Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão) – Parte 4



Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

(A Igreja sempre necessitou de reforma, porque isto significa a necessidade de sempre se zelar para trazê-la e mantê-la na sua pureza original primitiva, quando instituída por Cristo e seus apóstolos. Nota do tradutor).

Mas agora suponha que esta congregação da qual alguém é supostamente um membro, que não é reformada, não vai nem pode reformar-se, porque não se importam com este princípio da reforma , pois eles não reconhecem nenhuma necessidade disto. O foco deles está voltado para outros interesses. Qualquer separação havida nestas congregações não pode ser condenada.

Neste caso, eu pergunto, se é cisma ou não, para qualquer número de homens reformarem a si mesmos, por buscarem a prática de adoração na sua instituição de origem, ou por qualquer um deles se unir com outras pessoas para esse efeito e propósito? Corajosamente dizemos: Este cisma é ordenado pelo Espírito Santo, 1 Tim 6.5; 2 Tim 3.5; Os 4.15.
Nesse meio tempo, acho que o povo de Deus não está em qualquer sujeição. Não falo isso como o colocando como um princípio, que é o dever de todo homem se separar da igreja, onde homens maus e perversos são tolerados, mas digo isso somente me referindo à condição onde qualquer igreja seja dominada por uma multidão de homens ímpios e profanos, que não podem ser reformados, ou que não caminham de acordo com a mente de Cristo, o crente tem a liberdade, que ele pode abandonar a comunhão daquela congregação sem a menor culpa de cisma. (Conforme está autorizado por várias ordenanças das Escrituras. – Nota do tradutor).

Costuma-se objetar sobre a igreja de Corinto, que havia nela muitas desordens e enormes erros, divisões, e brechas no amor; bebedeiras em suas reuniões; pecados graves de pessoas incestuosas tolerados; falsas doutrina abraçadas; a ressurreição negada; e ainda Paulo não aconselha ninguém a se separar da igreja, mas que todos cumprissem o seu dever nela. (Com exceção do jovem incestuoso que não havia se arrependido por ocasião da escrita de I Coríntios, que ficou sujeito à excomunhão, mas ao que parece se arrependeu depois e foi reconciliado, conforme se vê em II Coríntios. – Nota do tradutor).

1. A igreja de Corinto era, sem dúvida, uma verdadeira igreja, recentemente fundada de acordo com a mente de Cristo, e não caiu deste privilégio por qualquer má gestão, nem tinha sofrido qualquer coisa destrutiva para a sua existência. Confessamos os abusos e males mencionados surgidos na igreja, e que aumentaram, aqueles muitos abusos que podem ocorrer em qualquer uma das melhores das igrejas de Deus. Nem venha a entrar no coração de qualquer pessoa, pensar que, tão logo cesse qualquer distúrbio, que os abusos acabem com ele, é portanto, dever de qualquer um, fugir disso, como os marinheiros de Paulo fugiram do navio, quando a tempestade ficou perigosa.

Este é o dever de todos os membros dessa igreja, não manchados com os males e corrupções da mesma, mediante muitas exortações para tentar ministrar o remédio para essas desordens, e para expulsar esses abusos extremos, e foi isso que Paulo aconselhou aos Coríntios que não haviam se contaminado, e assim, em obediência a eles, os demais foram recuperados.

Mas ainda digo isto, que a igreja de Corinto continuou na condição anterior, com pecados escandalosos que tinham ficado impunes, sem reprovação, a bebedeira continuou e era praticada nos cultos, os homens negando a ressurreição, então arruinaram todo o evangelho, e a igreja (os membros e os líderes que preservaram a são doutrina em suas vidas) se recusava a fazer o seu dever, e a exercer sua autoridade para expulsar todas as pessoas desordenadas com a sua obstinação de agirem contra a comunhão, tinha sido o dever de cada um dos santos de Deus naquela igreja, ter se retirado dela, para sair do meio deles, e para não se tornarem participantes dos seus pecados, a não ser que eles estivessem também dispostos a participar da sua praga; porque uma apostasia certamente ocorreria.

Em resumo,

1 . Eu não conheço nenhuma outra reforma de qualquer igreja, senão a de trazê-la à sua primitiva instituição, e à ordem atribuída a ela por Jesus Cristo.
E quando qualquer congregação ou reunião de homens não é capaz de tal renovação, não posso olhar para tal sociedade como uma igreja de Cristo.

2. Alguns pontos que devem ser sempre dignos da nossa atenção:

1. A verdadeira natureza de uma igreja instituída sob o evangelho, quanto à matéria, forma e todos as demais causas constitutivas, deve ser investigada e descoberta.
2. A natureza e a forma de tal igreja deve ser tomada da Escritura, e da história das primeiras igrejas, antes de terem sido sensivelmente contaminadas com o veneno da apostasia que se seguiu.
3. A extensão da apostasia sob o anticristo, em relação à ruína das igrejas instituídas, transformando-as na Babilônia espiritual, e sua prostituída adoração, deve ser cuidadosamente examinada.

4. Por qual caminho e meios Deus começou a renovação, e manteve vivos os seus eleitos, em suas várias gerações, quando as trevas cobriram a terra, deve ser devidamente considerado.

(Vivemos numa época em que é muito comum se ver vários genuínos cristãos, nascidos do Espírito, sem estarem congregando em razão de serem avessos à ideia de estarem vinculados a uma determinada congregação local; ou por terem sido decepcionados em sua experiência quanto à Igreja em que congregaram e nas quais não encontraram uma unidade de caráter verdadeiramente bíblico; outros por terem sido submetidos à disciplina por motivo de um viver desordenado contrário às ordenanças do Senhor, e ainda, talvez, seja este um dos piores casos, em que se encontra a grande maioria, a saber, aqueles que se acomodaram a um estilo de vida chamado cristão ou evangélico, mas que todavia nada ou pouco tem a ver com o propósito divino em relação aos cristãos individualmente e como igreja.

Estes, muitas vezes são enganados ou se auto-enganam por pensarem que o modo de unidade que tanto lhes agrada no ajuntamento dos santos reflete aquela comunhão que é de fato real e que se baseia em unidade de fé, de amor e da sã doutrina bíblica.
Como os cônjuges que consentem estar sob o mesmo teto mas que não vivem na comunhão conjugal designada por Deus, de igual modo é muito comum se viver na mesma congregação sem que haja a comunhão verdadeira que identifica o verdadeiro corpo de Cristo.

(Há um trabalho da graça de Jesus nos cristãos no sentido de lhes educar a renunciarem à impiedade e às paixões mundanas, e a viverem de modo sóbrio, justo e piedoso (Tito 2.12).
E este modo de vida está muito além do mero campo da moralidade ensinada pelos filósofos e educadores seculares. E também, extrapola e pouco se identifica com o misticismo baseado numa suposta posse de poder para operar sinais e maravilhas, que esteja dissociado da referida vida piedosa produzida pela graça.

Quão ineficaz é incentivar as pessoas a estarem debaixo deste suposto poder de Deus para serem abençoadas, e na verdade pode mimá-las e incentivá-las a se tornarem dependentes da procura de atendimento de desejos quase sempre carnais, interesseiros, egoístas, quer em suas orações, quer nas expectativas que criam em torno do que lhes poderá fornecer o culto público.

É comum que se faça imposição de mãos para este propósito e outras práticas, todavia a expectativa dos que buscam a “bênção” nunca se refere a uma maior busca de santidade, de amor, de longanimidade, domínio próprio, de misericórdia, bondade, benignidade e todas as demais virtudes que estão ocultas em Cristo e que não podem ser recebidas por nós em forma de graça amadurecida, numa ministração momentânea, senão na árdua diligência do caminho progressivo da santificação, pela operação da cruz na aprendizagem da perseverança nas tribulações, que produz experiência e esperança (Rom 5.3,4).

A imposição de mãos pode ser eficaz para a recepção dos dons sobrenaturais do Espírito que são citados em I Coríntios 12 e 14, para a ordenação ministerial, para a cura de enfermidades, para a conversão, entre outras operações, mas jamais para produzir a vida do varão perfeito, pelo amadurecimento do fruto do Espírito, no processo progressivo da santificação. Se é progressivo, como pode ser obtido numa ou em algumas ministrações por imposição de mãos ou por quaisquer outros meios de aplicação instantânea?
Dificilmente se verá a realização de apelos nos cultos públicos para as pessoas se consagrarem à prática santa referida, mormente porque suas expectativas estão normalmente relacionadas à busca de melhoria financeira, cura de enfermidades físicas, e também busca de trabalho, de cônjuge, e todo tipo de busca do que é temporal e não espiritual.

Ainda que seja lícito este tipo de busca, e por ter amparo bíblico, todavia, a ordem apresentada é buscar o reino espiritual de Deus e a sua justiça, em primeiro lugar, e então, se tem a promessa de receber o que for temporal e de fato necessário a nós, por acréscimo.

Se focamos o objetivo de nosso Senhor ter vindo a este mundo para que pudéssemos alcançar prioritariamente o que é secular e temporal, nos desviamos inteiramente do alvo proposto por Ele e conforme podemos aprendê-lo em toda a Bíblia e especialmente no Evangelho, porque se afirma qual é a missão do cristão neste mundo, a saber, proclamar as virtudes de Jesus (I Pe 2.9), e isto não é feito apenas pela pregação e ensino do evangelho, mas pelo testemunho de uma vida deveras santa e piedosa, que manifesta ao mundo o poder da graça de Deus para a transformação das vidas daqueles que antes andavam nas trevas, e que agora vivem na sua maravilhosa luz.

Quando, no culto e na adoração que prestamos a Deus, nos contentamos com mera moralidade, que é algo externo, e nem sempre procedente do coração, ou com práticas místicas, ascéticas ou de qualquer outro caráter, que pouco ou nada têm a ver com aquela vida espiritual, fruto da operação das virtudes de Cristo pela graça, podemos estar certos de estarmos trabalhando para o vento, uma vez que o que Deus sempre requererá de nós é adoração e santificação baseadas na verdade, ou seja, naquilo que nos é ensinado e ordenado na Sua Palavra, como aquilo que deve ser obtido por nós (João 4.23,24; 7.17).
São inumeráveis os textos bíblicos que nos apontam o dever da santificação e que nos explicam qual é o caráter desta santificação.

Então, jamais poderemos ser desculpados por Deus em razão de usarmos o nosso zelo, fervor ou sinceridade como justificativa para as práticas de culto e adoração que adotamos e que não encontram respaldo naquilo que Ele nos ordena na Sua Palavra.
Ele pode, neste caso, até mesmo tolerar e usar de longanimidade com a nossa ignorância, mas não pode nos aprovar e nos considerar agradáveis a Ele, se agimos diretamente contra a Sua vontade; e certamente, a graça se empenhará em nos ensinar, no tempo oportuno o modo pelo qual importa glorificá-lo, deixando nós as coisas de menino.
A face amada do Senhor será vista pela nossa santificação, que está baseada na Sua Palavra (Hb 12.14).
Ele tem declarado a quem aceitará e aprovará, em textos como os seguintes:

Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.

2 Co 7:1 Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.

1Ts 5:23 O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

2 Pe 3:11 Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,

2 Pe 3:14 Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis,

1 Jo 3:3 E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.

Não é da vontade de Deus que nenhum de seus filhos venha a errar o alvo da sua vocação, afinal foram chamados para a santificação do Espírito, I Pe 1.2, e há portanto uma convocação a todos eles para crescerem na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, II Pe 3.17,18.

Que o Senhor portanto, nos ajude a não errarmos o alvo do modo pelo qual importa ser servido e adorado. Que ele nos livre da falta de zelo, da falta de fervor de espírito, e também de uma ortodoxia morta, que não tenha a unção do Espírito Santo, e ainda de todo tipo de prática com aparência de ser piedosa e poderosa e que não passa muitas vezes senão de coisa de meninos, ainda sem entendimento do tipo de maturidade espiritual que nos é ensinado na Bíblia, para ser buscado por nós com toda a diligência, para o agrado e para a glória de Deus.

Para tanto, temos recebido o Espírito Santo, para nos conduzir ao conhecimento e prática de toda a verdade, e portanto, Ele sempre agirá com base nos princípios revelados na Bíblia, e nunca por nossa imaginação, emoção e sentimento do que seja uma vida poderosa em Deus. – nota do tradutor)


Fonte:https://estudos.gospelmais.com.br/nem-toda-separacao-de-igrejas-e-cisma-divisao-parte-4.html

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