Um dos versículos mais problemáticos em relação à questão da segurança eterna é Apocalipse 3.5:
“O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo
nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei
o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”.
As palavras “de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida” parecem implicar a possibilidade de que aqueles que não vencerem serão apagados. De início isto levanta duas perguntas: “O que é um vencedor?” e “O que é o Livro da Vida?”
A definição básica de um vencedor se encontra em 1 João 5.4-5: ele é aquele que vence o mundo.
“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a
vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão
aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?
Nestes versículos, os vencedores são aqueles que nasceram de Deus,
que creem que Jesus é o Filho de Deus – em outras palavras, são os
cristãos genuínos.
A passagem de 1 João 5.4-5 é às vezes citada para dar sustentação à
visão condicional. Não vejo nada aqui que possa substanciar isto, a
menos que seus defensores apelem para o tempo presente do verbo “crer” e
insistam em que ele quer dizer uma ação contínua. Em outras palavras, o
que vence o mundo deve crer e seguir crendo. E necessariamente segue
que uma pessoa só é nascida de Deus se persistir em crer.37
De acordo com isto, uma pessoa pode nascer de Deus, depois tornar-se
não nascido (uma ideia bizarra), e depois nascer espiritualmente de
novo. Aparentemente não há limite para o número de vezes que este ciclo
pode se repetir. É como se as Escrituras ensinassem que: “Você deve
nascer de novo, e de novo, e de novo”. A Bíblia não fala nada parecido
com isto.
O que os versículos ensinam, sim, é que a fé capacita o crente
nascido de novo a vencer o mundo ao ver através de seu brilho e seu
vazio, ao perceber que ele está em inimizade com Deus e Seu povo e ao
temer seus elogios, mas não sua carranca. Ele não espera ser tratado
melhor que seu Senhor foi.
Um santo genuíno continua a crer, sim, não como condição para a
salvação, mas como característica de sua nova vida. Três vezes o
apóstolo João se dirige aos jovens da família de Deus como os que
venceram o Diabo (1 Jo 2.13-14; 4.4a). Mas eles não o fizeram baseados
em sua própria força, mas pelo poder dAquele que habita neles (1 Jo
4.4b).
Agora nos voltamos para nosso versículo original em Apocalipse.
Observe as promessas que são feitas a um vencedor, aqui e em outros
lugares no livro: Ele comerá da Árvore da Vida (2.7); não será ferido
pela segunda morte (2.11). (Como a segunda morte é o lago de fogo e como
apenas os incrédulos serão feridos com a segunda morte (Ap 20.14), todo
vencedor é um verdadeiro filho de Deus.) Ele comerá do maná escondido
(2.17); receberá poder sobre as nações (2.26); será vestido com
vestiduras brancas (3.5a); será coluna no templo de Deus (3.12);
sentar-se-á com Cristo em Seu trono (3.21); herdará todas as coisas,
Deus será seu Pai e ele será filho de Deus (21.7)
Tomando todas essas passagens juntas, aprendemos não apenas que todos
os vencedores são crentes, como também que todos os crentes são vistos
como vencedores.
John MacArthur explica:
“Aquele que venceu” e expressões paralelas são comuns nos escritos de João. O apóstolo João tranquilamente usa “vencedor” como sinônimo para crente. Por sua definição, todos os cristãos são finalmente “vencedores”. ...Portanto, não existe algo como um crente que não é um vencedor, neste sentido”.[1]
Agora vamos considerar o Livro da Vida. Os nomes dos companheiros de
Paulo estão no Livro da Vida (Fp 4.3). Os nomes dos que adoram a besta
vinda do mar não têm seus nomes no Livro da Vida do Cordeiro (Ap 13.8).
Os que não estão registrados no Livro da Vida são jogados no lago de
fogo (Ap 20.15). Apenas aqueles cujos nomes estão escritos no Livro da
Vida do Cordeiro entrarão na Nova Jerusalém (Ap 21.27).
Verificando tudo isso junto, fica claro que o Livro da Vida é um
registro de todos os redimidos. (Em algumas versões da Bíblia, o Livro
da Vida é mencionado em Apocalipse 22.19, mas os manuscritos mais
autênticos usam “Árvore da Vida” nesse versículo.)
Então, agora voltamos ao problema básico: O Senhor diz, em Apocalipse
3.5, que Ele não apagará do Livro da Vida os nomes dos vencedores. Será
que isto não implica que os nomes de alguns crentes poderiam ser
apagados?
Primeiramente, não devemos construir uma doutrina baseados naquilo que poderia estar implícito. É melhor usarmos as afirmações diretas.
Depois, deveríamos saber que o oposto de uma afirmação nem sempre
está implícito ou é verdadeiro. Por exemplo, eu poderia dizer: “Se eu
estou em Jerusalém, então sei que estou em Israel”. O oposto seria: “Se
eu não estou em Jerusalém, então sei que não estou em Israel”. Isso não é
verdade. Você poderia estar em Haifa ou em Tel Aviv.
Na verdade, a promessa do Senhor de que Ele não apagaria os nomes dos
crentes é uma promessa sobre a segurança eterna deles. Se Ele não lhes
apagar o nome, então eles permanecem no Livro da Vida. Em vez de
tomarmos Suas palavras para implicar uma possibilidade agourenta, é
melhor que as tomemos como um enunciado positivo sobre o que Ele não irá
fazer.
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por
causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não
amaram a própria vida” (Ap 12.11).
Isto descreve os santos do Período da Tribulação, que haviam sido
ameaçados de morte se não negassem sua fé. Eles haviam vencido o Diabo
pelo sangue do Cordeiro. O sangue vertido de Cristo satisfez todas as
acusações que Satanás poderia trazer contra eles. E eles haviam vencido
pela palavra de seu testemunho. Eles não retirariam sua confissão de
Cristo, nem que isso significasse morrerem como mártires. Eles “não amaram a própria vida”.
É difícil entender como este versículo apoia a salvação condicional e,
mesmo assim, ele ainda é às vezes usado para tal propósito.
Apocalipse 17.14 contém a palavra vencer, mas desta vez ela se refere ao Senhor:
“Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é
o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados,
eleitos e fiéis que se acham com ele”.
Este versículo antecipa Apocalipse 19.19-21. No segundo advento de
Cristo, os dez reis mencionados em Apocalipse 17.12-13 tentarão impedir o
Cordeiro de assumir o domínio mundial. Unido com os exércitos
celestiais de todos os redimidos, Ele os vencerá (Ap 17.14). As palavras
chamados, eleitos e fiéis só podem ser aplicadas aos santos. Aqui eles são os santos que vieram do céu com o Cordeiro (Ap 19.14, 21b). Logo, não existe nenhuma chance de que eles percam a salvação se não forem fiéis.
Vamos considerar mais uma passagem que fala sobre vencer:
“7 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. 8
Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos
assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os
mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e
enxofre, a saber, a segunda morte (Ap 21.7-8).
Existem apenas duas classes: os salvos e os perdidos. O versículo 7
descreve os salvos. Todo o restante (v. 8) são os perdidos. Não somos
salvos por vencermos. Vencemos porque somos salvos. Aquele que vence
herda todas as coisas: a vida eterna está incluída em todas as coisas. Deus tornou-se nosso Pai e nós nos tornamos Seus filhos e filhas quando confiamos em Cristo. Mas as palavras “Serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas”, descrevem uma intimidade maior de relacionamento.
Nota
- John F. MacArthur, The Glory of Heaven [A Glória do Céu]. Wheaton, Il.: Crossway Books, 1996, pp; 99-100.
fonte:http://www.chamada.com.br/mensagens/vencedores_vencidos.html
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