“No terceiro ano de Oséias, filho de
Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de
Judá. 2Tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar e
reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua mãe se chamava Abi e era
filha de Zacarias. 3Fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo
tudo o que fizera Davi, seu pai”. 2Reis 18.1-3
O Rei Ezequias é um dos reis de Judá, ao lado de Josias, em cujo
reinado Deus concedeu um reavivamento impressionante. Isso aconteceu
numa época em que o juízo de Deus já havia sido comunicado ao povo
através dos profetas Oséias e Isaías e que se cumpriu através dos
babilônios poucas décadas depois da morte de Ezequias.
No entanto, pouco antes do ocaso, Judá teve esse reavivamento
espiritual, uma reforma radical e abrangente. É isso que nos relatam os
livros de Reis (2Rs 18-20) e de Crônicas (2Cr 29-32), além do profeta
Isaías (Is 36-39).
Estima-se que Ezequias reinou nos anos 715-686 a.C. (alguns
consideram o período de 726-697 a.C.), em todo o caso, foi a época em
que grande parte do Reino do Norte – Israel – devido à sua idolatria,
havia sido levado cativo pelos assírios. Assim, era um período de
opressão espiritual e de insegurança, com perspectivas de um futuro
deprimente.
É interessante observar que, nos livros de Reis e de Crônicas, a vida de Ezequias é relatada sob perspectivas diferentes:
O livro de 2Reis ressalta as reformas políticas e morais
implementadas por Ezequias, enquanto 2Crônicas relata detalhadamente
sobre a purificação do Templo e o restabelecimento dos cultos, incluindo
a festa da Páscoa, aspectos estes que são totalmente omitidos em 2Reis.
Despertamento no fim dos tempos do povo de Deus
A história de Ezequias é especialmente atual e desafiadora porque nós
– Igreja do Novo Testamento – nos encontramos igualmente no fim dos
tempos. Esta começou notadamente por ocasião do Pentecoste, porém– se
observarmos corretamente os sinais dos tempos – atualmente se encontra
no último estágio.
Já no Século XVI, Martinho Lutero escreveu um ensaio alertando sobre a apostasia no Cristianismo da sua época.
Já no Século XVI, Martinho Lutero escreveu um ensaio (“Von der babylonischen Gefangenschaft der Kirche” - “Sobre
o Cativeiro Babilônico da Igreja”), alertando sobre a apostasia no
Cristianismo da sua época. Quanto mais temos motivos hoje para alertar
contra as influências liberais, esotéricas e de fanatismo que ocorrem em
igrejas que se denominam “evangélicas”!
Mesmo assim, são poucas as personalidades conhecidas que falam em um
reavivamento mundial, de uma futura “segunda reforma”, da
“transformação” de povos e nações inteiras ao Cristianismo, etc.
Já há vinte anos, o missiólogo C. P. Wagner, que se auto-denomina
“apóstolo” do Cristianismo atual – profetizava que, até que ele
morresse, haveria “18 milhões de cristãos na Turquia!”[1]
Além disso, não faz tanto tempo que a organização evangélica mundial
“AD 2000”, juntamente com a organização católica “Evangelização 2000”,
pretendiam oferecer “um mundo majoritariamente evangelizado” como
presente a Jesus no Seu 2.000º aniversário.
Naquela época havia vários “profetas” dizendo que “Deus quer que nos
preparemos para o maior avivamento de todos os tempos” e , na opinião
deles, “esta é a melhor época, de todos os tempos, para viver com Deus”.
Se, porém, analisarmos com seriedade a situação das igrejas que se
consideram evangélicas, pelo menos no mundo ocidental, precisamos
concluir que, na maioria dos países, o testemunho cristão está extinto
ou sob ameaça de extinção.
No entanto, isso não deve ser motivo de resignação. Apesar de que,
nas cartas do Novo Testamento, não haja promessas de um avivamento
global para os tempos finais, mas uma tendência para a apostasia, mesmo
assim Deus pode, a qualquer tempo e em qualquer lugar, promover
avivamentos locais e que podem se expandir. É exatamente isso que
podemos aprender da história de Ezequias e também de Josias, em cujas
épocas – no fim dos tempos de Israel – Deus concedeu esses avivamentos
impressionantes e imprevisíveis.
Um exemplo atual da ação de Deus é a China onde, na nossa opinião, estamos observando o maior avivamento de todo o mundo.
Um exemplo atual para isso é a China onde, na nossa opinião, estamos
observando o maior avivamento de todo o mundo e que, no entanto, ocorre
sem grandes alardes e que talvez nem seja observado pelos próprios
cristãos na China, porque eles somente conseguem acompanhar o
desenvolvimento espiritual de seu imenso país em âmbito apenas regional.
Lá não existem – pelo menos oficialmente – publicações ou informativos
cristãos que relatem sobre o avivamento nas diversas províncias e que,
por exemplo, apresentem estatísticas sobre o enorme crescimento da
chamada “Igreja Subterrânea”.
“Tempestade tropical” inesperada e repentina
É significativo que o avivamento à época de Ezequias, aparentemente,
ocorreu sem que tivesse havido um histórico anterior de vida espiritual
do povo de Deus. Ao menos não lemos nada sobre reuniões de oração
públicas ou secretas que muitas vezes acontecem durante anos antes de um
avivamento. Podemos observar isso diversas vezes na história posterior
da Igreja, porém, não parece ter sido o caso no fim dos tempos de
Israel. Fica a impressão que não havia nenhuma condição de prognosticar
esse avivamento, mas que ele lembra uma repentina “tempestade tropical”,
como Martinho Lutero, em 1524, a retratou acertadamente e de modo
impressionante:
Queridos alemães, comprem enquanto o mercado está com portas abertas; recolham enquanto houver o brilho do sol e tempo bom; aproveitem a graça e a Palavra de Deus enquanto estiver disponível! Saibam isto: A graça e a Palavra de Deus são como uma tempestade tropical e que não volta mais para o lugar onde ela já passou. Ela esteve com os judeus; no entanto, o que passou, passou, agora eles não tem mais nada. Paulo a levou para a Grécia. O que passou, passou; agora eles têm o turco. Roma e a terra latina também a tiveram; o que passou, passou, agora eles têm o Papa. E vocês, alemães, não pensem que a terão para sempre, pois, a ingratidão e o desprezo não permitirão que ela fique. Por isso, apanhem e segurem aqueles que conseguem apanhar e segurar! Mãos preguiçosas devem ter um ano difícil.[4]
Condições desfavoráveis
Ezequias cresceu em um ambiente ímpio. Seu pai Acaz foi um rei
extremamente cruel e ímpio. É inimaginável que o seu filho tenha sido
preparado com uma formação especial “bíblica” para suas futuras
atribuições. Somente a menção expressa do nome da mãe Abi (abreviatura
do nome Abijah [“Deus é meu pai]) e do pai desta, Zacarias (“o
Senhor lembra”) parecem indicar que, por parte da mãe, pode ter havido
uma influência positiva.
Isso seria um grande consolo e um incentivo para as mães que, ao lado
de pais não crentes ou não espirituais, educam os filhos para o Senhor e
os preparam para que se tornem discípulos de Jesus.
Ainda assim, por razões que nós desconhecemos, o filho do ateu Acaz
recebeu o nome “Ezequias” (“Deus é minha força”) quando nasceu e, de
fato, Ezequias posteriormente viveu de modo que honrou o nome de Deus –
ele confiava em Deus!
“Confiou no Senhor, Deus de Israel, de maneira que depois dele
não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que
foram antes dele” (2Rs 18.5).
Esse rei, cuja confiança em Deus não foi superada por nenhum outro
rei entre o povo de Deus, de fato, deveria incentivar-nos ao estudo e à
imitação!
Outra peculiaridade na vida de Ezequias é que, quando clamou ao
Senhor, sua vida foi acrescida de exatos 15 anos. Como confirmação para
isso, Deus fez a sombra do relógio solar retroceder 10 graus.
Finalmente Ezequias é um dos poucos reis que, ao término de sua vida,
não estava marcado por pecados ou idolatria, mas pelas “boas obras”.
Ele não morreu “sem ser encontrado” (como aconteceu com Jorão, um de
seus antecessores), pelo contrário, ele foi sepultado com honrarias e na
presença de todo o povo (2Cr 32.32-33).
Avivamento sempre ocorre por graça
Destas poucas observações, vistas até agora, podemos aprender que o
avivamento sempre é uma manifestação da graça de Deus. Não é possível
organizar um avivamento. Não há uma fórmula confiável para tanto, ao
contrário do que algumas personalidades, tanto da história recente como
da história antiga da Igreja, tentaram comprovar inutilmente.
O avivamento sempre é uma manifestação da graça de Deus. Não é possível organizar um avivamento. Não há uma fórmula.
O avivamento sempre é uma dádiva de Deus. Às vezes é uma resposta de
Deus às orações insistentes e intensivas, porém, outras vezes é uma
“chuva passageira” não programável. Isso pode nos trazer esperança e nos
encorajar, também em nossa época em que as circunstâncias externas e a
situação do povo de Deus apontam para qualquer outra coisa, menos para
um avivamento.
Preguiça, mornidão, indiferença e conformação ao mundo são
características marcantes entre os cristãos na Europa. Livros do mercado
evangélico como “Gottesdienst ohne Mauern” (Cultos sem muros”) ou “Die Welt umarmen”
(“Abraçar o Mundo”, ambos os títulos em tradução livre) sem querer
descrevem a situação atual das igrejas também em nosso país e que foi
descrito acertadamente por A.W.Tozer, há mais de 50 anos:
Fomos criados para nos relacionarmos com anjos, arcanjos e serafins, sim, com o próprio Deus que criou a todos – fomos chamados para sermos como águias voando livremente pelos ares, mas que, agora, afundamos a ponto de estarmos ciscando ao lado de galinhas comuns nos quintais das fazendas – isto, assim eu penso, é o pior que poderia ter acontecido a este mundo”.[5]
Ou, ainda, não menos drasticamente:
Uma igreja debilitada arremeda um mundo forte a se divertir com pecados astuciosos – para a sua própria vergonha eterna.[6]
Atualmente, como cristãos, em nossa latitude é mais comum
presenciarmos “momentos sublimes de inutilidade” do que algum sinal de
avivamento. No entanto, um monte de esterco pode se tornar em adubo para
uma grande área de lavoura. Por isso, a história de Ezequias deveria
nos encorajar para “esperar grandes coisas de Deus e fazer grandes
coisas para Deus”, como disse, fez e vivenciou William Carey, o
missionário pioneiro na Índia.
O fim dos tempos nunca deve ser motivo de resignação ou servir de álibi para a indolência. Muito menos serve de calmante para a desobediência!
“Em cada crise há uma oportunidade”. Nos últimos anos ouve-se
constantemente essa afirmação, vinda de todas as direções – tanto de
políticos como também de executivos economistas. Por isso, o baixo nível
espiritual ou as atuais crises nas igrejas deveriam ser um incentivo,
não para investir em “piedosas bolhas de ar”, mas para voltar às raízes e
aos sólidos fundamentos da nossa fé.
A importância de modelos espirituais
A sabedoria popular diz que “figuras moldam”. Da mesma forma, um
modelo pode marcar e influenciar o curso de uma vida. Ezequias tinha um
modelo, um parâmetro para sua vida, no qual ele podia e queria se
orientar e comparar. Era um modelo que o ajudou a fazer aquilo que era
certo aos olhos de Deus:
“Fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai” (2Rs 18.3)
Como o seu pai físico, o rei Acaz, era um homem ímpio e, assim,
inadequado para marcar positivamente a vida espiritual de seu filho,
Ezequias procurou por orientação entre seus antepassados e encontrou
Davi, o rei de Israel, o “homem segundo o coração de Deus”.
É uma bênção quando se encontra, no pai físico, um modelo e alguém
que orienta nos caminhos de Deus. É o que lemos, por exemplo, no caso do
rei Azarias que foi marcado positivamente pelo seu pai Amazias (2Rs
15.3). Sobre Amazias, a Bíblia relata:
“Fez ele o que era reto perante o Senhor, ainda que não como Davi, seu pai; fez, porém, segundo tudo o que fizera Joás, seu pai” (2Rs 14.3).
Quando eu era um cristão jovem, fiquei muito impressionado com uma cena que Wilhelm Busch descreveu na biografia de seu irmão: “Johannes Busch – ein Botschafter Jesu Christi” (“Johannes Busch – um Mensageiro de Jesus Cristo”, em tradução livre).
Os dois filhos estavam, em pé, junto ao esquife de seu pai – Wilhelm
com 24 anos de idade e Johannes com 16 anos. Eles estavam se despedindo
de um homem, o seu amado pai, pastor e famoso evangelista e que foi um
brilhante modelo para eles:
Nós dois ficamos por muito tempo, quietos, junto ao esquife. Então nos damos as mãos, ao lado do esquife, numa aliança silenciosa: Queríamos absorver a herança do pai, queríamos amar ao Salvador.[7]
Essa cena é uma ilustração comovedora para as palavras de Provérbios 17.6: “...a glória dos filhos são os pais”.
Que grande bênção é para nossos filhos quando, como pais e mães,
podemos lhes deixar tal herança! Provavelmente a maioria dos pais não
imagina quão precioso é esse presente que eles proporcionam para toda a
vida a seus filhos e filhas, quando estes, já em tenra idade, podem amar
e viver com o seu “pai herói”.
Entrementes, minha esposa Ulla e eu nos tornamos avós de um número
crescente de netos. Para nós sempre é uma experiência especial quando
observamos como os pequenos olham admirados para o seu pai quando ele se
destaca em alguma atividade esportiva ou em brincadeiras ou também em
suas atitudes durante o dia-a-dia. (Naturalmente, o mesmo é verdade para
as mães!).
Temos a convicção que tais experiências são uma influência muito
positiva para a saúde espiritual e psicológica dos filhos e, de fato,
representam um “adorno” ou “tesouro” de valor inestimável para toda a
vida deles.
Hoje há muitos jovens cristãos à procura de modelos na família ou na Igreja e se decepcionam quando não os encontram.
Hoje há muitos jovens cristãos à procura de modelos na família ou na
Igreja e se decepcionam quando não os encontram ou não correspondem às
suas elevadas expectativas. No entanto, podemos consultar nossa lista de
“antepassados espirituais” e estudar as biografias de homens e mulheres
cuja vida foi exemplar, desafiadora e orientadora.
Oswald Sanders expressou isso muito bem:
Se estiver certo que podemos conhecer uma pessoa pelos amigos que ela tem, então também é possível reconhecê-la através da leitura de sua biografia, pois ela reflete a sua fome interior e o seu desejo. (...) Para um líder, as biografias sempre são emocionantes porque elas transmitem personalidades. Nenhum outro gênero literário é capaz de transmitir melhores ensinamentos sobre os caminhos de Deus para a sua gente, além da Bíblia. Não é possível ler sobre a vida de grandes homens e mulheres sem que isso provoque entusiasmo e surja o desejo de uma realidade semelhante.[8]
Cito apenas alguns exemplos de como a leitura de diários e biografias influenciou decisivamente a vida de muitos cristãos:
- Os diários de David Brainerd inspiraram e incentivaram, entre
outros, a Jonathan Edwards, John Wesley, William Carey, Henry Martyn,
David Livingstone e Jim Elliot;
- A biografia de George Whitefield deixou marcas inextinguíveis em C.H. Spurgeon e em Georg Müller;
- Através dos diários de Georg Müller, por sua vez, Hudson Taylor e
muitos outros adquiriram ânimo para se dedicar às Missões, unicamente na
confiança em Deus;
- E quem consegue contar quantos homens e mulheres, da nossa geração,
que foram desafiados a ter uma vida dedicada a Jesus, baseados no
diário de Jim Elliot: “À Sombra do Altíssimo”?
O modelo de vida decisivo
Contudo, na avaliação de boas biografias, não devemos e não queremos
nos tornar “luteranos”, “calvinistas”, “menonitas”, “wesleyanos”,
“metodistas” ou outros “...istas”. Também a vida e a obra desses homens
devem apontar para o nosso Senhor Jesus – cuja vida e exemplo deve ser e
permanecer como o único “modelo original” perfeito para nossas vidas.
Assim como Ezequias não se contentou apenas com os antepassados tementes
a Deus, como Asa, Josafá, etc, mas tomou a Davi como modelo, assim
também nós – na apreciação de nossos pais e mães espirituais – devemos
permanecer “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...” (Hb 12.2). (Wolfgang Bühne - chamada.com.br)
Notas
- C.P. Wagner, Der Herrschaftsbereich der Himmelskönigin, Solingen: Ed Gottfried Bernard, 2001, p.32.
- W. Bühne, Die Propheten kommen, Bielefeld: CLV, 2 Ed., 1995, p.135 (comparar toda a explanação p. 135-163).
- Rick Joyner, Die Engel, die Ernte und das Ende der Welt, Wiesbaden: Projektion J, 1993, p.22-23.
- Martin Luther, An die Ratsherren aller Städte deutschen Landes, dass sie christliche Schulen aufrichten und halten sollen, URL: http://www.lutherhaus-eisenach.de/lutherhaus_lutherzitate.htm (1ª parte) e hhttp://clv-server.de/pdf/fut/206/04.pdf (2ª parte), download em 18/01/2013.
- A.W. Tozer, Verändert in sein Bild, Bielefeld: CLV, 2ª Ed. 2012 – Meditação para o dia 16/Jan.
- A.W. Tozer, Wie kann man Gott gefallen? , Bielefeld: CLV, 2001, p.50.
- Wilhelm Busch, Johannes Busch – Ein Botshcafter Jesu Christi, Wuppertal: Aussaat Verlag, 6ª Ed. 1960, p.67.
- Oswald Sanders, Geistliche Leiterschaft, Bielefeld: CMV, 2003, p.96-97.
fonte:http://www.chamada.com.br/mensagens/ezequias.html
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