A Samaria de cada dia

 
Wilma Rejane

“E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria” João 4:4

A rota direta da Judéia a Galiléia passava por Samaria. Muitos judeus, porém, corriam por fora dessa rota, por um caminho bem mais longo a fim de evitar o encontro com seus vizinhos samaritanos. Os conflitos se agravavam a cada ano, e por vários motivos, entre os quais: samaritanos reivindicavam descendência israelita, parentesco com Jacó. Eles chegaram a fazer uma versão exclusiva do Pentateuco, pois não concordavam com o destaque dado aos judeus nesses livros. Era uma situação semelhante ao que ocorre hoje entre palestinos e israelitas e na época do ministério de Jesus, o ódio era evidente. Contudo, vamos ler no Evangelho de João que de caminho para a Galiléia, Jesus “teve necessidade de atravessar Samaria”.
Por muitas vezes li essa passagem, mas recentemente ela me falou sobre algo que não tinha visto antes.  Havia em Jesus, uma necessidade de abençoar as pessoas e se Samaria não fazia parte da rota dos judeus, chagara a hora de ela entrar na rota de Jesus para que a animosidade, ódio e outros males fossem extirpados de entre aquele povo. E o ponto de partida para promoção da paz foi o encontro de Jesus com a mulher samaritana, junto ao poço de Jacó.


“Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. A minha comida consiste em fazer a vontade de meu Pai” João 4: 32,34.

Fome é uma necessidade física, mas ao passar por Samaria, Jesus fala de uma necessidade diferente que é espiritual.  E é com o propósito de alimentar  que ao meio dia, um horário em que a cidade estava meio deserta, Ele senta à beira do poço de Jacó. Ele sabia que por todos os dias, uma mulher, como a se esconder dos olhares e falatórios, retirava água naquele lugar. Ela fugia das criticas e assumia sua condição de exclusão.  E desse encontro nasce o que considero um dos mais sublimes diálogos dos Evangelhos: Jesus e a mulher samaritana. Esta sem nome, a procura de uma identidade, de felicidade, enfim é saciada por uma Água que sempre buscou e que no mundo não encontrou.

"Senhor, como sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou samaritana? Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água da vida” João 4:10

E aqui falamos que havia uma necessidade da mulher por ser curada e de Jesus em curá-la. Jesus teve necessidade de atravessar Samaria, e os judeus de sua época, não tinham essa necessidade: por se julgarem melhores, mais dignos.  E Jesus vem e estrategicamente escolhe repousar junto ao poço de Jacó, o coração dos conflitos. Jacó era o trunfo dos samaritanos, o elo mais valioso para justificar o parentesco samaritano – israelitas. E Jesus em conversa com a mulher, mostra que nem o poço, nem a água, eram o elo de nobreza que daria acesso ao Reino de Deus, mas Ele: Jesus.

“Mas vem a hora e já chegou em que os verdadeiros adoradores, adorarão o Pai em espírito e em verdade: porque são estes que o Pai procura” João 10:23

E Jesus procurou aquela samaritana, ela O procurava e por muito tempo. E somente essa necessidade de ser curada, explica a receptividade e prontidão em reconhecer Jesus como profeta e Messias. Era muito estranho ver um judeu em Samaria, ainda mais naquele lugar, naquela hora. Mas aquele não era um judeu comum e aquela não era uma ocasião qualquer.

“Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Não é este, porventura o Cristo? Saíram, pois da cidade e vieram ter com Ele” João 4:29, 30.

Ela deixou o cântaro... A velha vida, a ansiedade, os medos, tudo depositado aos pés de Jesus. Enfim, ela agora sabia que sua identidade não dependia de ser ou não descendente de Jacó, de adorar no monte ou em Jerusalém, mas em seguir ou não Jesus. O cântaro era o depósito de águas rotas, era como a alma da mulher que dia após dia sentia vazio.

Atravessando Samaria
 
Samaritanos eram mestiços, resultado de uma mistura de povos pagãos que colonizaram a região ao longo dos anos. Os judeus os chamavam de imundos e mantinham distância. Se era proibido um judeu, conversar sozinho com uma mulher, sendo samaritana então, era um escândalo! Mas Jesus estava ali anunciando a salvação pela graça, não o legalismo da Lei. A graça que resgata o pecador com o mérito do Salvador.

É maravilhoso ver como as Escrituras nos apresentam os fatos de um modo tão completo e profundo! Ir ao poço de Jacó era uma rotina para a samaritana, mas pelo caminho, e a cada ida e vinda suas dúvidas a respeito de salvação e adoração pareciam não ter respostas! Sua vida era um conflito, tal qual o conflito entre judeus e samaritanos: havia preconceito, idolatria, ignorância, havia sede não apenas física.

Quantos de nós vivemos em Samaria? Com as rotinas de idas e vindas a poços que nada têm a nos oferecer, a não ser a renovação de dias cheios de conflitos interiores e exteriores? Quantos amontoamos cântaros que precisam ser abandonados? 

A samaritana precisou parar, ouvir, falar. Precisou de respostas que a fizeram refletir sobre vida e pecado. Se nós não pararmos em algum momento da vida para refletirmos sobre essas coisas, a vida nos para de um modo imprevisto e talvez sem nos dar tempo para decisões. Mesmo em samaria, fora da rota dos judeus, Jesus foi ao seu encontro e não a condenou, mas a amou.

Acima de qualquer contexto histórico, de qualquer tradição, está a graça Divina, disposta e disponível para acolher os homens. Jesus é a Resposta que preenche nosso ser, por completo. Com Ele a vida ganha novo e seguro sentido. E aquela mulher experimentou o novo nascimento, pela graça e fé de que era possível refazer a vida em novo fundamento. 

E assim será com as samarias de cada dia, porque Deus é hoje e a Sua misericórdia nos alcança qualquer que seja o " fundo do poço".

Deus o abençoe.
 
fonte:http://www.atendanarocha.com/2014/07/a-samaria-de-cada-dia.html#more

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