Como professor de Bíblia e teologia a
serviço de uma organização evangelística, tive a oportunidade de ouvir
muitos testemunhos pessoais. Durante esses 26 anos de trabalho no
Instituto Bíblico Palavra da Vida nos EUA, impressionou-me a quantidade
de alunos que, apesar de terem nascido num contexto familiar de crentes
em Cristo, só vieram a crer em Jesus bem mais tarde em sua vida. O
assunto ressoa mais forte aos meus ouvidos, porque essa também foi a
minha história. Eu nasci em Halifax, Nova Escócia, numa família de
crentes consagrados a Cristo. Porém, à semelhança dos antigos
israelitas, eu lutava com o problema da incredulidade.
Não consigo me lembrar de uma única vez em que eu, meus irmãos e
minha irmã não estivéssemos vestidos, penteados e prontos para nossa
caminhada dominical rumo à igreja, a fim de participar de um dos cultos.
E lá íamos nós para a igreja. Além disso, o papai, não satisfeito de
participar de todos os cultos de nossa igreja, sempre que havia algum
culto especial em outra igreja levava a família toda.
Ficamos sem carro durante muitos anos e para mim era uma tortura
perder a melhor parte dos meus domingos numa caminhada de 20 ou 30
minutos para a igreja. Finalmente, quando conseguimos um carro, a minha
alegria durou pouco. Meu pai começou um ministério de transporte com
ônibus, numa época em que isso ainda não era comum nas igrejas. Nós
passávamos de ônibus para pegar as pessoas em nosso trajeto para a
igreja e, em seguida, o papai ainda fazia algumas viagens adicionais
para transportar mais famílias para o culto. Com isso, tínhamos que sair
de casa mais cedo do que antes, quando íamos a pé.
Seria ótimo se eu pudesse justificar a minha rejeição do Evangelho,
alegando que nunca me fora pregado, mas esse não era o caso. Culto após
culto, eu pude ouvir as verdades simples do plano da salvação: a de que
eu era um pecador perdido e que Jesus é Deus, o qual vindo ao mundo,
levou sobre Si os meus pecados e recebeu o castigo em meu lugar a fim de
me libertar da condenação e perdição eterna.
No começo, eu ia à frente, na hora do apelo do pregador, para aceitar
Jesus como meu Salvador, pelo menos uma vez por mês. Mas parece que
nunca isso, de fato, acontecia. Eu era tão velhaco que tinha plena
consciência de que meu relacionamento com Deus era péssimo. Parece que
nunca me convertia; na verdade, eu nunca tinha nascido de novo em
Cristo.
Como muitos dos testemunhos que ouvi, eu simplesmente me tornei cada
vez mais frio em relação ao Senhor. Passei a odiar a Fé Cristã e tudo o
que ela significa. Quanto mais eu tentava ser bom e agradar a Deus, mais
eu falhava. A incumbência dava a aparência de ser pesada demais e os
benefícios pareciam mínimos, se é que existiam.
Quando cheguei à adolescência, minha vida entrou “em parafuso” e
virou um caos. Saí de casa; me envolvi com o mundo das drogas; e não
demorou muito para que eu ficasse desempregado, sem teto, perambulando
pelas ruas de Toronto.
Uma Escolha Quase Fatal
Ainda fico intrigado com o fato de que uma pessoa pode ser criada com
todas as oportunidades que eu tive e, mesmo assim, rejeitar o
Evangelho. Como é que eu não entendi isso antes? Eu vi o que o álcool
fizera com outras famílias. Tive contato com lares destruídos e vidas
despedaçadas. Eu fui testemunha da maneira pela qual Cristo fizera a
diferença em nosso próprio lar; no entanto, misteriosamente nada disso
me tocava.
O apóstolo Paulo, de igual modo, estava pasmado com a atitude de Israel:
“Porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por
amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. São israelitas.
Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o
culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o
Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o
sempre. Amém!” (Rm 9.3-5).
O Fator Fé
No Novo Testamento o meio de salvação é o mesmo identificado no Antigo Testamento: Fé.Ao
escrever no Novo Testamento, o apóstolo Paulo demonstra sua convicção
de que o propósito da mensagem central do Pentateuco era o de distinguir
entre uma salvação centrada no homem e uma salvação centrada em Deus.
A cidade de Jerusalém está edificada sobre uma montanha de dois
cumes: um dos cumes é o monte Sião e o outro é o monte Moriá. Em 2
Crônicas 3.1 temos a seguinte informação: “Começou Salomão a edificar a Casa do Senhor em Jerusalém, no monte Moriá”. Esse é o monte onde as Escrituras dizem que Abraão finalmente entendeu e temeu ao Senhor: “Então,
lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois
agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu
único filho” (Gn 22.12).
Moriá foi o lugar da maior prova e da maior vitória de Abraão pela
fé. Abraão, em sua disposição de sacrificar seu filho Isaque, colocava a
promessa de Israel sobre o altar. Portanto, Moriá simboliza a fé e, por
razões óbvias, passou a ser o local do estabelecimento do templo, a
saber, o centro espiritual de todo o povo de Israel e o lugar onde
Israel adoraria o seu Deus.
Entretanto, ao fazer suas declarações mais categóricas sobre o papel
da fé na salvação, o apóstolo Paulo recorre ao livro de Deuteronômio. Em
Romanos 10.6-8, Paulo fez citações de Deuteronômio 30:
“Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu
coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; ou:
Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos.
Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu
coração; isto é, a palavra da fé que pregamos”.
Existe um caminho melhor; um caminho tão próximo quanto o coração e
os lábios, e que não requer pagamento humano de nenhuma espécie; um
caminho que Abraão trilhou, Moisés ordenou e Paulo pregou: a obediência
decorrente da fé.
O texto de Deuteronômio 30 foi escrito para fazer um contraste com o
capítulo 29 que começa com uma assustadora declaração ao Israel
descrente: “Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem
olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje. Quarenta
anos vos conduzi pelo deserto; não envelheceram sobre vós as vossas
vestes, nem se gastou no vosso pé a sandália” (Dt 29.4-5).
Na seqüência, o capítulo 29 prediz os futuros fracassos de Israel e
seus decorrentes castigos. Contudo, Deuteronômio 30 apresenta uma
mensagem absolutamente diferente, uma mensagem de esperança e fé:
“Porque este mandamento que, hoje, te ordeno não é demasiado
difícil, nem está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem
subirá por nós aos céus, que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o
cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além
do mar que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Pois
esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a
cumprires” (Dt 30.11-14).
O mandamento ao qual Moisés se referiu nesse texto não era a Lei
recebida no monte Sinai. Os israelitas nunca conseguiriam cumprir essa
Lei. Moisés lhes falara acerca disso em boa parte do capítulo 29. Esse
mandamento ordena que a pessoa creia, um mandamento personificado pelo
exemplo de Abraão no monte Moriá.
A incredulidade é um senhor cruel. Ela não promete nada, muito menos
liberta; exige o pagamento de tudo, mas nunca entrega o que foi
comprado.
Contudo, existe um caminho melhor; um caminho tão próximo quanto o
coração e os lábios, e que não requer pagamento humano de nenhuma
espécie; um caminho que Abraão trilhou, Moisés ordenou e Paulo pregou: a
obediência decorrente da fé.
O Dia em Que “Funcionou”
Eu não posso afirmar o que havia de diferente naquele dia chuvoso e
frio de novembro de 1969. Eu ainda me drogava e continuava tão rebelde e
rancoroso como sempre fora. Meu pai viera de Halifax à minha procura e
nós estávamos dentro do carro, estacionado numa rua mais tranqüila.
Aparentemente nada tinha mudado. Porém, naquele dia o meu coração
estava diferente. Quando meu pai me perguntou se eu queria receber a
Cristo em minha vida, meu coração e lábios disseram: “sim”. Eu não
hesitei, nem titubeei em tomar a decisão. Parecia óbvio. Foi naquele dia
que me tornei crente em Jesus Cristo.
Acho que eu sempre conhecera o Evangelho e talvez sempre o aceitara
de uma forma intelectual. Todavia, como no caso dos filhos de Israel que
comeram o maná providenciado por Deus e caminharam sobre sandálias que
não se desgastaram no deserto (veja Dt 29.5), o Evangelho nunca fizera
diferença em minha vida.
Naquele dia, ao lado de meu pai, eu estava pronto a concordar com
Deus sobre a minha condição e sobre a provisão que Ele fizera para mim.
Trata-se daquela fé semelhante à de uma criança da qual Jesus fez menção
ao dizer: “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis
no reino dos céus” (Mt 18.3).
Para nós a salvação saiu de graça, mas para o Messias o custo foi
incalculável. Além disso, a salvação nunca está distante e inacessível;
sempre está disponível a todo aquele que, neste exato momento, se
disponha a crer. Entre qualquer um de nós e a salvação eterna não existe
nenhum impedimento que se interponha, exceto um coração descrente. (Marshall Wicks -Israel My Glory - http://www.chamada.com.br)
fonte:http://www.chamada.com.br/mensagens/tao_perto.html
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