INTRODUÇÃO
O livro de Josué narra a efetiva
tomada da terra prometida. Josué o líder escolhido por Deus após a morte de
Moisés tem o desafio de entrar na terra, conquistá-la e dividi-la entre as
tribos de Israel. Acontece que tudo isso deveria ser feito pela fé, assim, o
livro pode ter o tema: “A conquista pela fé”. “Pela fé, caíram os muros de
Jericó, sendo rodeados durante sete dias.” Hb 11.12.
A presente reflexão será uma
leitura teológica dos primeiros nove versículos do livro. Tentaremos
perceber a
ação de Deus em relação ao seu povo que podem ser generalizadas como
ações ou
atitudes de Deus para com seu povo em todas as épocas. Claro que nesta
implicação devemos ter o cuidado em confirmar que toda a Escritura apoia
as
conclusões advogadas a partir deste texto, pois o texto em si, de Josué,
não é
diretamente uma mensagem para nós e o próprio texto não ensina
diretamente as
conclusões obtidas, contudo, implicitamente e com base numa aplicação
saudável,
usando a analogia bíblica tentaremos tirar algumas conclusões acerca da
ação de
Deus para com seu povo.
I – DEUS SE
IMPORTA COM SEU POVO.
Existem duas ideias básicas a
respeito do relacionamento de Deus com a criação que vale a pena relembrarmos
rapidamente. A primeira afirma que Deus existe, criou todas as coisas, tem todos
aqueles atributos incomunicáveis descritos na bíblica, mas Ele não se relaciona
mais com a criação, ou seja, fez tudo e se afastou da criação para que ela
prosseguisse por si mesma. Essa ideia é conhecida como deísmo. Tal ideia surgiu quando o racionalismo
influenciou o mundo e os “crentes” para não descartarem totalmente a pessoa de
Deus, argumentaram que Ele apenas era totalmente transcendente, ou seja, não
alcançável. Ele não se manifestava e não se relacionava com a criação. A
criação deveria traçar e trilhar seu próprio caminho. Às vezes somos tentados a
pensar assim. Quem nunca se perguntou onde está Deus? Pense naqueles momentos
difíceis em que clamamos, oramos e buscamos, mas onde está Deus? Muitas vezes
Deus realmente está tão longe e tão oculto que pensamos ser verdade que Ele nos
largou. Outros por procurarem e não encontrarem já afirmam categoricamente que
Ele não existe. Mas, o deísmo obviamente é uma ideia errada e o ateísmo pior
ainda.
A segunda ideia acerca de Deus afirma
que Ele além de criar, se relaciona continuamente com a criação. Este
pensamento é classificado como teísmo e representa o ensino bíblico sobre o
relacionamento entre Deus e a criação. Então, não importa o que eu pense ou
ache, as Escrituras definem Deus em ação com a criação. Mesmo que eu não consiga
ver, mesmo que não consiga sentir, devo crer e glorificar a Deus por isso. Ele
age quer vejamos ou não. Ver Salmo 147.
Contudo,
mais do que se relacionar com a criação, Deus mantém um relacionamento ainda
mais especial com um povo que é sua propriedade particular, um povo eleito e
escolhido para ser seu.
Este texto mostra o cuidado de
Deus com o seu povo. Se pensarmos bem, este momento histórico já é uma
continuação do que Deus havia iniciado no Egito quando tirou seu povo de uma
condição de escravidão.
Deus
havia dito a Moisés: “(...) Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que
está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque
conheci as suas dores. Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para
fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite
e mel...”. Ex 3.7-8.
Ora,
se Deus cuida de seu povo é Ele quem se preocupa em dar continuidade aos seus
planos. Apesar de nossas inseguranças, Deus tem sempre no controle a continuidade
para seu povo. Não é porque Moisés estava morto que as coisas iriam agora por
água abaixo. Deus cuidaria para que houvesse continuidade na conquista da
promessa. Deus não deixaria o povo perecer simplesmente à beira do Jordão.
Imagine a cena, o povo sai do Egito com todo glamour viaja pelo deserto adquirindo fama e estrutura. Chega à
beira do território cananeu, Moisés morre e o povo perece! Sem lógica e
vergonhoso, não? Mas, porque não aconteceu assim? Por que Israel era corajoso?
Valente? Porque já tinha um exército forte? Não! Essa triste cena só não
aconteceu porque DEUS SE IMPORTA COM SEU POVO. Foi pela intervenção de Deus e
iniciativa Dele que as coisas prosseguiram.
Interessante é generalizar este
relacionamento. Assim, não só o Israel daquela época é privilegiado, mas todo o
povo de Deus em toda época goza dos mesmos benefícios e da mesma graça de Deus ter
misericórdia e se dispor a olhar para nós. Nas palavras do salmista: “O Senhor
apoia e ajuda os humildes” Sl 147.6.
II
– DEUS É FIEL PARA COM SEU POVO
Além
de Deus se importar com seu povo, Ele é fiel, ou seja, tudo que Ele afirma,
promete ou faz está baseado na sua fidelidade. Bom para nós, pois decididamente
somos infiéis. Se Deus fosse infiel conosco assim como somos infiéis com Ele
estaríamos destruídos. Mas, ele é fiel independente de qualquer coisa. Observe
que o livro de Josué marca o clímax de uma conquista que mostra a fidelidade de
Deus indiscutivelmente, pois esta terra, como o texto várias vezes afirma, foi
prometida aos antepassados daquela geração. E sabemos que no transcorrer do
tempo o povo foi infiel diversas vezes. No próprio deserto a caminho de Canaã,
um episódio marcante foi a construção do bezerro de ouro. Mal tinha Moisés
virado as costas e o povo estava cultuando outro deus. Fora isso, o povo também
reclamou muito, foi medroso, incrédulo e soberbo. Ah, vale lembrar que após a
conquista da terra prometida o povo continuou a ser infiel é só lermos o livro
de Juízes para nos envergonharmos desse fato. Ah, mais ainda, o povo de Deus
insistiu e continuou infiel no tempo de Saul, Davi e Salomão. Também no tempo
dos outros reis a coisa não melhorou muito. Após o exílio da Assíria e da
Babilônia, adivinha? É, o povo continuou infiel. Quanto Jesus Cristo veio ao
mundo Israel continuou infiel. E,
por surpresa, nós hoje, povo de Deus, ainda somos infiéis. Ah, a futura geração
também será infiel. Devemos de uma vez por todas acreditar que o agir de Deus
está baseado sempre na sua incompreensível graça e que ele foi, é e será fiel,
pois não pode negar-se a si mesmo. Esse fato deve nos produzir um
constrangimento enorme seguido de uma alegria profunda e uma segurança eficaz
por saber um pouco mais do caráter do nosso Senhor. Ele é fiel.
III – DEUS
FALA COM SEU POVO
“Havendo Deus,
antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias , pelo Filho.” Hb 1.1.
Deus
falou com Abraão, Isaque e Jacó. Alias é registrado que cada um teve uma experiência
especial com Deus. Deus se revelou de modo especial a Moises e depois falou
claramente com Josué. O fato é que Deus fala com seu povo. Isso deve ser levado
a sério. Não temos um Deus mudo. Não temos um Deus indiferente. Temos um Deus
que fala, orienta, instrui e aconselha. “Instruir-te-ei e ensinar-te-ei o
caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos.” Sl 32.8.
Temos ouvido a voz de Deus? Se
não, o problema certamente não está nele e sim em nós. Um dos problemas básicos
em não se ouvir a voz de Deus está no fato de muitas vezes não sabermos como
Deus fala. Pensamos enganadamente que todas as falas de Deus devem ser
sobrenaturais e ao som de trovões. Temos dificuldades de adquirir a
sensibilidade de observarmos uma indicação geral baseada nos próprios
princípios bíblicos já nos oferecidos e usarmos a mente que Deus nos deus para
julgamento e tomada de decisão. Pior ainda é que muitas vezes não consideramos
isso como sendo a voz de Deus. Ora, se baseio minha decisão na Palavra de Deus
e se uso a mente renovada de Cristo para isso, o resultado é que foi
direcionado sim pela voz de Deus. Podemos dizer (e sentimos mesmo isso) que
estamos ouvindo a voz de Deus. Mas a voz de Deus não é audível? Podemos
responder sim e não. Sim, pois em alguns momentos ela é. A orientação é clara e
como uma voz de outra pessoa falando. Mas, dizemos não para mostrar que este
modo é uma exceção. Nem sempre a voz de Deus é audível literalmente falando simplesmente
porque este não é o método geral de comunicação escolhido por Ele mesmo, caso
contrário não precisaríamos de Bíblia. De alguma forma Ele preferiu que a
revelação fosse Escrita e preservada formalmente e quer que nos voltemos, de
modo geral, para ela a fim de alcançar a sabedoria. Assim, ouvir a voz de Deus
é meditar em sua palavra e tirar conclusões sábias baseadas nela. Por isso o
Senhor enfatiza a Josué que é imprescindível a leitura e a meditação da Lei
para que seus caminhos (projetos de conquista na terra prometida) fossem
estabelecidos.
IV – DEUS TEM
PROMESSAS PARA SEU POVO
É
impossível dizer que o povo de Deus ficou sem ter alguma promessa em qualquer
período da história. E por quê? Porque sempre Deus quis mostrar e dar algo
melhor ao seu povo. Quis sempre trabalhar dando esperança, mostrando que os
problemas de nossa realidade serão passageiros e nos ensinando até mesmo a
lidar com a própria dificuldade da realidade sabendo que o que nos espera é
incomparavelmente melhor. Para Israel havia a promessa da terra. Para Igreja há
a promessa do céu. Também temos a promessa da ressurreição, da vinda de Cristo,
do novo céu e nova terra. Promessas gerais para o povo de Deus. O bom é que se
compararmos o que ocorreu no passado com as promessas de Deus a seu povo temos
maior confiança sobre o que ocorrerá com suas promessas a nós hoje. A promessa
da terra foi cumprida com Josué. Deus cumpriu o que propusera, Ele não é como
nossos políticos atuais. A promessa do Messias também se cumpriu a risca, aliás
só sobre o Messias haviam centenas de profecias específicas que se cumpriram.
Só por curiosidade vejamos algumas. Onde o Messias deveria nascer? “E eles
responderam: ‘Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu,
Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades
de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo”
Mt 2.5-6. Onde o Messias iria crescer? “Assim cumpriu-se o que fora dito pelos
profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’” Mt 2.23. Foi chamado de Nazareno porque
cresceu na cidade de Nazaré. Qual a missão do Messias?: “’O Espírito do Senhor
está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me
enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para
libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor’. Então ele fechou o
livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os
olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu a Escritura que
vocês acabaram de ouvir’”. Mt 4.18-21.
Mais
do que promessas gerais, temos algumas vezes clareza de promessas específicas de
Deus para nós. Lembrando que Deus se importa conosco. Temos promessas de cura,
emprego e prosperidade. Promessas com relação a um parente, ao cônjuge ou aos
filhos. Consideremos também as promessas diretamente ligadas ao serviço no
reino quando alguns são comissionados a pregar o evangelho, ministrar a
palavra, servir à Igreja. Alguns são chamados para missões até mesmo radicais
que envolvem um aspecto de entrega imensa envolvendo até mesmo muito sofrimento.
Promessas existem em consequência do que afirmarmos sobre Deus, Ele se importa
conosco, Ele é fiel e ele fala conosco. Assim, é inevitável que Deus nos
prometa uma sorte de elementos que nos auxiliem na caminhada.
Mas,
o mais incrível não é nem a promessa, mas sim saber que temos certeza do seu
cumprimento. O que Deus falou Ele há de cumprir, pois Deus não é homem para
mentir nem filho de homem para se arrepender.
V – DEUS
ACOMPANHA SEU POVO
A
Bíblia Viva traduz Js 1.9 assim: “...Lembre-se bem: O Senhor, o seu Deus,
estará com você, esteja onde estiver!”. Talvez devêssemos dizer como Moisés
disse em determinado momento: “Senhor, se não fores comigo não irei”. Realmente
sem a presença do Senhor nada valeria a pena. A Palavra diz que na presença do
Senhor não há falta de nada. Além do mais em Tua presença há “plenitude de
alegria” e na tua destra “delícias perpetuamente” Sl 16.11.
Josué
recebeu a notícia mais importante: Deus estaria com ele! O povo de Deus recebeu
uma grande dádiva: Deus está conosco! Talvez o texto de Isaías sintetize a
ideia da importância da presença do Senhor. Isaias profetiza: “...Não temas,
porque eu te remi; chamei-te pelo nome; tu és meu. Quando passares pelas águas,
estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares
pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Is 43.1-2.
Jesus prometeu o
mesmo a Igreja. “...E eu estarei sempre com vocês, até o final dos tempos”. Mt 28.20.
Deus acompanha seu
povo.
CONCLUSÃO
Este
olhar teológico sobre o texto estudado teve realmente a missão de
perceber o
aspecto divino envolvido na narrativa. Saber que Deus se importa
conosco,
é fiel, fala conosco, tem promessas para nós e pessoalmente nos
acompanha devem
ser motivos suficientes para edificação pessoal. Aliás, considerando
essas características de Deus estaremos afirmando nossa plena
dependência Dele.
fonte:http://teologiacritica.blogspot.com.br/
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