Is. 6.1-8
Introdução
O profeta
Isaías viveu e exerceu seu ministério num momento bastante delicado em Judá. O
contexto político, ético, moral e espiritual não era dos melhores. Tanto é que
no começo de seu livro Isaías faz sérias advertências contra a nação (“Ai desta
nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores;
abandonaram o Senhor, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás”) - Is
1.4.
Num
determinado momento (no ano em que morreu rei Uzias), talvez no auge da
dificuldade Isaías resolve buscar auxílio do Senhor e tem uma experiência
marcante que muda o próprio profeta e o impulsiona ainda mais ao serviço
missionário.
É sobre
essa experiência e sobre algumas de suas implicações sobre o fazer missões que
iremos meditar agora.
I- A EXPERIÊNCIA DE ISAÍAS
É importante falarmos um pouco sobre
a experiência de Isaías e o que ela significou. Primeiramente, não vemos Isaías
buscando experiências. Não há nenhum indício de que Isaías estivesse com um
plano arquitetado para ver o “Senhor, assentado num alto e sublime trono”. Na
vida do profeta não havia essa busca, essa inquietação. Alias, segundo alguns
estudiosos, no tempo dessa experiência Isaías já era profeta e com essa
revelação de Deus aconteceu um chamado ainda mais especifico, sendo assim,
Isaías já servia ao senhor sem ter tido grandes momentos, grandes vislumbres de
Deus. Ele simplesmente cria e falava a mensagem do Senhor. Dessa maneira também
devemos nos comportar. Apesar de termos uma forte tendência a valorizarmos
experiências, devemos nos acautelar. Muitas vezes estamos invertendo a ordem
das coisas, querendo e buscando muitas experiências e deixando Deus e sua
vontade de lado. Experiências com Deus existem e surgem naturalmente na vida do
crente, contudo não podemos nos tornar crentes movidos por experiências e
obcecados pelas mesmas. Não vivemos primeiramente para sentir a Deus, vivemos
primeiramente para nos relacionar com Ele, entendendo-O, obedecendo-O e
amando-O. O apóstolo Paulo fala: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos
anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que
retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo
o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor,
nada serei.” 1 Co 13. Poderíamos parafrasear e aplicar esses versículos em
nossa reflexão assim: “Ainda que eu tivesse experiências sobrenaturais
fantásticas e usufruísse de grandes dons se não conhecesse realmente a Deus que
é Amor nada disso valeria.” Se observarmos bem, o texto aponta um objetivo
claro e uma grande necessidade para ocorrência desse encontro sobrenatural de
Deus com Isaías. Aparentemente Deus apenas queria falar a Isaias: “Quer ir por
nós e realizar uma obra especial?”. Em nosso movimento missionário, devemos
sempre e constantemente buscar a Deus e as experiências, quando surgirem, devem
ter um claro propósito e fim, não acontecem por acaso e não devemos buscá-las
simplesmente por buscar.
II- SEM TEOLOGIA, SEM MISSÃO
Um fato importante é que Isaías viu
o Senhor! Em sua visão, o Senhor é apresentado como um grande governante, pois
está assentado num trono. Isso é o que na teologia chama-se de soberania de
Deus. Além disso, é enfatizada a sua santidade, pois os serafins diziam:
“Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos”. Temos também a transcendência e
a imanência, pois Deus está num alto e sublime trono, ou seja, transcendente à
nós e a natureza, contudo, está também perto pela imanência, pois toda terra
está cheia da sua glória. Isaías também conheceu a graça de Deus quando sua
iniquidade foi perdoada e purificado foram os seus pecados. Em nosso movimento
missionário é imprescindível conhecermos ao nosso Deus. Precisamos conhecer sua
vontade, sua Palavra, a sã doutrina. Precisamos saber o que falar, como agir,
em que crer e o que pregar! Precisamos, não de sabedoria humana, não de cursos
e mais cursos, precisamos, primeiramente da revelação de Deus. Precisamos
aprender com o Senhor, olhar para Ele, nos amoldarmos a Ele para refletirmos a
luz que vem Dele. A teologia deve ter primazia na vida cristã. O estudo da
Palavra vem em primeiro lugar sem dúvida. Muitos podem até achar isso estranho
e dizer: “Mas, a adoração não deve vir primeiro?”, ou “A oração não deve vir
primeiro?”, ou ainda: “Não devo cuidar de mim e da minha família primeiro para
depois estudar teologia?”. Não, primeiramente a teologia, mas teologia no
sentido de aprender sobre Deus conforme sua vontade. Não falo de teologia de
ter que fazer um curso acadêmico. Teologia em sentido amplo Deus + Estudo (teo
+ logia), conhecimento de Deus. Por que pensamos que ela deve ter primazia?
Pensamos assim pelo simples fato que a vontade de Deus ser aquela que guia
nossas vidas, então deve vir primeiro. A vontade de Deus guia nossas orações,
guia nosso trabalho, nos orienta quando a adoração, nos baliza a servir ao
próximo, nos ajuda a cuidar de nós mesmo e de nossa família. Invertamos a ordem
e adoraremos talvez de modo que desagrade a Deus, não cuidaremos corretamente
de nós mesmos nem de nossa família, trabalharemos com métodos talvez paralelos
à vontade de Deus e não teremos segurança alguma nas demais coisas. Assim,
teologia primeira para minha vida e para meu serviço missionário.
III – CONHECENDO A DEUS,
CONHECENDO AO HOMEM
Como consequência de Isaías ter
visto ao Senhor, ele viu a si próprio! De repente estava falando: “...ai de
mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no
meio de um povo de impuros lábios...”. v.5. É importante termos e realmente
teremos a exata visão de quem somos. O Senhor nos revela isso quando se
encontra conosco. Percebemos nossa pequenez e ao mesmo tempo a grandeza dEle.
Isso deve ser marcante e duradouro. Não deve ser uma impressão momentânea, deve
marcar nossas vidas para sempre até porque essa realidade não mudará. Deus
continuará sendo grandioso e nós continuaremos sempre pequenos. A criatura é
criatura e o criador, criador. Também a própria palavra usada para descrever a
santidade de Deus quando os serafins falam santo, santo, santo dá a entender
que Deus é diferente, é separado do povo. Deus é diferente do homem.
Essa marca fixa de termos sempre
Deus exaltado e o homem rebaixado é fundamental em nossa vida missionária.
Teremos com essa perspectiva a facilidade de sempre nos submetermos ao Senhor.
Teremos sempre em mente a necessidade da graça de Deus, pois se Ele não o fizer
estaremos perdidos. Manteremos sempre o respeito e reverência ao Senhor e não
nos ensoberbeceremos diante de Deus e dos outros. Não somos melhores do que
ninguém. Não somos mais elevados. Isaías não se viu melhor do que seus
compatriotas. Somos vasos de barro e continuamos a ser, a diferença é que
dentro desse vaso está a graça de Deus a qual deve ser manifestada às demais
criaturas.
Vale
lembrar também que aquele que não se arrepende, não vê seu próprio pecado, não
tem a consciência da necessidade de salvação, nem mesmo pode ter sido salvo. A
conversão envolve arrependimento e fé ao mesmo tempo. Arrependimento quanto ao
mal e fé quanto ao bem. Quem não passa por esse momento de conversão não pode
ser missionário, na verdade é alvo da missão. Quem não vê ou percebe sua
pecaminosidade nunca teve um encontro genuíno com o Senhor, pois, como vimos, o
Senhor nos desvenda. Foi assim com o encontro de Jesus com a mulher samaritana,
quando ele disse a ela: “traga seu marido” Ele foi exatamente no problema que
ele estava passando. Foi diretamente no pecado dela. Não para ridicularizá-la,
mas para sondar seu coração e promover libertação. A mulher foi sincera e
assumiu sua condição de pecadora. Ela disse que o homem que estava com ela não
era seu marido. Ela poderia ter inventado um história qualquer, mas preferiu
dizer a verdade e se ver como realmente é.
IV – EIS-ME AQUI
Ao que parece Isaías encarou a
situação como quem não tinha opção. Ele encarou o questionamento quase como uma
ordem direta. “Quem há de ir por nós?”. Realmente Isaías não viu opção porque
não há. O próprio Jesus já deixou claro a todos os seus discípulos que devem
“ir pelo mundo pregar o evangelho a toda criatura”. Em nossa caminhada cristã
devemos assumir imediatamente nosso chamado missionário. Todos nós temos um
chamado. Todos nós fomos enviados. A diferença só está na especificidade do
chamado, mas todos já fomos comissionados. Quão difícil é, às vezes, a igreja
entender essa realidade. Não entender intelectualmente apenas, mas entender
para praticar. Entender para mudar de vida, de ação. Cabe a nos fazermos uma
pergunta: temos sido missionários? Temos dito sim ao chamado? Temos pregado o
evangelho às pessoas próximas de nós? Temos feito o bem a todos? Praticado o
amor cristão? Ou temos nos escondido? Temos nos omitido? Colocado vários
elementos em primeiro lugar? Será que entendemos a importância da obra de Deus?
E da resposta eis-me aqui?
V
– O QUE DIZER?
Após a afirmativa de
Isaías, ele ouve a instrução do Senhor: “Vai e dize” (v.9). Isaías não inventou
a mensagem que falaria. Não produziu um conhecimento, uma teoria para falar.
Falou aquilo que Deus quis. Falou a Palavra de Deus.
Talvez essa seja uma das maiores dificuldades em
nossa época. Precisamos nos perguntar: “O que estou falando em minha
pregação?”. O evangelho não é uma mensagem que possa ser fabricada, manipulada,
reeditada. O evangelho não são palavras para agradar. Não podemos confundir o
evangelho com psicologia, sociologia, filosofia ou qualquer outra mensagem. O
evangelho não é isso. E devemos saber o que é o evangelho para podermos pregar
o evangelho. Precisamos saber o que falar para falar. Mas, de modo bem
objetivo, podemos dizer que nossa mensagem é a Palavra de Deus. Não filosofia
humana, nem palavras de homens. É Palavra de Deus da maneira que Ele quer que
seja dita. Mesmo que alguns chamem de loucura. Outros achem absurdo. A Palavra
permanece para sempre.
A grande tendência de nossa época e de muito
pregadores é anunciar uma Palavra de vitória. Uma Palavra otimista. Uma Palavra
positiva. É comum ligarmos a televisão e sempre acharmos uma pregação que nos
prometa a solução de algum problema. A vitória sobre alguma crise fazendo isso,
isso e aquilo. Contudo, a mensagem do evangelho é a Palavra que Deus quer e não
a que o homem quer. Muitas vezes essa mensagem não agrada muito as pessoas. Nem
por isso deixaremos de proclamá-la. Jesus, os discípulos, Paulo, e outros até a
presente época são perseguidos e odiados pela sua mensagem, pela proclamação do
evangelho. Se observarmos, Isaías recebeu a incumbência de falar palavras
pesadas contra aquele povo obstinado. A mensagem é que esse povo ficaria cego e
surdo, não veria nem ouviria a mensagem até ser julgado e a partir daí, o
Senhor levantaria o remanescente de Judá. Simples assim. Isaías tinham uma
mensagem de condenação. Jeremias também. E tantos outros profetas. Sabe como
Isaías morreu? Conta à tradição que ele foi serrado ao meio. Por que será? Porque
falou palavras de vitória e otimismo quando Deus não as queria? Claro que não.
Pode ter morrido assim por causa da fúria dos ímpios e obstinação em não
reconhecer seus pecados e não se submeterem ao Senhor.
Mas,
o que é evidente, é que devemos ter a mensagem do Senhor. A Palavra do Senhor
em nossos lábios em nossa caminhada missionária. Fomos chamados para sermos
embaixadores do Rei e embaixador só fala aquilo que é da parte do Rei.
Conclusão
Essa breve reflexão nos faz refletir
sobre nossa prática missionária. Posiciona corretamente o lugar das
experiências em nosso relacionamento com Deus, nos mostra a importância da
teologia, nos faz olharmos para nós mesmos, nos alerta quanto ao chamado universal
dos crentes e nos baliza quanto ao que falarmos para evangelizar o próximo.
fonte:http://teologiacritica.blogspot.com.br/
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