou é um mundo de limites, e o ser humano tem limites e tem que respeitar a ordenação dada à criação.
fonte:http://www.rudecruz.com/estudos-biblicos/antigo-testamento/genesis/a-historia-da-torre-de-babel-estudo-biblico.php
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