que era apenas uma vaga esperança, um sonho
distante, parte da tradição passada de pai pra filho, agora toma
significado e se torna em real aspiração, tangível
e palpável:
Redenção – uma palavra que não mais se referia a
um conceito abstrato – ela agora fazia parte dos sonhos, das aspirações e
do vocabulário do povo de Deus.
“Até quando?”, se perguntavam os filhos de Israel.
E Algo de novo ocorre. Finalmente ouvem-se boas novas que trazem
esperança ao coração da nação. O povo
começa a acreditar que o fim do longo exílio e escravidão no Egito está
próximo de acabar: Moisés chegou. Os céus tem mandado um advogado em
favor do seu povo.
E ainda mais, Moisés iria persuadir, convencer e
mesmo ameaçar Faraó, até que todos os Israelitas estivessem em total
liberdade. Uma grande expectativa toma
conta do povo. Os anciãos se reúnem com Moisés, o povo acredita e dá
ouvidos à mensagem de Moisés e Arão.
“Então foram Moisés e Arão, e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel. E Arão falou todas as palavras que o Senhor falara a Moisés e fez os sinais perante os olhos do povo.
E o povo creu; e quando ouviram que o Senhor visitava aos filhos de Israel, e que via a sua aflição, inclinaram-se, e adoraram.” Êxodo 4:29-31
Sonhos e Desapontamentos
Mas de repente, todos os seus sonhos são
esmagados! O seu lindo sonho de liberdade se transforma em um horrível
pesadelo, com trabalhos forçados ainda mais
intensos do que a miséria que eles vinham convivendo até aquele ponto. A
escravidão continuaria, e o sofrimento aumentaria.
Eles teriam que produzir a mesma quantidade de
tijolos, mesmo que os Egípcios nãos lhes fornecessem mais os materiais
necessários.
“Daqui em diante não torneis a dar palha[ תֶּבֶן teben ] ao povo, para fazer tijolos, como fizestes antes: vão eles mesmos, e colham palha para si.
E lhes imporeis a conta dos tijolos que fizeram antes; nada diminuireis dela, porque eles estão ociosos; por isso clamam, dizendo: Vamos, sacrifiquemos ao nosso Deus.” Êxodo 5:7-8
Assim, a situação dos Hebreus, antes de sua
Libertação, se torna terrível e ainda mais triste. Somente quando eles
perdem a esperança no seu sonho de redenção
é que o povo de Deus finalmente seria libertado. Porque esses
acontecimentos se dariam dessa forma?
Não seria aquele enorme sofrimento que eles vinham enfrentando, suficiente?
“E foram açoitados os oficiais dos filhos de Israel, que os exatores de Faraó tinham posto sobre eles, dizendo estes: Por que não acabastes vossa tarefa, fazendo tijolos como antes, assim também ontem e hoje?” Êxodo 5:14
E mais, os principais do povo de Israel são
açoitados para pressionar o povo a produzir a mesma quantidade de
tijolos, mesmo sem receber a palha, que era o
material essencial para a produção.
Não havendo solução para o caso, o povo sai por
todas as partes do Egito, a fim de encontrar e recolher a palha
necessária para se produzir os tijolos que
Faraó demandava.
“Então o povo se espalhou por toda a terra do Egito, a colher [ לְקֹשֵׁשׁ le kosheish ] restolho em lugar de palha.” Êxodo 5:12
É interessante conhecermos estes termos hebraicos e
seus significados para podermos entender o que estava ocorrendo nesta
passagem. Veja que Moisés, cumprindo
um mandado divino, foi a Faraó demandando que ele libertasse o povo de
Israel.
Mas Faraó desdenha de Moisés, Arão e de Deus, e aumenta o sofrimento do povo, não fornecendo mais a palha necessária para a fabricação dos
tijolos, exigindo que os hebreus a coletassem e dessem conta do mesmo número de tijolos que costumeiramente eles produziam.
A palavra usada para o termo "palha" em hebraico é תֶּבֶן “teben”. E a palavra que descreve a coleta de palha no Êxodo 5:12 é
קֹשֵׁשׁ kosheish, derivada da raiz קַשׁ “kash” – uma outra palavra que também significa “palha”.
E esta mesma palavra aparece novamente na Torá no livro de במדבר Bamidbar – Números – quando os Israelitas que estavam no deserto, próximos
da Terra Prometida, encontraram um homem ajuntando lenha no deserto, no dia de sábado, coisa que, na época da Lei, não era lícito fazer.
“Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha [ מְקֹשֵׁשׁ mekosheish ] no dia de sábado.” Números 15:32
“E os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés e a Arão, e a toda a congregação.” Números 15:33
O homem, cujo nome não é revelado, é descrito pelo texto original como um “mekosheish”. E nesse caso “mekosheish”
é conjugado
no sentido progressivo, no gerúndio, “apanhando lenha”, mesmo com todos
os pedidos e avisos de que não se podia praticar tal trabalho no dia de
sábado.
O mais interessante nesta passagem é que a palavra mais adequada, para descrever o ato de ajuntar lenha, seria אֹ֖סֶף “osef”, e não
“mekosheish”. “Osef” indica o ato de se recolher lenha. Já “mekosheish” é especificamente usada para recolher “palha”.
Além disso, o texto de Números 15:32 é bem claro quanto a transgressão daquele homem – estava coletando lenha no dia de sábado.
Então, por que um termo que está ligado à palavra “palha” é usado, se na prática, o que ele recolheu foi lenha? Aqui
parece que as escrituras querem trazer um importante ensinamento. A escolha da palavra “mekosheish” foi feita de propósito, de forma arbitrária
A Torá emprega esta palavra para conectar a
passagem do “coletor de lenha” com a coleta de palha que os escravos
hebreus tiveram que fazer, bem lá no início do livro
do Êxodo.
E por que isso? Vamos nos lembrar das
circunstâncias que cercavam o homem que foi encontrado coletando lenha
no sábado – o mekosheish. Os hebreus estavam,
sob a liderança de Moisés, indo em direção à Terra Prometida, a Terra
que Mana leite e Mel.
E Deus havia mandado que Moisés enviasse espias, para ver a grandeza da terra e toda potencialidade, toda beleza, de como era agradável e
desejosa a terra que o Senhor faria com que os filhos de Israel herdassem.
Pois bem, os espias, ao voltarem da terra de
canaã, depois de quarenta dias explorando os seus termos, viram o quanto
era boa a terra. Porém eles de forma
maldosa cometem o pecado de לשון הרע “lashon ha'ra”, maledicência (usar fatos verdadeiros com um propósito maléfico):
“E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto. O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Anaque.
Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam junto do mar, e pela margem do Jordão. Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e disse: Certamente subiremos e a possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela.
Porém, os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. E infamaram a terra que tinham espiado, dizendo aos filhos de Israel: A terra, pela qual passamos a espiá-la, é terra que consome os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura.
Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos.” Números 13:27-33 “Então toda a congregação levantou a sua voz; e o povo chorou naquela noite.
E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na terra do Egito! ou, mesmo neste deserto!” Números 14:1-2
E, por causa das palavras dos espias, o povo se
rebela contra Moisés e Arão, e começam a tomar o caminho em direção para
voltarem ao Egito, e ainda tentam
apedrejar a Moisés e Arão.
Pelo que a Ira de Deus se acendeu de tal forma que
Ele jurou por si mesmo que aquela geração não entraria no seu descanso,
na Terra que Mana Leite e Mel, mas
que eles pereceriam no deserto, peregrinando por quarenta anos, e os
filhos deles é quem entrariam e possuiriam a Terra.
E Moisés transmitiu estas palavras do Senhor ao povo, e houve grande tristeza e desânimo no meio do povo:
“E falou Moisés estas palavras a todos os filhos de Israel; então o povo se contristou muito.” Números 14:39
Novamente, as esperanças de liberdade, de redenção
sofrem uma reviravolta. O coração dos Israelitas está de novo quebrado.
Eles estavam tão perto de entrar
na terra que Deus havia prometido a Abraão, Isaque e Jacó, mas agora
teriam que sofrer por mais quarenta anos em peregrinação pelo deserto. O desânimo tomou conta do
povo.
O Poder de Deus se Aperfeiçoa na Fraqueza
Muitos ficaram deprimidos, achando que tinham
perdido a esperança e que o sonho de possuir a terra prometida havia
acabado. E é neste contexto, que a Torá
faz a ligação entre o fato do homem que foi pego ajuntando lenha no
sábado, usando uma palavra não muito adequada, pois era específica para descrever o ato de se ajuntar
palha.
As escrituras queriam lembrar da história da
redenção, lá no seu início, quando da mesma forma, após Moisés falar com
Faraó para libertar o povo, houve
igualmente uma reviravolta, e o sofrimento aumentou, as esperanças
também haviam ido embora.
O povo também naquela ocasião ficou aflito e
oprimido. Mas a providência de Deus, com sua mão forte os arrancou da
escravidão do Egito, e o nome do Senhor
foi glorificado
A “imagem da palha” foi muito importante após o episódio dos espias, pois revigorou a esperança do povo de Deus, que continuou a sua jornada
por quarenta anos, até que possuíram a terra.
Deus sempre tem uma saída para o seu povo!
É assim, muitas vezes nós passamos pela dor de ver nossas esperanças esmagadas, e nossas aspirações desapontadas. Há situações que esperávamos
que finalmente obteríamos a nossa “vitória” , e reviravoltas acontecem, nossos sonhos ficam distantes, e acabamos “recolhendo palha”.
Naturalmente, somos humanos, temos fraquezas.
Moisés também tinha. A ideia relacionada à palha era da impotência de
Moisés. Uma reafirmação segura de que era
Deus quem realizava os milagres e não Moisés.
Com certeza Deus quer nos ensinar nessa passagem
que a nossa redenção não vem de outro lugar, a não ser Dele. Veja o que
Moisés diz a Deus após o sofrimento
do povo aumentar, quando eles foram obrigados a recolher palha:
“Então, tornando-se Moisés ao Senhor, disse: Senhor! por que fizeste mal a este povo? por que me enviaste?
Porque desde que me apresentei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo; e de nenhuma sorte livraste o teu povo.” Êxodo 5:22-23
“Falou mais Deus a Moisés, e disse: Eu sou o Senhor.
E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente conhecido. Êxodo 6:2-3
E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios;” Êxodo 6:7
Não seria pela mão de Moisés que o povo seria
libertado, era Deus, o Senhor, Ele é o libertador do Seu povo. O
recolhimento da palha só evidenciou a fraqueza
de Moisés e do povo, porém é na fraqueza que a FORÇA de Deus se manifesta.
Deus usa os fracos para confundir os fortes. Deus usa as coisas loucas desse mundo pra confundir as sábias.
“E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” 2 Coríntios 12:9
“Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.” 2 Coríntios 11:30
Se pela palavra de Moisés, Faraó tivesse libertado
o povo, então certamente eles se glorificariam em Moisés. Mas não é
assim. Não podemos nos gloriar na nossa
força, muito pelo contrário, quando nos gloriamos nas nossas fraquezas,
deixamos claro que é Deus quem age por nós.
Por isso Ele diz:
“E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus”
Deus quer lutar as nossas guerras, e vencer as
nossas batalhas, basta que confiemos no Senhor. Nós temos fraquezas, e
se temos que nos gloriar de alguma coisa,
não é da nossa força, mas sim das nossas fraquezas, e se necessário for,
“recolher palhas”, Deus ao seu tempo exaltará aquele que se humilha aos seus pés.
“Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;” 1 Pedro 5:6
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