A armadura de Deus

 
“Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo...” Ef 6.10-17.

            Quando o apóstolo Paulo escreve sua carta aos Efésios, no final da carta, fala sobre a armadura de Deus. Essa armadura é símbolo de um conjunto de elementos, ou mesmo, doutrinas do evangelho que devem estar sempre vívidas em nossa mente e prontas no nosso dia a dia para enfrentarmos as “ciladas” do inimigo.
            Notemos que a luta é espiritual, mas isso não significa imediatamente uma luta mística. Assim, cabe corrigirmos aquela ideia que existe de uma batalha travada constantemente nas regiões celestiais que estão infestadas de demônios e anjos que, a todo o momento, estão em conflito cósmico; e que nossa realidade é sempre moldada a partir de nossas ações como orações, rituais e sacrifícios que ajudam para que o bem vença o mal[1]. Essa visão de batalha espiritual é radical e não condiz com uma analogia bíblica, ou seja, as Escrituras, de modo geral, não formam esse quadro. Não há realmente um conflito entre o bem e o mal na perspectiva divina, pois o “mal” que conhecemos personificado no Diabo é submisso ao Senhor e cumpre apenas suas ordens. Também nas vidas dos filhos de Deus o inimigo não tem autoridade alguma a não ser se delegada por Deus. Essa ideia de conflito e guerra que temos poderia ser mais amenizada se vista pela perspectiva que os judeus do antigo testamento tinham quando viam todas as coisas sendo executadas unicamente pela vontade de Deus. Assim, na páscoa se diz que o Senhor matou todos os primogênitos do Egito... (Ex 12.29), se falou do espírito que atormentou o Rei Saul como sendo enviado por Deus (1Sm 16.14) e Jó disse que tudo que havia conquistado e tudo que havia perdido deveria ser reputado à ação de Deus e Ele era sempre bendito (Jó 1.21). Além do mais sabemos que Deus é soberano e tudo acorre como lhe apraz. Nenhum simples pássaro cai se não for da vontade de Deus (Mt 10.16).
 
Desta forma, ao contrário do que muitos pensam, em nossa “batalha espiritual” não temos elementos inovadores, rituais sofisticados ou pedidos exóticos, temos um apelo ilustrado para que creiamos na essência do evangelho simplesmente. Parece que a simplicidade desse “método” não é muito aceita hoje em dia. As pessoas querem algo inovador, arrebatador, falar que “o segredo” é entender e viver o evangelho parece fora de moda, fora de cogitação. Não há nenhum “Rhema” nisso. Não há nenhuma “nova revelação nisso”. Não há – parece – uma “Palavra de Poder” nisso. Contudo, esse é o evangelho e essas são as legítimas “armas” listadas para nós.
            Mas, por outro lado, também não devemos pensar que não existe nenhum conflito em termos humanos. Sabemos que nós temos que: aprender, crescer e frutificar; para isso temos alguns desafios a vencer. A Palavra nos diz que temos que vencer a nós mesmos, o mundo e o inimigo. Isso, não numa perspectiva de luta mística, mas sim numa perspectiva de santificação, ou seja, de aperfeiçoamento e crescimento em Deus diante das situações da vida.
            Neste plano de fundo cabe entendermos nossa “batalha espiritual” não como uma disputa mística acirrada contra o diabo, mas como uma disputa argumentativa entre o conhecimento de Deus e todo conhecimento contrário. Neste sentido, o principal método do oponente contra o conhecimento de Deus é utilizar-se do engano.
A palavra ‘cilada’ (methodeia) pode também ser traduzida como ‘trapaça’ ou ‘engano’. Isso nos diz muito sobre o método do inimigo. Sua principal arma é tentar nos enganar. Erramos quando atribuímos muitos poderes ao inimigo e o elevamos acima da realidade a qual ele se encontra. Ele não tem liberdade para sair por ai matando pessoas literalmente, destruindo o que quiser, oprimindo a quem lhe apraz, lançando câncer ou outras doenças fulminantemente nas pessoas. A estratégia principal do inimigo é o engano. Lembremos da tentação de Adão e Eva. Ele tentou e enganou Eva e pronto. Lembremos da tentação de Jesus, o inimigo tentou enganá-lo e usou até mesmo a Palavra para isso, mas sem êxito foi derrotado numa batalha puramente argumentativa. Numa batalha travada mais na mente do que no corpo. Jesus ainda nos alertou que o Diabo é o pai da mentira e procede sempre baseado no engano. Assim, essas ciladas do Diabo são mais direcionadas à mente, são tentativas para minar a fé, a esperança, o evangelho. São conflitos que tentam confundir a Palavra de Deus. E devemos ampliar nosso entendimento de “batalha espiritual” para esse prisma de batalha na mente travada argumentativamente até porque o próprio apóstolo Paulo nos explicou assim: “As armas com as quais lutamos não são armas do mundo; ao contrário, elas têm poder divino para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2 Coríntios 10:4-5).
Por isso, as armas oferecidas por Deus são armas diretamente ligadas ao conhecimento basilar do evangelho. Começando com a verdade que é a própria Palavra de Deus - “A tua Palavra é a verdade”. Indo para a justiça “Justificados, pois agora tendes paz com Deus” passando pelo evangelho da paz “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus”, chegando até a fé “Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a provas das coisas que não se veem”. Depois considerando a salvação “Pela graça sois salvos por meio da fé e isso não vem de vós é dom de Deus” e a própria Palavra de Deus “A Palavra do Senhor é viva e eficaz”.
Espadas, lanças, escudos, dardos, poderes, anjos, demônios e conflitos cósmicos? Não! Nossa luta é argumentativa e nossa arma é o evangelho!


[1] O livro “Este mundo tenebroso” que foi sucesso de vendas algum tempo atrás é uma literatura com esse caráter.
 
fonte:http://teologiacritica.blogspot.com.br/search?updated-max=2013-07-21T17:54:00-04:00&max-results=30

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