Wallace Sousa
Inegavelmente, a história de José – aliás, o livro de Gênesis é um dos
mais ricos e belos da Bíblia – é um primor de literatura, e sua história
ainda hoje rende pregações inflamadas e hinos inspirados. Não é à toa,
se você prestar atenção nas ricas experiências pelas quais José passou e
as lições que aprendeu.
José, um exemplo de servo de Deus, dotado de rara inteligência e
sabedoria, era o que se podia chamar hoje de “visionário” (sonhador),
alguém que enxergava o futuro (profeta) e que sabia administrar como
ninguém, mas, sua principal característica era a fidelidade a Deus em
meio às maiores provações. Ele foi alvo da inveja homicida de seus
meio-irmãos, jogado no fundo do poço e tirado de lá para ser vendido
como escravo… tudo por causa do amor e admiração que seu pai lhe nutria e
dos sonhos que tinha.
Com tantas qualidades, tanto como homem público como homem imerso em sua
vida pessoal, torna-se até difícil eleger a principal virtude de uma
personagem tão marcante das Escrituras. Todavia, à guisa de opiniões
divergentes, julgamos que a principal razão dele ter sido alguém que não
apenas teve seu lugar marcado na História, como foi um protagonista de
sua própria história, quando tudo conspirava para que ele fosse um mero
coadjuvante por onde passava, era seu caráter irrepreensível e sua
convicção em permanecer fiel a Deus onde quer que fosse ou o que
fizesse, fosse na casa de seu senhor, fosse na casa de sua servidão,
mandando ou sendo mandado.
Hoje em dia, é difícil achar alguém como José, com a qualidade de saber
ser servo e, após exaltado, não querer se exaltar e fazer justiça com as
próprias mãos. Pessoas com inteligência e competência administrativa
como ele até que não faltam, mas com a sua humildade e desprendimento
são raras. Ainda mais levando-se em conta a massiva propaganda
triunfalista pregação da prosperidade que assola nossos púlpitos hoje,
como verdadeira praga, transcendendo as fronteiras denominacionais e
geográficas.
Infelizmente, se alguém passasse pelo que José passou, e chegasse onde
ele chegou, perseguiria seus opositores de tal forma que não deixaria
raiz nem ramo. Mas, é assim que deve ser e se portar um servo de Deus? É
isto que se espera de alguém que carrega a cruz diariamente e abriga o
Espírito de Deus firmemente? Não, não é isso que se espera de alguém com
esse perfil.
Quando se fala em apelo missionário, a visão que muitos têm é de ir para
algum país rico de primeiro mundo, por achar que lá suas dificuldades
serão mínimas. Mas, ao analisarmos o contexto da época, José foi ser
missionário numa das maiores superpotências de então, um império de
primeira grandeza. Se se perguntasse a muitos se gostariam de ser
missionários, e aos que respondessem SIM lhes desse a possibilidade de
escolher entre a América (EUA) e a África, você arriscaria qual destino
teria preferência?
Pois é, José foi para a América de seus dias, mas não por sua escolha
própria, e foi fazer parte da base da pirâmide social egípcia, algo como
o assistente do carimbador reserva da seção de almoxarifado de peças
imprestáveis. Muitos pretensos candidatos a missionários, se soubessem
que poderiam passar anos sendo pessoas esquecidas em lugares
desprezíveis, bateriam no peito estufado e diriam: “não acredito que
isso é o que Deus projetou para mim, alguém com as qualidades,
características e competências que possuo, com tanto investimento que
fiz para ser um missionário de um ministério relevante, pronto para
ganhar milhares para Cristo!”.
Mas, para José, o governante que dez entre dez faraós queriam ter, o
começo de sua história foi frustrante, marcante (no sentido de deixar
cicatrizes) e claramente decepcionante. É de admirar que ele não tenha
perdido o foco, a razão e a sobriedade depois de tantas experiências
amargas: inveja e traição pelos próprios irmãos, vendido a estrangeiros,
caluniado e injustiçado pelos patrões a quem tanto serviu e,
finalmente, esquecido depois de fazer a melhor consultoria profissional
(coaching) para um alto funcionário do rei, e de graça! Qualquer um
teria entrado em parafuso com essa situações de dar nó na cabeça do ser
humano comum.
Por que tanta gente hoje se decepciona com a vida cristã, se a Bíblia
lhe apresenta promessas tão fantásticas? Ilusão, crença em promessas
fantasiosas? Não, a resposta é muito mais simples, mas não menos
trágica: é apenas falta de perseverança e fracas convicções mesmo.
Muitas tragédias cristãs e naufrágios na fé seriam evitados pela adoção
de um hábito simples e econômico: a leitura devocional da Bíblia de
forma constante, cotidiana e confiante. Você, caro leitor, cultiva esse
hábito? Talvez a resposta para muitas de suas indagações esteja não no
que você está fazendo, mas naquilo que está deixando de lado.
O segredo de José só não é mais simples porque a dificuldade está em
colocá-lo em prática, ou seja, quando se trata de ser fiel na prática, a
teoria é outra. Mas, era isso que lhe garantia a presença de Deus em
sua vida, ou seja, que Deus era com ele (José). Muitos gostariam de
poder dizer que Deus era com eles, entretanto somente alguns podem
confirmar isso. Um grave erro é querer Deus só nos momentos de pressão e
angústia, dificuldade, e desprezá-lo na hora da bonança. Mas, com José
era diferente, Deus era com ele, não apenas estava.
Deus não era acessório para José, era parte integrante de sua vida, não
apenas nas tribulações, mas principalmente nas vitórias. Quando Deus
deixar de ser apenas um “opcional” na vida de muitos, para se tornar “de
fábrica“, suas histórias começarão a mudar.
Mas, IMHO, o segredo de José é descortinado quando ele se casa, já no
palácio, e dá nome aos seus filhos, pois é ali que ele deixa claro sua
trajetória de vitória e, mais importante, a sequência dessa trajetória:
primeiro lhe veio Manassés, depois Efraim. Manassés significa, em termos
simples, “esquecer”, enquanto Efraim pode ser entendido [traduzido] por
“frutífero”, de onde se compreende que os frutos vêm após um certo
período de maturidade e, principalmente, de crescimento da árvore.
Em poucas palavras, José não guardou rancor e amargura em seu peito por
ter sido, por tanto tempo e por tantas pessoas, esquecido, pelo
contrário, ele aprendeu a esquecer-se disso. Somente após esse doloroso e
moroso processo de deixar as coisas passadas para trás, José pôde dizer
adiante, Deus me fez crescer. Você quer crescer? Aprenda a esquecer.
Este foi o grande segredo de José, desprezado e ridicularizado por
muitos hoje, dessa geração que, ao invés de clamar a Deus por graça
diante da tribulação, clama ao vento por vingança. Mas, a lição é bem
clara: o crescimento somente ocorre após o esquecimento. Sabe o porquê
dessa lei? Ao guardar raízes de amargura em seu peito, o ser humano fica
preso (enraizado, atolado, aprisionado) a um passado de dor que lhe
impede de vislumbrar um futuro melhor, desperdiçando seu presente, o dia
de Hoje, dado por Deus. É no hoje que plantamos as sementes do sucesso
de amanhã, mas se estas sementes estão maculadas pela amargura e
ressentimento, não brotarão adequadamente e, se brotarem, crescerão
doentes, sem poder atingir todo seu potencial de frutificação e
crescimento.
Não é à toa que Paulo disse uma frase impactante sobre esse tema:
“Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa
faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as
que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação.de Deus em Cristo Jesus.”. Fp 3.13, 14
fonte:http://www.atendanarocha.com/2013/06/o-segredo-de-jose.html
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