Os futuristas estão
divididos: o discurso do Monte das Oliveiras (o Sermão Profético de Jesus –
N.R.) já foi parcialmente cumprido? A discordância polariza-se neste ponto: Mateus
24.4-14 descreve características gerais do período da Igreja ou tão somente
dos sete anos da Tribulação vindoura?
Esses versículos
falam de “guerras e rumores de guerras”
(v. 6); “fomes e terremotos” (v. 7); tribulação, martírio, traição, ódio, falsos profetas e corrupção (vv. 9-12).
Apesar daquilo
que alguns ensinam atualmente, os versículos de 4 a 14 só podem ser escatológicos
e, por vários motivos, só podem estar se referindo aos acontecimentos da primeira
metade da Tribulação.
As Condições
As
condições descritas precisam ser entendidas como julgamentos divinos e não como
desastres “naturais”, seguindo o padrão de revelação estabelecido no Velho Testamento.
Jesus disse que “...tudo isto é o princípio
das dores [literalmente, “dores de parto”] (v. 8). No Velho Testamento a palavra hebraica para “dores de parto”
é usada pelos profetas para simbolizar as terríveis calamidades associadas ao
Dia do Senhor (Is 21.3; Is 26.17-18; Is 66.7; Jr 4.31; Mq 4.10), particularmente
ao “tempo da angústia de Jacó” (Jr 30.6-7), ao qual Jesus faz referência em Mateus
24.21, quando descreve a Grande Tribulação.
Muitos judeus,
nos dias do Segundo Templo, esperavam um tempo de sofrimentos imediatamente antes
do fim. A seita judaica de Qumran (os essênios – N.R.) atribuía a essa angústia
“dores, como de parto”.
Igualmente, o judaísmo
rabínico cita as “dores de parto (em hebraico, chavalim) [relacionadas à vinda] do Messias” como uma série de convulsões
globais que anteciparão a Era Messiânica. No Talmude, a lista dessas condições
desastrosas (espirituais, morais, políticas, sociais e ecológicas – que caracterizam
“a geração em que virá o Filho de Davi”, Sanhedrin 97a) em muito se assemelha à lista de Mateus
24.4-14.
Como o Novo Testamento
indica que a Igreja não enfrentará o juízo preparado por Deus para o Dia do Senhor
(1 Ts 5.9; Ap 3.10), os versículos de Mateus não podem estar descrevendo acontecimentos
da Era da Igreja.
A Seqüência
Em segundo
lugar, Jesus declarou que esses acontecimentos não seriam “o final” do juízo,
mas apenas “o princípio” (v. 8). As dores iniciais serão seguidas de
dores mais intensas, no clímax do parto. Como a Tribulação não virá imediatamente
após o Arrebatamento da Igreja, pois seu início está previsto para o começo da
70ª Semana de Daniel (Dn 9.27), os versículos de Mateus não podem estar descrevendo
acontecimentos da Era da Igreja.
Correlação – Quadro 1 Existe um paralelismo entre certos versículos de Mateus 24 e Lucas 21 com versículos no Apocalipse, conforme mostra este quadro. |
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Condição | Evangelhos | Apocalipse 6 |
Falsos messias/profetas | Mt 24.5,11 | v. 2 |
Guerras | Mt 24.6-7 | vv. 2-4 |
Discórdia internacional | Mt 24.7 | vv. 3-4 |
Fomes | Mt 24.7 | vv. 5-8 |
Epidemias/Pestilência | Lc 21.11 | v.8 |
Perseguição/martírio | Mt 24.9 | vv. 9-11 |
Terremotos | Mt 24.7 | v. 12 |
Fenômenos cósmicos | Lc 21.11 | vv. 12-14 |
Adaptado de “Chronology and Sequential Structure of John’s Revelation” em When the Trumpet Sounds (Thomas Ice e Timothy J. Demy). |
O maior argumento
de que esses versículos se referem ao contexto da Tribulação surge na comparação
dos mesmos (vv. 4-14) com os cinco primeiros selos de juízo em Apocalipse 6
(confira o Quadro 1).
Essas condições
paralelas demonstram que, assim como os selos de Apocalipse 6 são seguidos pelo
juízo mais intenso das trombetas e das taças, o “princípio das dores” descrito em Mateus 24.4-14 vem seguido das
“dores de parto finais”, mais intensas, descritas em Mateus 24.15-26, que culminarão
na vinda do Messias (vv. 27-31).
Além disso, o próprio
Senhor Jesus fez referência à profecia da 70ª Semana de Daniel: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação
de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê, entenda), então, os que
estiverem na Judéia fujam para os montes” (Mt 24.15-16).
Mateus 24.4-14 descreve guerras entre diferentes
nações e reinos, não apenas entre uma única nação (Roma) e Israel, como aconteceu
na Primeira Revolta do povo judeu contra Roma (66-74 d.C.).
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Tanto Mateus quanto
Marcos (Mc 13.14) apontam o texto de Daniel para esclarecimento da profecia feita
no Monte das Oliveiras. Conclui-se que Jesus usa a profecia da 70ª Semana de Daniel
como patamar para os eventos cronológicos apresentados em resposta às perguntas
dos discípulos. Isso também acontece na seção de juízos do livro do Apocalipse
(capítulos 4-19), onde Jesus, o Autor da visão recebida pelo apóstolo João (Ap
1.1), concede-a com divisões estruturalmente semelhantes à 70ª Semana de Daniel.
Colocando os textos
lado a lado (veja o Quadro 2), descobrimos que o “princípio das dores” de Mateus 24.4-14 se ajusta ao juízo dos selos
de Apocalipse 4-6, aonde ambos (1) focalizam eventos terrenos; (2) cabem na primeira
metade da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27a); e (3) culminam na profanação do Templo
(o “abominável da desolação”) tanto em Mateus 24.15 quanto em Marcos 13.14, o
ponto central da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27b).
Em seguida, os
eventos intensificam-se e conduzem às dores de parto finais de Mateus 24.16-26,
que (1) identificam-se com Apocalipse 7-19, (2) enfocam a dimensão celestial, e
(3) culminam no surgimento do “sinal” celestial, que anuncia a vinda do Messias
para julgar o mundo (Mt 24.27-31; Ap 19). Esses acontecimentos cabem na segunda
metade da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27b), que termina na destruição do desolador
do Templo (“o príncipe, que há de vir”, o Anticristo, Dn 9.26).
Se os versículos
de Mateus 24.4-14 predizem sinais da futura Tribulação e tratam principalmente
do povo judeu nesse período, seu cumprimento não pode estar no passado, especificamente,
na queda de Jerusalém em 70 d.C. Ao comparar os eventos descritos nos versículos
torna-se evidente que eles não se identificam com fatos históricos do primeiro século.
A passagem descreve
guerras entre diferentes nações e reinos, não apenas entre uma única nação (Roma)
e Israel, como aconteceu na Primeira Revolta do povo judeu contra Roma (66-74
d.C.).
As Escrituras também
dizem que muitos se levantarão dizendo ser o Cristo (Messias). Mas não existe
evidência histórica de alguém que se declarasse messias no primeiro século, até
Simão Bar-Kokhba (135 d.C.), um único indivíduo.
Esses sinais também
não devem ser usados pela Igreja “como sinais dos tempos”, apontando a aproximação
da volta do Senhor. Muitos cristãos têm usado o aparente aumento de terremotos,
apostasia na Igreja, e o declínio moral generalizado da sociedade como indicadores
de estarmos rapidamente nos aproximando do Arrebatamento e dos últimos dias. Contudo,
o Arrebatamento não será precedido por sinais; e como as dores de parto somente
começarão quando Israel entrar no “tempo
da angústia de Jacó” (e não sabemos quanto tempo isso levará depois do Arrebatamento),
devemos usar de cautela ao tentar prever a aproximação de eventos escatológicos,
baseando-nos na presença dessas condições na era presente.
Na Era da Igreja,
essas condições gerais (apresentadas em 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 3.1-9; 1 Jo 2.18; 1 Jo
4.1-3) servem de alerta quanto a estarmos “nos últimos dias”. Mas durante a Tribulação,
as condições dos versículos 4-14 serão sinais específicos dos tempos finais, e
os judeus convertidos poderão localizar-se dentro da 70ª Semana e perseverar
até o final da Tribulação: “Aquele, porém,
que perseverar até o fim, esse será salvo” – literalmente liberto do cárcere,
quando da vinda do Messias (v. 13).
Correlação – Quadro 2 Há correlação entre o discurso do Monte das Oliveiras e a seção de juízos do livro do Apocalipse (capítulos 4-19) com as divisões estruturais da 70ª Semana de Daniel no Antigo Testamento. Lembre que essa “semana” profética representa sete anos. |
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Primeira Metade da Semana | |
Dn 9.27a | Início, dores de parto (foco terreno) |
Ap 4-6 | Juízo dos selos |
Mt 24.4-14; Mc 13.4-13; Lc 21.8-19 | Sinais preliminares |
Segunda Metade da Semana | |
Dn 9.27b | Eventos principais |
Ap 7-13 | Juízos das trombetas |
Mt 24.15; Mc 13.14-23; Lc 21.20-24 | O abominável da desolação |
Conclusão da Semana | |
Dn 9.27b | Dores de parto finais (foco celestial) |
Ap 14-19 | Juízos das taças |
Mt 24.29-31; Mc 13.24-27; Lc 21.25-28 | A parousia (“presença física”) e o encerramento dos tempos finais |
Adaptado de The Desecration and Restoration of the Temple as an Eschatological Motif in the Tanach, Jewish Apocaliptic Literature and the New Testament (Randall Price). |
Serão esses sinais – especialmente o acontecimento descrito no versículo
15, “o abominável da desolação” – que
permitirão aos santos da Tribulação perseverarem física e espiritualmente enquanto
esperam a libertação prometida para o final da 70ª Semana de Daniel. (Randall Price - Israel My Glory - http://www.chamada.com.br)
Randall Price é
escritor e arqueólogo. Ele
é presidente de World of the Bible Ministries.
Notas:
- Veja John F. Walvoord, Matthew: Thy Kingdom Come (Chicago: Moody Press, 1974).
- Para estudo adicional veja Randall Price, “Old Testament Tribulation Terms”, em When the Trumpet Sounds, ed. Thomas Ice e Timothy J. Demy (Eugene, OR: Harvest House, 1995).
- David H. Stern, Jewish New Testament Commentary (Clarksville, MD: Jewish New Testament Publications, Inc., 1996).
- Thomas Ice, “The Olivet Discourse”, em The End Times Controversy, ed. Tim LaHaye e Thomas Ice (Eugene, OR: Harvest House, 2003).
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