Wilma Rejane
Hebreus
11:13 Todos esses viveram pela fé e morreram sem receber o que tinha sido
prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram, reconhecendo que eram
estrangeiros e peregrinos na terra.
Por toda
a Bíblia encontramos referência a estrangeiros. A história dos hebreus tem
inicio com um estrangeiro chamado Abraão que sai da cidade de UR dos caldeus em
direção a Canaã. Abraão peregrinou por muitos lugares, assentando tendas,
fazendo projetos e conquistando amizades, sem contudo ter visto de permanência
em qualquer território. Os descendentes dele, de igual modo, viveram como
estrangeiros no Egito até serem libertados por um peregrino chamado Moisés.
"Quando
um estrangeiro peregrinar convosco na vossa terra, não o maltratareis.
Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrinar convosco; amá-lo
eis como a vós mesmos; pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o
Senhor vosso Deus." Levítico 19:33,34
O
ensinamento era para amar o estrangeiro como a vós mesmos porque o
outro,estranho, diferente, peregrino, poderia ser qualquer um. Deveria ser
acolhido em sua estranheza de estrangeiro.
Uma das
traduções para "estrangeiro" na Bíblia é paroikia
(Strong 3940): Forasteiros, estrangeiros, estranhos, hóspede temporário, não
cidadãos, morando como exilado residente.
A
estranheza do estrangeiro consiste no fato de que ele não é dono, nem
natural, mas vive em harmonia e aprendizado em terras alheias. E mais: o
estrangeiro, como citado anteriormente, desafia a amar, a olhar para o outro
como sendo nós mesmos. O fator estrangeiro, imigrante, está diretamente ligado
ao mandamento maior do Reino de Deus que é: "Amar ao próximo como a ti
mesmo" Lucas 10:27.
Deus
disciplinou a nação de Israel, moldou homens, mulheres e crianças, enviando-os
para serem estrangeiros na Babilônia. A saudade da própria terra, dos costumes,
da liberdade, fez com que seus comportamentos mudassem, porque sonhavam com o
retorno. O retorno era a maior e melhor recompensa.
Em
memória do cativeiro Babilônico é que foi escrito o Salmo 137. Um imigrante
descreve o estado de espírito saudoso e choroso provocado pela distância de sua
terra natal:
"Junto
aos rios da Babilônia nos assentamos e choramos, lembrando-nos de Sião. Nos
salgueiros, que há no meio dela, penduramos nossas harpas"Salmo 137:1,2
Os de
Sião estavam aprendendo com a dor da peregrinação o valor da canção, da oração,
da restauração, da transformação do coração.
No Novo Testamento
Há uma
ponte que liga os estrangeiros à sua terra natal. Quem são os estrangeiros e
onde fica essa ponte? Os cristãos são estrangeiros e Cristo é a
ponte.
"Mas
a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor
Jesus Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu
corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as
coisas." Filipenses 3:20-21
"E,
se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de
cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação." I Pedro
1:17
Somos
estrangeiros e é nessa vida que adquirimos o passaporte para eternidade com
Deus. Cidadãos do céu e se assim somos, nossa vida não está resguardada em nada
deste mundo, nossa segurança está em ter a Cristo como mediador, como Ponte
para uma pátria que nos aguarda.
Magnífico
é saber que nossa redenção inclui essa estranheza de ser estrangeiro, porque
Cristo se fez estrangeiro entre nós para nos resgatar para Si:
"Aquele
que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória
como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade." João 1:14
Cristo é
a linguagem Divina. Uma linguagem que se entronizou no mundo dos homens para
dizer que há uma Pátria celeste, Divina que nos aguarda. Deus derramou sobre
nós todas as línguas, no dia de pentecostes, para que nos tornássemos
familiares, estrangeiros falando a linguagem do Cristo.
Permita-me
contar a experiência de Hannah
Arendt, ela diz ter vivido algo notável:
"Quando
eu só sabia uma única língua, a minha, o alemão, tive a impressão de um
universo onde tudo que pudesse ser diferente era um estorvo ao meu pensamento.
E quando conheci as línguas latinas, tive a impressão de uma transformação
incrível! Alterei minha visão de mundo, fui enriquecida na linguagem e na
convivência".
É um
exemplo pessoal mas muito significativo para expressar a riqueza do estrangeiro
que aprende novas línguas. É como se ele deixasse de ser um estranho e passasse
a ser da mesma pátria, por opção, por afinidade, necessidade.
Não é
isso que acontece com os cristãos? Somos estrangeiros nesse mundo, mas como
cidadãos do céu, resgatados por Cristo, aprendemos Sua linguagem, Seu modo de
agir: Por amor, necessidade,afinidade, escolha, por determinação que
seja. O certo é que essa nova linguagem nos dá uma visão diferente da vida, do
outro.
Estrangeiros.
Que palavra precisa para descrever os filhos de Deus, aqueles que não possuem
uma nacionalidade terrena, mas que são naturalizados no céu de glória.
Estrangeiro:
aquele que faz um itinerário sobre si mesmo e sobre o outro em busca de uma
identidade. O outro é ele e ele é o outro, e a identidade é o bem mais precioso
porque nenhum objeto, matéria, país, povos lhe pertence.
Ser
cristão é ser estranho, diferente. É pertencer a Cristo que um dia virá nos
buscar definitivamente. Contudo, é preciso dizer a estranheza da cidadania
terrena e passageira consiste em fazermos a diferença, em sermos representantes
da invisível pátria que está acima de nós.
“Na casa
de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou
preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos
tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.” E
João 14:2-3
Deus
escolheu nos criar do pó dessa terra, o mesmo pó que se adere aos nossos
calçados, a nossa pele, as nossas idas e vindas. E um dia, seremos novamente
pó, o mesmo do qual fomos criados. E quando isso acontecer, que sejamos
acolhidos em nossa pátria natural, de um Pai que nos deu por herança a
incomparável dádiva de viver não mais como estrangeiros, mas como cidadãos
eternos do céu. Lá não haverá mais choro, dor ou sofrimento.
Deus o abençoe.
Bibliografia:
Bíblia de
Estudo Plenitude. Sociedade Bíblica do Brasil, edição revista e corrigida,ano
1995.
Café
Philo.As grandes indagações da Filosofia. Le Nouvel Observateur: Tradução
Procópio Abreu. Rio de Janeiro, Zahar, 1999. pag. 14 e 15.
http://www.atendanarocha.com/2014/08/para-onde-vais-oh-estrangeiro.html#more
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