Evangelho da conveniência

 
Definitivamente ser cristão virou moda e, mais que isso: a Bíblia utilizada pela maioria foi adaptada para satisfazer a realidade de cada um. Versículos são lidos pela metade e suprimidos do seu contexto; textos inteiros interpretados de acordo com a visão que interessa aos “poderosos”, deixando para trás a hermenêutica, o conjunto doutrinário ensinado pelo SENHOR JESUS e exigido como condição para a entrada no reino de DEUS.
 
É comum ouvirmos, de forma entusiasmada (como estratégia para acariciar o ego dos doentes do espírito), nos templos religiosos ou nas ruas, versículos bíblicos partidos, alijados de sua real significação e sentido. Vejamos alguns dos mais conhecidos. “…Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus…” (adap. de Romanos 8:1) é um dos mais lidos, se não estiver à frente das citações mais irresponsáveis. Quem se atreveria dizer que a tal exclamação não seria verdade? Ou, uma verdade lida pela metade, excluída do seu real contexto.
 
O versículo, transcrito de forma completa, reza: “PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”. Ora, o texto se inicia com o apóstolo Paulo colocando a conjunção PORTANTO, que significa “em vista disso”, “por consequência”. Ou seja, obriga-nos a conhecermos o que foi dito anteriormente (exatamente o último versículo do capítulo 7). O apóstolo expressou a presença das duas naturezas opostas na vida de todo ser humano cristão: a natureza carnal, pecaminosa; e a natureza do entendimento, do querer, a espiritual. Em todo tempo, ele deixou claro a possibilidade de vir a praticar obras que o seu querer, o seu entendimento não gostariam de realizar.
 
Ao final do capítulo, o apóstolo expressa a sua gratidão a Deus por não se deixar dominar pela natureza que conduz o homem ao erro: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”. Ele nos dá um rico ensinamento: que muito mais que praticar obras mortas, pecaminosas, é não ter a vontade de fazê-las, de executá-las. A vida do cristão deve ser resumida em, algumas vezes, ele se ver fazendo o que não gostaria. O querer tem que ser santo, mas ele nem sempre vai se concretizar em ações agradáveis a DEUS. Nosso PAI leva muito mais em conta o que está em nossa vontade do que necessariamente nas obras que executamos.
 
Essa é a pessoa temente a DEUS, que chora e se entristece quando faz algo contrário à vontade divina; um cristão que é governado e dominado pela vontade de agradar a DEUS. Entendido esse contexto, vale agora recitar de forma completa o que está em Romanos 8:1: “Nenhuma condenação há para os que estão (com sua vida e vontade) em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne (que não se deixam dominar pela vontade da carne), mas segundo o Espírito” (grifos meus).
 
Cabem algumas perguntas necessárias: você é uma pessoa com essas características? Você se entristece profundamente quando faz algo quer desagrada a DEUS? Você verdadeiramente é uma pessoa conduzida pelo Espírito? Esse versículo não serve para os avarentos, adúlteros, mentirosos, hipócritas, amantes do pecado e das concupiscências, embora frequentadores de templos. Nesse mesmo capítulo de Romanos, encontramos outro versículo áureo, bastante recitado por aquelas pessoas que se dizem igreja do SENHOR: “…somos mais que vencedores…” (adap. de Romanos 8:37).
 
Vejamos o que diz o versículo todo: “Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou”. Há uma expressão chave nesse texto, que está exatamente no começo “em todas estas coisas”. Quais coisas, Paulo? Que coisas são estas? É preciso voltarmos um pouco e lermos os versículos 35 e 36: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro”. Viu bem todas as palavras em destaque? Um cristão verdadeiro vai sofrer tribulação, angústia, perseguição, padecer fome, sofrer nudez, perigo, espada, vai ser entregue à morte todo o dia e ser reputado como ovelha para o lugar de morte.
 
Mas, em todas estas coisas, ele será mais que vencedor em CRISTO JESUS. Há líderes e religiosos usando esse versículo para dizer que um cristão vai vencer tudo: passar em todos os concursos, conquistar e realizar todos os seus sonhos pessoais, ser um verdadeiro super-herói na atualidade. O Evangelho nos alerta sobre os males e aflições que sobrevirão a vida de um filho de DEUS até o seu último respirar dele nesta terra, mas que ele tenha ânimo bom, coragem e fé para saber que, em CRISTO, vencerá todas as dificuldades, porque, para uma pessoa assim, o reino de DEUS está reservado. Outros textos bíblicos muito usados, especialmente, por aqueles que tentam justificar o repúdio, o divórcio e até o novo “casamento” de uma pessoa divorciada: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mateus 18:18). Alguns irresponsáveis veem, nesse texto isolado, a possibilidade da quebra da aliança do casamento por meio do divórcio.
 
Ou seja, se o divórcio desligou o casal na terra, isso também será confirmado no céu por DEUS. Quanto absurdo e heresia!! O versículo citado deve ser utilizado especificamente em uma ocasião: se teu irmão fizer algo contra você, procure exortá-lo, mostrá-lo que errou (abrindo a possibilidade de reconhecimento da parte dele e do pedido de perdão). Se com essa atitude, ele ainda não reconhecer que errou, chame duas ou três testemunhas. Se essa pessoa insistir com a dureza do coração dela, leve-a para a igreja.
 
E se, ainda assim, esse “irmão” não reconhecer, considere-o como gentio, publicano, ímpio. O que a igreja disser a respeito dele será confirmado no céu: tanto a sua inocência quanto o seu desligamento do corpo de CRISTO. O que isso tem a ver com casamento e divórcio? Nada! Pelo menos, não na visão dos alisadores de EGO. Outro texto muito utilizado fora do seu contexto: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ageu 2:9). Que tal propagarmos e defendermos a separação e o divórcio de todos os casais do planeta, visto que a Bíblia “afirma” que a glória da segunda casa (do segundo casamento) será bem maior que a da primeira? Essa visão encerra a mais estúpida e nefasta das interpretações.
 
O contexto bíblico fala em duas casas, dois templos: o primeiro, construído por Salomão; e o segundo por Zorobabel. De uma forma mais ampla, a segunda casa se refere à pessoa nascida de novo, que passaria a ser o novo templo e morada do SENHOR, onde o SENHOR fará muito mais maravilhas do que fez no templo de Salomão. Se quisermos ampliar muito mais o contexto (e não recorreríamos em nenhuma heresia), essa segunda casa também é uma referência à Nova Jerusalém que está por vir, onde os santos habitarão eternamente.
 
Retrocedendo alguns livros no Antigo Testamento, chegaremos ao livro do profeta Amós. Em seu capítulo 3, versículo 3, está escrito: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Que belo versículo para justificar uma separação de um casal!! Imagine se maridos e esposas do mundo inteiro perceberem que estão vivendo em desacordo e usarem esse texto como pretexto do desejo de separação… Que caos maior viveremos! O texto se refere especificamente às iniquidades do povo de Israel, o único reconhecido por DEUS como povo DELE, mas que, por muitos momentos, desviou-se da Verdade, da obediência de DEUS, e se contaminou com povos e pensamentos pagãos.
 
DEUS exorta o Seu povo a ter uma só direção, um só pensamento, porque, se os israelitas quisessem viver em duas doutrinas, eles, na verdade, iriam servir apenas ao paganismo e DEUS não poderia mais andar junto a eles. Simples assim. Esse texto pode retratar nos dias de hoje a vida da Igreja de CRISTO, que tem que se manter santa, incontaminável e separada das coisas do mundo. É impossível uma pessoa ser igreja, filha de DEUS, ao mesmo tempo, servindo ao mundo, aos seus prazeres.
 
Por fim, vamos lembrar outro versículo, presente no livro de Atos, muito recitado por aqueles que se divorciaram quando ainda não conheciam a vontade de DEUS, e viviam na ignorância: “…Deus não leva em conta os tempos da ignorância!!” enchem os pulmões todos aqueles que insistem em afirmar que o recasamento realizado nos tempos da ignorância passou a ser lícito por DEUS, depois que essa pessoa “se tornou cristã”, levantou as mãos em alguma denominação protestante.
 
O versículo completo diz assim: “Mas Deus não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam” (Atos 17:30). Embora esse texto faça parte do discurso que Paulo proferiu em Atenas, (indignado porque aquela população estava entregue à idolatria), ele é um dos poucos que pode ser lido fora de contexto, sem nenhum perigo. Quando um homem se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, de sua vida errada, foi porque a Verdade o constrangeu a isso. Quando a Verdade (que é JESUS) entra no coração do homem, faz uma faxina geral, tornando aquele homem uma nova criatura.
 
O que é lixo, o que é impuro, passa a ser jogado no mar do esquecimento, desde que esse homem se livre das práticas erradas. Ora, o primeiro casamento desse homem, quando ele deixou pai e mãe e, igualmente, se uniu a uma mulher solteira, independentemente de conhecer ou não ao SENHOR, esse casamento foi testemunhado por DEUS e, portanto, lícito. O que DEUS deixa para trás, mediante um arrependimento verdadeiro, são os pecados, as iniquidades, tudo o que é ilícito. Para se ter um casamento lícito não é preciso conhecer a DEUS, ser cristão, profundo conhecedor da Palavra. Essas não são pré-condições exigidas por DEUS para validar um casamento, uma união matrimonial de um homem e uma mulher solteiros. Mas ser solteiríssimos (homem e mulher), fazer um pacto mútuo e se darem a uma relação sexual (no mínimo).
 
O casamento passa a ser válido. Agora, se eles vão se salvar, é outra história. Depois do pecado de Adão e Eva, DEUS não deixou de validar aquele casamento, testemunhado por ELE, pela simples queda do casal. Ao contrário, eles permaneceram casados e colhendo todas as consequências daquilo que tinham feito de errado. DEUS exige muito mais que um arrependimento, um abrir a boca e confessar que errou de um ser. ELE exige atitudes. Arrepender-se e permanecer no adultério é o mesmo que tentar encobrir um erro diante de DEUS, achando que ELE não vai ver nem vai levar em conta no Grande DIA. Observe o que diz a Palavra: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28:13).
 
É preciso deixar, abandonar, para ser detentor das misericórdias de DEUS. A quem foi revelado que o segundo “casamento”, segundo DEUS, é adultério, trate de desfazer, de abandonar e buscar a aliança pura, reconhecida por DEUS, que é a primeira do marido e da esposa. Enfim, ser de CRISTO e querer ser filho de DEUS é viver o Evangelho do jeito que ele é, sem suprimir nem mascarar nada, nem querer adaptá-lo às nossas satisfações pessoais. No próximo estudo, pretendo trazer aqui mais textos bíblicos usados fora do contexto por muitos que se dizem de DEUS, promovendo um mar de heresia dentro dos templos. Até lá! Que DEUS nos abençoe!
 
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo! 
 
fonte:http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=10683

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