Wilma Rejane
O Evangelho de João relata um encontro peculiar entre Jesus e uma mulher
adúltera. Ela não chegou até Ele por livre e espontânea vontade, foi
carregada, conduzida de modo covarde. O objetivo dos que a conduziram
era incriminar a Jesus por assassinato, pois segundo o Antigo
Testamento, quem fosse pego em adultério, deveria ser apedrejado
(Levítico 20:10).
Um grupo de anciãos, prestigiados entre a comunidade arma um flagrante.
A mulher é a isca e o conluio é um grande cerco com aparência de
justiça, mas de sentido criminoso. E com a mulher desarrumada nas
vestes, cabelos assanhados e face assustada, percorrem a cidade
procurando por Jesus. Ela pede clemência e recebe escarnio, empurrões,
palavras difamatórias.
Imaginem o desespero dessa mulher e a vergonha, anunciada para todos. E
onde estava o que adulterou com ela? Foi protegido, escondido e
absorvido pelos homens. Mas a mulher era empurrada pelas ruas sob
olhares de censura. Até que encontram Jesus, o que mais queriam era
ouvi-Lo. As pedras em punho, o “apedreja” nos lábios. Mas faltava Jesus
dar o veredicto e se Ele conhecia bem a Lei, deveria cumpri-la: morte
por apedrejamento.
E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em
adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi
apanhada, no próprio ato, adulterando.
E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que
dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar.
Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes:
Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra
contra ela.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, redarguidos da consciência, saíram um a um, a
começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que
estava no meio.
E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher,
disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te
condenou?
E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te
condeno; vai-te, e não peques mais.
Ele escrevia
A turba chega até Jesus e Ele já esperava, Ele sabia tudo que havia
acontecido antes mesmo de Lhe falarem. Sabia até o que não contaram, o
que tramaram às escuras e de como aquela mulher era vítima, alguém que
tinha inclinação para o pecado do adultério e foi atraída para isso. Ela
traiu e foi traída, estava em fel de pecado.
A palavra original grega que descreve adultério é “moicheia” ( dicionário Strong 3430) ; relação sexual ilícita envolvendo pessoas casadas, infidelidade marital.
Moicheia não é aprovada por Deus, toda Escritura sustenta o
julgamento de que adultério é agravo ao reino de Deus e leva a
condenação (I Corintios 6:10). Não devemos usar a graça de Deus para dar
ocasião a desgraça e adentrar na permissividade para trair. Contudo, e
se reportando ao momento descrito nos Evangelhos de João, sobre o
encontro de Jesus com a mulher apanhada em adultério, enfatizo o amor do
Senhor pelo pecador e Sua justiça que não julga segundo a aparência.
Jesus escrevia na areia enquanto os demais falavam, julgavam, desferiam
opiniões moralistas. Onde estaria Jesus quando o encontraram? No meio
da rua, em um monte, à beira mar? Não sabemos. Mas Ele pareceu não se
incomodar com as acusações a ponto de se mover da posição em que
estava. Ele escrevia e permaneceu escrevendo, movendo o pó das pedras
com Suas mãos para formar palavras que naquele momento representavam Seu
pensamento.
Hipócritas? Seria essa a palavra formada na areia? Jesus muitas vezes
tratou assim aos fariseus. "Hipócritas" naquele pedaço de chão nos
limites da sombra de Jesus. Poderíamos imaginar que escrevia sobre
muitas coisas, mas o que importou, de fato, foi o que saiu de Seus
lábios. Ele silenciou por alguns minutos, ignorou até o terror que
impuseram aos fatos, não se desesperou e ao escrever com o dedo na
terra, provocou murmurinhos e curiosidade.
Na areia
Jesus escrevia, movia o pó da terra em lembrança ao pó de que fomos formados e para onde todos tornaremos um dia:
- Com o suor do teu rosto comerás teu pão, até que te tornes ao solo. Pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás. Gênesis 3, 19
- Tudo caminha para um mesmo lugar; tudo vem do pó e tudo volta ao pó. Eclesiastes 3: 20
Aqueles anciãos eram pó, pecadores, e tantas vezes cometendo os mesmos
pecados e nem por isso se compadeceram da mulher. Mas Jesus que conhece
todas as coisas resolve a situação com a maestria que Lhe era comum:
“Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra
contra ela.
”
E o mar levou
Jesus perdoou aquela mulher, mas também recomendou que não pecasse mais.
Ela deveria seguir a vida e não voltar ao mesmo lugar de antes. Aqui
cabe uma lição retirada do mundo antigo onde os conquistadores, entes
de tornar os cativos parte de seu reino, destruíam suas casas para que
não houvesse possibilidade de tornarem ao mesmo lugar. Assim, em horror,
os cativos eram testemunhas de que suas casas eram completamente
destruídas por reis conquistadores. A partir dessa compreensão, temos a
ilustração do real significado de "voltar" e "arrepender": deixar a
velha casa para trás.
A velha casa onde a mulher adúltera vivia foi destruída e ela morreu
para tudo que ali havia. Não olhar para trás, para um passado de mágoa,
rancor, infelicidade. O encontro com Jesus era um marco, uma nova casa,
nova vida! Ela seria livre para servir, cativa do amor de Deus que a
julgou por digna.
Aquele momento, escrito na areia, pelos dedos de Jesus, fora levado pelo mar, como disse o profeta Miqueias em 7:18,19:
- Quem é comparável a ti, ó Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do remanescente da sua herança? Tu, que não permaneces irado para sempre, mas tens prazer em mostrar amor. 19 De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar.
O amor de Deus está revelado em Cristo Jesus que sarou nossas feridas e
perdoou nossos pecados no sacrifico da cruz. Se pecarmos recorramos a
Ele, se o mundo nos condena, Jesus absorve. Pela graça, o arrependimento
gera a vida de Deus em nós.
Aquela mulher deveria estar se sentindo deplorável, mas Jesus a olhou de
forma especial dando-lhe a oportunidade de mudar o rumo de sua
história. Podemos nos sentir condenados, acabados, tristes e sem saída,
por algum motivo. Mas o Evangelho é as Boas Novas que veio para
transformar nosso ser e consequentemente o viver.
- Se dissermos que não temos pecado, enganamos-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. 1 João 1:8-9
Que o encontro de Jesus com a mulher adúltera sirva de lição para que
não sejamos impiedosos diante do pecado alheio, mas que habite em nós a
misericórdia e o amor Divinos para perdoar assim como desejamos ser
perdoados. Sei que é difícil praticar esse ensinamento, mas entreguemos a
Jesus tudo quanto carece de perdão e Ele cuidará de nós.
Deus o abençoe.
Deus o abençoe.
fonte: http://www.atendanarocha.com/2013/11/jesus-escreveu-na-areia.html
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