“Então disse Moisés ao Senhor: Ah, meu
Senhor! eu não sou homem eloqüente, nem de ontem nem de anteontem, nem
ainda desde que tens falado ao teu servo;
porque sou pesado de boca e pesado de língua.” Êxodo 4:10
Desde o seu chamado para liderar o povo de Israel,
no episódio da Sarça Ardente, Moisés expõe uma objeção, baseada em um
aparente impedimento de falar bem em
público.
Muitos autores e intérpretes do Antigo Testamento tomam esta passagem como base para sugerir que Moisés era gago.
Este texto realmente encerra em seus versos fato
muito curioso. Aqui nós vemos Moisés se referir a ele mesmo como sendo
homem “pesado de boca”. Qual seria a
real fonte do impedimento de Moisés a falar com os Israelitas?
E há algo ainda mais curioso nesta história:
Porque Deus não respondeu a objeção de Moisés com imediata cura de sua
dificuldade, ou, quem sabe, possível
enfermidade? Certamente tal cura seria uma resposta mais direta do que
enviar Arão, irmão de Moisés, como seu porta-voz.
E porque Deus escolhe um indivíduo que tem
dificuldade de falar, para uma posição onde a habilidade de falar em
público era tão crucial? Será que há
significâncias nas camadas mais profundas dessa passagem?
"Ah, Meu Senhor, Sou Pesado de Boca e Pesado de Língua".
Seja qual fosse a origem da dificuldade de Moisés
em falar, a maioria dos estudiosos do Êxodo acreditam que era algo real e
físico. Porque então Deus não o cura
de imediato? Rambam sugere que Deus não aliviou a dificuldade de Moisés
porque Moisés, esperando que Deus escolheria outra pessoa, não faz
nenhum pedido por sua cura.
O homem tem de trabalhar em parceria com Deus,
como meio de mudar o seu próprio destino. Moisés, neste primeiro
momento, falha em orar e pedir a Deus por sua
cura, e usa a sua dificuldade como impedimento a receber o chamado
divino.
Força na Fraqueza
O Rabino Nissim ben Reuven em sua surpreendente interpretação, afirma que a dificuldade de Moisés para falar (pesado de boca e de língua), na verdade
servia como uma espécie de qualificação para a liderança. Deus, dizia Reuven, quer a Sua mensagem sendo entregue ao povo, mais do que a eloquência do mensageiro.
A história tem provado que oradores poderosos e
articulados, naturalmente conseguem persuadir seu público a acreditar
mesmo em mentiras, como se verdade fossem.
No caso de Moisés, a verdade seria aceita não pela eloquência, mas por causa da substância da mensagem.
Moisés Era Gago?
Samuel ben Meir, que sempre seguia a percepção da peshat (o sentido literal do texto), entendia que a suposta dificuldade de Moisés para falar não
era de origem física. A insistência de Moisés em dizer que era “pesado de boca e de língua” era a simples referência ao fato de que ele não mais tinha a habilidade de se
adaptar à língua egípcia e suas nuances.
“Eu deixei o Egito ainda jovem, e agora tenho oitenta anos. Certamente o Senhor encontrará alguém melhor para liderar o Seu povo.” Ilustração.
Se seguirmos o caminho sugerido por Samuel Meir, e
aceitarmos que a dificuldade de Moisés não era física, veremos surgir
uma outra abordagem sobre o seu
impedimento, “sou homem pesado de boca e de língua”.
Aqui, talvez, Moisés não estivesse se referindo à
dificuldade física de articular palavras com sua boca e língua, mas
poderia estar aludindo a um fato mais
profundo. A palavra original em hebraico que a Torá usa para o termo “pesado”, que Moisés usa em sua fala, é כְבַד kaved – “ser difícil, ser severo, ser
pesado”.
“Então disse Moisés ao SENHOR; Ah! Senhor! eu não sou homem eloquente nem de ontem, nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado [כְבַד kaved ] de boca, e pesado de língua.”
Era como se Moisés estivesse dizendo que:
“Eu falo o que penso, da forma como vejo as coisas. Não tenho habilidades diplomáticas, sou direto, falo aquilo que se passa no meu coração, não escolho palavras, falo a verdade doa a quem doer. Como eu poderia ser então enviado para falar a um rei (faraó) e a influenciar todo um povo?”
Isso era uma referência a não somente a forma de
Moisés falar, mas também a sua filosofia de vida. Segundo a Tradição
Talmúdica, o resumo dos ideais de Moisés
dizia, “deixe a Lei cortar a montanha”.
O quadro que a Torá pinta de Moisés é de um homem
honesto ao extremo. Um homem que acredita que o que é certo é certo, e
que a verdade deve ser buscada a todo
custo.
Arão e Moisés – Escolha Perfeita
Neste caso, a providência de Arão para acompanhar
Moisés, pode ser vista como um complemento perfeito. Arão é tudo que seu
irmão não é. Bondoso e sensitivo,
Arão é um homem que ama a paz, que busca a paz e que cria a paz entre o
homem e seus amigos.
Arão serve não apenas como porta-voz de Moisés,
mas também como uma influência que contrabalança na liderança do povo.
Deus claramente unia a forte retidão de
Moisés, com a suavidade do caráter sensível de Arão.
Superando as Limitações
Em uma outra interpretação, se nós retornarmos à
posição de que a dificuldade de Moisés em falar era de origem física,
vemos emergir uma outra razão para sua
escolha como o líder que libertaria os filhos de Israel: Deus quer que a luta pessoal de Moisés, com suas limitações, seja um exemplo eterno para o seu povo.
Se os Israelitas veem que o seu maior líder tem
defeitos, eles irão entender que perfeição não é um pré-requisito para o
cumprimento de sua missão com
sucesso.
Testemunhando a luta de Moisés para superar suas
limitações físicas, eles aprenderão sobre a natureza do espírito humano,
quando não quer se deixar derrotar
facilmente.
O Homem Olha o Exterior, mas Deus Vê o Coração.
É possível superar dificuldades, e crescer tanto
humanamente como espiritualmente. A jornada de Moisés, que começou como
homem “pesado de boca e de língua”
chegando à linda eloquência no livro de Deuteronômio, nos dão um fiel
exemplo para seguirmos.
Enxergando Além das Aparências
Através da escolha de Moisés por Deus, nós somos
ensinados que não se deve desprezar uma pessoa por causa de suas
aparentes fraquezas, ou mesmo por defeitos
físicos.
Se a escolha de Moisés tivesse se baseado em
requisitos humanos, certamente ele teria sido descartado. Afinal de
contas, quem selecionaria alguém que era
“pesado de boca” para uma missão que dependia tanto de falar em público?
Mas graças a Deus que Ele, o Senhor, foi quem fez a
escolha. Escolhendo Moisés, Deus nos relembra da vasta extensão do
potencial humano que frequentemente está
dentro de cada um de nós, escondido da visão superficial.
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” 1 Samuel 16:7
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