Um novo olhar sobre a parábola do filho pródigo

 
Wilma Rejane
Reunido com publicanos, fariseus, escribas, trabalhadores comuns da Judeia e mendicantes, Jesus lhes conta uma série de parábolas. Essa parecia ser uma forma simples de se fazer compreender: despertava a curiosidade e atenção dos ouvintes que aguardavam o desfecho, ao tempo em que eram profundamente tocados pela autoridade das Palavras de Jesus. A Parábola do Filho Pródigo faz parte dessa série e está descrita no Evangelho de Lucas 15: 11 a 32.
Já publiquei um estudo sobre essa parábola, mas hoje lanço um novo olhar sobre ela destacando a questão das escolhas que fazemos e suas consequências.

Eis a parábola:

Lucas 15:11-Disse também: “Um homem tinha dois filhos. 12-O mais moço disse a seu pai. Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. 13-Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. 14-Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. 15-Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. 16-Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.  

Os dois filhos são uma referência aos que ouviam a parábola: os religiosos configuravam o filho mais velho, estavam em casa, ou seja, obedeciam aos rituais do judaísmo, julgavam-se filhos fieis de Abraão.

O filho mais novo eram os indoutos, ignorantes que tinham direito a herança no Reino de Deus, porém desperdiçavam essa dádiva por desconhecerem o amor do Pai.

O mais novo reivindica a herança e o pai não faz qualquer objeção, acata sua decisão e divide os bens. Pela lei o primogênito tem direito a uma parte maior dos bens ( dois terços), enquanto o mais novo (um terço).

Orgulho x humildade

O que acontece depois da partilha de bens e do abandono ao lar pelo mais novo é uma série de infortúnios. Ele passa a sobreviver de esmolas, enfrenta fome, frio e sofre bastante até decidir  voltar para casa.

O que teria acontecido se ele  continuasse com  sua vida miserável?  Se não tivesse retornado para  casa e experimentado o amor incomparável de seu pai?  E se o orgulho tivesse tomado conta de seu coração?

Mas a parábola revela que “ele caiu em si e disse: vou voltar para casa de meu pai” (verso 17).

A não objeção do pai em repartir a herança sugere um Deus nos dando a liberdade para decidirmos, escolhermos. Mas esse Deus que não interferiu na escolha pessoal de seu filho mais novo, também sofreu por ele. Aguardou seu retorno para casa e quando isso aconteceu perdoou totalmente tratando-o com alegria e amor.

O pródigo, por sua vez, precisou viver a falta de tudo para poder valorizar aquilo que nunca lhe faltou. Precisou perceber que Deus o havia escolhido como filho, mas ele precisava reconhecê-Lo como Pai.

Nossa vida não é uma predestinação de coisas más ou boas. Assim como fez o pródigo, é preciso “cair em si”, reconhecendo os erros e sendo humilde para se entregar totalmente a Deus. Voltar para casa é uma decisão. Deixar os chiqueiros do pecado é uma decisão. Claro que a justiça e o mérito não terá sido nosso, mas de quem nos recebeu em perdão, de quem nos abraçou no retorno, de quem abriu as portas para que pudéssemos entrar. Deus tem o mérito de toda bondade, sendo Ele mesmo a maior e melhor herança. A herança material não é o verdadeiro tesouro, mas a espiritual.

" E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo."Gálatas 4:6-7.

Havia um tempo determinado para o retorno do filho? Era o tempo do arrependimento, da comoção própria, da humilhação da alma diante do Criador. Sem esse tempo o pródigo teria continuado sua viagem para o abismo.

Os pródigos

Quantos pródigos temos no mundo hoje cheios de orgulho por heranças materiais que um dia acabarão? Quantos vivendo em redutos emporcalhados, mas se recusando a receberem o perdão? Cair em si é um retorno a Deus, a Criação, é um caminho de volta, é nascer de novo pela graça concedida por Cristo Jesus.

“Arrependei-vos”! Dizia João o que batizava no Jordão:

Arrependei-vos = metanoeo (Strong 3340) = mudança de meta, de objetivo, de alvo.

Somos eleitos para viver da graça que nos elegeu e essa graça amorosa também é justa para realizar as consequências das desgraças que escolhemos.

O filho mais velho

É tão triste constatar que ele também estava perdido. Vivia em casa, mas era incapaz de amar, de compreender o amor do Pai. Fariseu. Também precisava “cair em si”, arrepender-se, mudar de direção.

O filho mais velho pode merecer nossa indignação, mas ele não agiu diferente de muitos de nós que atribuí graus de recompensa e balanças injustas conforme a limitada visão do Reino de Deus. Uma visão que muitas vezes ignora que um assassino, marginal, bêbado possa “cair em si” compreendendo e acreditando no plano de Salvação dado aos homens do qual ele pode desfrutar, tendo sua dívida paga.

Outro dado que destaco é que mesmo não tendo reivindicado sua herança, esse irmão a recebeu. Porque a escolha do mais novo o afetou diretamente. Nossas escolhas afetam direta ou indiretamente a sociedade em que vivemos. Não adianta pensarmos que venceremos sozinhos ou perderemos sozinhos, há uma lei de ação e reação que nos alcança.

A mesma casa

“cair em si” foi o ponto chave de mudanças para o filho mais novo. Ele precisou voltar para casa e essa volta também não deve ter sido fácil visto que estava em estado de mendicância. Mas ele se dispôs porque sabia que já tinha errado o bastante. O caminho de volta era o mesmo, a casa, o pai, o irmão, mas ele havia mudado.

O pródigo sabia que as consequências (ou inconsequências) de sua sobrevida eram resultado de suas ecolhas e não da família, das finanças. Eram os frutos podres que causavam toda a lama na qual se afundava .
Para refletirmos: 
 O filho mais novo estava tão cheio de orgulho, incerto nas suas incertezas que não foi capaz de enxergar seus erros. Em Galátas 5:26 está escrito: "Não nos deixemos possuir de vanglória". Vanglória no grego está com o mesmo significado de orgulho "Kenodoxia" =  vaidade, fútil sede por glória.  A glória que ele buscava acarretou-lhe vazio na alma. O humilde arrependimento é que lhe devolveu a alegria de viver e a paz no coração.

E quanto a nós? Com qual dos dois filhos nos identificamos? Temos feitos escolhas dignas de alegrar nosso Pai? A graça, abundante, nos diz que há perdão e nova vida para os que vão se distanciando de casa e abandonando o Pai. A graça diz que Deus, esse Pai, aguarda o retorno de seus filhos sem acusá-los pelas escolhas erradas, mas festejando A escolha correta de "cair em si" e se entregar-se aos Seus cuidados.

Deus Pai nos abençoe.
 
fonte:http://www.atendanarocha.com/2014/08/um-novo-olhar-sobre-parabola-do-filho.html#more

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