Implicações teologicas de Josué 1. 1-9

 
INTRODUÇÃO

O livro de Josué narra a efetiva tomada da terra prometida. Josué o líder escolhido por Deus após a morte de Moisés tem o desafio de entrar na terra, conquistá-la e dividi-la entre as tribos de Israel. Acontece que tudo isso deveria ser feito pela fé, assim, o livro pode ter o tema: “A conquista pela fé”. “Pela fé, caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias.” Hb 11.12.
A presente reflexão será uma leitura teológica dos primeiros nove versículos do livro. Tentaremos perceber a ação de Deus em relação ao seu povo que podem ser generalizadas como ações ou atitudes de Deus para com seu povo em todas as épocas. Claro que nesta implicação devemos ter o cuidado em confirmar que toda a Escritura apoia as conclusões advogadas a partir deste texto, pois o texto em si, de Josué, não é diretamente uma mensagem para nós e o próprio texto não ensina diretamente as conclusões obtidas, contudo, implicitamente e com base numa aplicação saudável, usando a analogia bíblica tentaremos tirar algumas conclusões acerca da ação de Deus para com seu povo.

I – DEUS SE IMPORTA COM SEU POVO.
Existem duas ideias básicas a respeito do relacionamento de Deus com a criação que vale a pena relembrarmos rapidamente. A primeira afirma que Deus existe, criou todas as coisas, tem todos aqueles atributos incomunicáveis descritos na bíblica, mas Ele não se relaciona mais com a criação, ou seja, fez tudo e se afastou da criação para que ela prosseguisse por si mesma. Essa ideia é conhecida como deísmo.  Tal ideia surgiu quando o racionalismo influenciou o mundo e os “crentes” para não descartarem totalmente a pessoa de Deus, argumentaram que Ele apenas era totalmente transcendente, ou seja, não alcançável. Ele não se manifestava e não se relacionava com a criação. A criação deveria traçar e trilhar seu próprio caminho. Às vezes somos tentados a pensar assim. Quem nunca se perguntou onde está Deus? Pense naqueles momentos difíceis em que clamamos, oramos e buscamos, mas onde está Deus? Muitas vezes Deus realmente está tão longe e tão oculto que pensamos ser verdade que Ele nos largou. Outros por procurarem e não encontrarem já afirmam categoricamente que Ele não existe. Mas, o deísmo obviamente é uma ideia errada e o ateísmo pior ainda.
A segunda ideia acerca de Deus afirma que Ele além de criar, se relaciona continuamente com a criação. Este pensamento é classificado como teísmo e representa o ensino bíblico sobre o relacionamento entre Deus e a criação. Então, não importa o que eu pense ou ache, as Escrituras definem Deus em ação com a criação. Mesmo que eu não consiga ver, mesmo que não consiga sentir, devo crer e glorificar a Deus por isso. Ele age quer vejamos ou não. Ver Salmo 147.
                Contudo, mais do que se relacionar com a criação, Deus mantém um relacionamento ainda mais especial com um povo que é sua propriedade particular, um povo eleito e escolhido para ser seu.
Este texto mostra o cuidado de Deus com o seu povo. Se pensarmos bem, este momento histórico já é uma continuação do que Deus havia iniciado no Egito quando tirou seu povo de uma condição de escravidão.
                Deus havia dito a Moisés: “(...) Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel...”. Ex 3.7-8.
                Ora, se Deus cuida de seu povo é Ele quem se preocupa em dar continuidade aos seus planos. Apesar de nossas inseguranças, Deus tem sempre no controle a continuidade para seu povo. Não é porque Moisés estava morto que as coisas iriam agora por água abaixo. Deus cuidaria para que houvesse continuidade na conquista da promessa. Deus não deixaria o povo perecer simplesmente à beira do Jordão. Imagine a cena, o povo sai do Egito com todo glamour viaja pelo deserto adquirindo fama e estrutura. Chega à beira do território cananeu, Moisés morre e o povo perece! Sem lógica e vergonhoso, não? Mas, porque não aconteceu assim? Por que Israel era corajoso? Valente? Porque já tinha um exército forte? Não! Essa triste cena só não aconteceu porque DEUS SE IMPORTA COM SEU POVO. Foi pela intervenção de Deus e iniciativa Dele que as coisas prosseguiram.
Interessante é generalizar este relacionamento. Assim, não só o Israel daquela época é privilegiado, mas todo o povo de Deus em toda época goza dos mesmos benefícios e da mesma graça de Deus ter misericórdia e se dispor a olhar para nós. Nas palavras do salmista: “O Senhor apoia e ajuda os humildes” Sl 147.6.
                 
                II – DEUS É FIEL PARA COM SEU POVO
                Além de Deus se importar com seu povo, Ele é fiel, ou seja, tudo que Ele afirma, promete ou faz está baseado na sua fidelidade. Bom para nós, pois decididamente somos infiéis. Se Deus fosse infiel conosco assim como somos infiéis com Ele estaríamos destruídos. Mas, ele é fiel independente de qualquer coisa. Observe que o livro de Josué marca o clímax de uma conquista que mostra a fidelidade de Deus indiscutivelmente, pois esta terra, como o texto várias vezes afirma, foi prometida aos antepassados daquela geração. E sabemos que no transcorrer do tempo o povo foi infiel diversas vezes. No próprio deserto a caminho de Canaã, um episódio marcante foi a construção do bezerro de ouro. Mal tinha Moisés virado as costas e o povo estava cultuando outro deus. Fora isso, o povo também reclamou muito, foi medroso, incrédulo e soberbo. Ah, vale lembrar que após a conquista da terra prometida o povo continuou a ser infiel é só lermos o livro de Juízes para nos envergonharmos desse fato. Ah, mais ainda, o povo de Deus insistiu e continuou infiel no tempo de Saul, Davi e Salomão. Também no tempo dos outros reis a coisa não melhorou muito. Após o exílio da Assíria e da Babilônia, adivinha? É, o povo continuou infiel. Quanto Jesus Cristo veio ao mundo Israel continuou infiel. E, por surpresa, nós hoje, povo de Deus, ainda somos infiéis. Ah, a futura geração também será infiel. Devemos de uma vez por todas acreditar que o agir de Deus está baseado sempre na sua incompreensível graça e que ele foi, é e será fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. Esse fato deve nos produzir um constrangimento enorme seguido de uma alegria profunda e uma segurança eficaz por saber um pouco mais do caráter do nosso Senhor. Ele é fiel.

III – DEUS FALA COM SEU POVO
                “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias , pelo Filho.” Hb 1.1.
                Deus falou com Abraão, Isaque e Jacó. Alias é registrado que cada um teve uma experiência especial com Deus. Deus se revelou de modo especial a Moises e depois falou claramente com Josué. O fato é que Deus fala com seu povo. Isso deve ser levado a sério. Não temos um Deus mudo. Não temos um Deus indiferente. Temos um Deus que fala, orienta, instrui e aconselha. “Instruir-te-ei e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.” Sl 32.8.
Temos ouvido a voz de Deus? Se não, o problema certamente não está nele e sim em nós. Um dos problemas básicos em não se ouvir a voz de Deus está no fato de muitas vezes não sabermos como Deus fala. Pensamos enganadamente que todas as falas de Deus devem ser sobrenaturais e ao som de trovões. Temos dificuldades de adquirir a sensibilidade de observarmos uma indicação geral baseada nos próprios princípios bíblicos já nos oferecidos e usarmos a mente que Deus nos deus para julgamento e tomada de decisão. Pior ainda é que muitas vezes não consideramos isso como sendo a voz de Deus. Ora, se baseio minha decisão na Palavra de Deus e se uso a mente renovada de Cristo para isso, o resultado é que foi direcionado sim pela voz de Deus. Podemos dizer (e sentimos mesmo isso) que estamos ouvindo a voz de Deus. Mas a voz de Deus não é audível? Podemos responder sim e não. Sim, pois em alguns momentos ela é. A orientação é clara e como uma voz de outra pessoa falando. Mas, dizemos não para mostrar que este modo é uma exceção. Nem sempre a voz de Deus é audível literalmente falando simplesmente porque este não é o método geral de comunicação escolhido por Ele mesmo, caso contrário não precisaríamos de Bíblia. De alguma forma Ele preferiu que a revelação fosse Escrita e preservada formalmente e quer que nos voltemos, de modo geral, para ela a fim de alcançar a sabedoria. Assim, ouvir a voz de Deus é meditar em sua palavra e tirar conclusões sábias baseadas nela. Por isso o Senhor enfatiza a Josué que é imprescindível a leitura e a meditação da Lei para que seus caminhos (projetos de conquista na terra prometida) fossem estabelecidos.

IV – DEUS TEM PROMESSAS PARA SEU POVO
                É impossível dizer que o povo de Deus ficou sem ter alguma promessa em qualquer período da história. E por quê? Porque sempre Deus quis mostrar e dar algo melhor ao seu povo. Quis sempre trabalhar dando esperança, mostrando que os problemas de nossa realidade serão passageiros e nos ensinando até mesmo a lidar com a própria dificuldade da realidade sabendo que o que nos espera é incomparavelmente melhor. Para Israel havia a promessa da terra. Para Igreja há a promessa do céu. Também temos a promessa da ressurreição, da vinda de Cristo, do novo céu e nova terra. Promessas gerais para o povo de Deus. O bom é que se compararmos o que ocorreu no passado com as promessas de Deus a seu povo temos maior confiança sobre o que ocorrerá com suas promessas a nós hoje. A promessa da terra foi cumprida com Josué. Deus cumpriu o que propusera, Ele não é como nossos políticos atuais. A promessa do Messias também se cumpriu a risca, aliás só sobre o Messias haviam centenas de profecias específicas que se cumpriram. Só por curiosidade vejamos algumas. Onde o Messias deveria nascer? “E eles responderam: ‘Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo” Mt 2.5-6. Onde o Messias iria crescer? “Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’” Mt 2.23. Foi chamado de Nazareno porque cresceu na cidade de Nazaré. Qual a missão do Messias?: “’O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor’. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir’”. Mt 4.18-21.
                Mais do que promessas gerais, temos algumas vezes clareza de promessas específicas de Deus para nós. Lembrando que Deus se importa conosco. Temos promessas de cura, emprego e prosperidade. Promessas com relação a um parente, ao cônjuge ou aos filhos. Consideremos também as promessas diretamente ligadas ao serviço no reino quando alguns são comissionados a pregar o evangelho, ministrar a palavra, servir à Igreja. Alguns são chamados para missões até mesmo radicais que envolvem um aspecto de entrega imensa envolvendo até mesmo muito sofrimento. Promessas existem em consequência do que afirmarmos sobre Deus, Ele se importa conosco, Ele é fiel e ele fala conosco. Assim, é inevitável que Deus nos prometa uma sorte de elementos que nos auxiliem na caminhada.
                Mas, o mais incrível não é nem a promessa, mas sim saber que temos certeza do seu cumprimento. O que Deus falou Ele há de cumprir, pois Deus não é homem para mentir nem filho de homem para se arrepender.

V – DEUS ACOMPANHA SEU POVO
                A Bíblia Viva traduz Js 1.9 assim: “...Lembre-se bem: O Senhor, o seu Deus, estará com você, esteja onde estiver!”. Talvez devêssemos dizer como Moisés disse em determinado momento: “Senhor, se não fores comigo não irei”. Realmente sem a presença do Senhor nada valeria a pena. A Palavra diz que na presença do Senhor não há falta de nada. Além do mais em Tua presença há “plenitude de alegria” e na tua destra “delícias perpetuamente” Sl 16.11.
                Josué recebeu a notícia mais importante: Deus estaria com ele! O povo de Deus recebeu uma grande dádiva: Deus está conosco! Talvez o texto de Isaías sintetize a ideia da importância da presença do Senhor. Isaias profetiza: “...Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo nome; tu és meu. Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Is 43.1-2.
                Jesus prometeu o mesmo a Igreja. “...E eu estarei sempre com vocês, até o final dos tempos”. Mt 28.20.

                Deus acompanha seu povo.

                CONCLUSÃO
                Este olhar teológico sobre o texto estudado teve realmente a missão de perceber o aspecto divino envolvido na narrativa. Saber que Deus se importa conosco, é fiel, fala conosco, tem promessas para nós e pessoalmente nos acompanha devem ser motivos suficientes para edificação pessoal. Aliás, considerando essas características de Deus estaremos afirmando nossa plena dependência Dele.
 
fonte:http://teologiacritica.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Clique aqui para colocar este site aos seus favoritos!