Rúben é o maior "poderia ter sido" de todo o Pentateuco.
Isso é revelado por seu pai Jacó, em suas últimas palavras, antes de morrer, e em sua benção final, que nos traz
uma síntese muito rica da perspectiva que ele enxergava cada um dos seus filhos:
"Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o princípio de meu vigor, o mais
excelente em alteza e o mais excelente em poder.
Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porquanto subiste ao leito de teu pai. Então o contaminaste; subiu à
minha cama." Gênesis 49:3-4
Potencial Não Aproveitado
A vida de Rúben escreve uma história de um enorme
potencial não aproveitado, de virtudes não praticadas, de grandeza tão
próxima, mas não alcançada. Nesta
passagem Vayeshev, nós temos alguns flashes, indicações
de como um fracasso desta monta pode ocorrer com um homem que tinha
tudo para herdar a liderança de toda uma
nação, mas que a deixou escapar.
A Torah parece apresentar a vida de Rúben em uma
espécie de descrição "quadro a quadro", mostrando as decisões
equivocadas que ele tomou quando foi confrontado
com desafios que envolviam ética e moralidade.
A passagem bíblica, usa como plano de fundo os
primeiros anos da história de José, filho de Jacó com sua segunda esposa
Raquel. Jacó, um homem que naturalmente
deixa transparecer seus sentimentos, não consegue evitar de mostrar seu
favoritismo por seu filho mais novo, para a decepção geral de seus
outros filhos.
A resenha que temos de José, enquanto adolescente,
não é muito cativante. Ele conta histórias sobre seus irmãos, ao seu
pai. Ele sonha que sua família se curva
diante dele, e pior, ele conta estes sonhos, na presença de todos. José
acaba assim, por adquirir uma "ar" de criança mimada.
Jacó não só tolera o seu comportamento, como também o presenteia com um manto ricamente decorado, a famosa "túnica de várias cores", uma visão
que parecia ser fonte de constante provocação para seus irmãos.
"E Israel amava a José mais do que a todos
os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de
várias cores.
Gênesis 37:3
E aconteceu que, chegando José a seus irmãos, tiraram de José a sua túnica, a túnica de várias cores, que trazia."
Gênesis 37:23
Rúben Salva José da Morte?
A narrativa se aprofunda, e trona-se tensa. Os
irmãos de José estão apascentando as suas ovelhas, bem longe de casa.
Jacó o envia para ver se estava tudo bem
com eles. Todo o futuro dos filhos de Israel estava na dependência de
como este encontro se daria.
Os irmãos de José o avistam ainda ao longe, e a visão do manto de muitas cores causa-lhes inveja e muita raiva.
Eles percebem que estando sozinhos, sem ninguém
que pudesse testemunhar, poderiam matar José e inventar uma história que
não poderia ser contestada. Todos
concordam, apenas Rúben levanta a sua voz e protesta.
E é neste ponto, que a Torah (os livros de Moisés), faz algo que não se repete em nenhum outro episódio nas escrituras.
Ela faz uma afirmação, que construída
literalmente, não é tão verdadeira como deveria ser - aqui funciona
quase que totalmente como uma ironia - "E
ouvindo-o Rúben, livrou-o das suas mãos, e disse: Não lhe tiremos a vida" Gênesis 37:21.
Obviamente, Rúben não "salvou" José da fúria de seus irmãos como se supõe que deveria, ao lermos o texto bíblico acima citado.
O que Rúben faz na realidade, é uma tentativa de
salvar José das mãos de seus irmãos! A frase "E ouvindo-o Rúben,
livrou-o das suas mãos", nos fala daquilo que
poderia ter sido, mas que por uma razão ou outra, não foi.
O plano de Rúben era muito simples. Ele pediu que seus irmãos não matassem José, mas que o deixassem morrer em uma cova.
"Também lhes disse Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova, que está no deserto, e não lanceis mãos nele;"
Gênesis 37:22
E novamente no texto, acontece algo não usual,
pois a Torah não costuma descrever o pensamento de um dos seus
personagens, revelando a intenção de Rúben:
"[Rúben] isto disse para livrá-lo das mãos deles e para torná-lo a seu pai" Gênesis 37:22.
Rúben não tinha nenhuma intenção de deixar seu
irmão morrer. Seu plano era de persuadir seus irmãos a deixar que José
ficasse naquele poço, e quando eles se
distraíssem e fossem fazer alguma outra coisa, ele voltaria e resgataria
a José e o devolveria ao seu pai.
Os acontecimentos seguintes são um tanto obscuros,
apesar de irem se tornando mais claros à medida que os fatos se
desenvolvem. Enquanto Rúben estava em algum
outro lugar, por sugestão de Judá, José é retirado da cova e vendido
para uma caravana de mercadores, que o levam para ser revendido como
escravo no Egito.
"Então Judá disse aos seus irmãos: Que
proveito haverá que matemos a nosso irmão e escondamos o seu sangue?
Vinde e vendamo-lo a estes ismaelitas, e não seja nossa mão sobre ele;
porque ele é nosso irmão, nossa carne. E seus irmãos obedeceram."
Gênesis 37:26-27
Rúben, sem saber do que havia acontecido, retorna
ao poço, mas percebe que seu irmão já não estava mais lá, e ele entra em
desespero:
"Voltando, pois, Rúben à cova, eis que José não estava na cova; então rasgou as suas vestes.
E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu aonde irei?"
Gênesis 37:29-30
José Recebe o Manto de Muitas Cores.