“Pai
nosso que estais nos céus...” Mt 6.9
A
natureza divina pode ser compreendida como o conjunto formado pelas
qualidades ou atributos de Deus. Os principais atributos e que mais
comumente ouvimos falar e estudamos caracterizam Deus como um ser
especial e único. Deus é singular porque suas qualidades são
singulares.
Alguns
dos seus atributos estão diretamente relacionados com a oração do
crente, apesar de nós muitas vezes não percebermos. Sem o
conhecimento e relacionamento correto com Deus podemos estar orando
de uma forma equivocada e isso por anos e anos. Destacaremos algumas
dessas qualidades que influenciam diretamente na oração.
E antes
de continuarmos é importante também fazermos uma leve crítica à
maneira de oração que fazemos e o descuido que cometemos. Temos a
impressão de que orar é somente falar aquilo que vem ao coração.
Isso é um engano. Em se tratando de oração aceitável ao Senhor
não devemos estar simplesmente inventado palavras e expressões e
nem mesmo somente expressando nossos sentimentos. Orar a Deus implica
em ter conhecimento de Deus e saber a forma como Ele quer que nos
dirijamos a Ele. Orar envolve obrigatoriamente conhecimento! Veja a
seguinte situação: imagine que uma pessoa vai fazer um discurso em
homenagem a um célebre professor. Ao iniciar o discurso a pessoa
diz: “Ele representa um grande nome da Astronomia”, mas qual não
deve ser a surpresa da platéia diante dessas palavra sendo que o
professor era de português! Continuando o discurso o orador fala
sobre a destreza do professor em lecionar em 5 universidades ao mesmo
tempo! Mas, na realidade o professor era do ensino básico e não
ensinava em faculdade nenhuma. Insistindo, o orador ainda elogia a
esposa do professor pela sua dedicação e apoio ao marido, mas o
professor não tinha esposa! Por fim, o orador convida o professor
para vir a frente e fazer suas considerações, mas não sabe que o
professor, já idoso, não consegue falar mais!!! Bem, esse é um
exemplo de como ficam descabidas as palavras para exaltar um pessoa
quando não a conhecemos. Da mesma forma, precisamos conhecer a Deus
para não desonrá-lo em nossas orações bem intencionadas.
I.
Deus e soberania
Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a
desgraça; eu, o Senhor, faço todas essas coisas Is 45.7
Não
quero que os irmãos se escandalizem com essas afirmações e nem
mesmo vamos debatê-la no âmbito teológico e profundo. O que mais
quero frisar aqui é que Deus tem autoridade sobre todas as coisas e
é totalmente livre para agir da maneira que lhe apraz. Os planos de
Deus não são frustrados e nem mesmo Ele precisa consultar a ninguém
para tomar suas decisões. E ainda mais, a Bíblia nos revela que
Deus já pensou e planejou todas as coisas. Todo o destino da
humanidade já está decretado e selado. “Nenhuma folha cai se não
for da vontade de Deus” é uma expressão bastante ilustrativa
disso.
Agora
como podemos conciliar as coisa que estão nos planos de Deus com
nossas orações? Será que é em vão orar então? É, temos que
entender que os planos de Deus estão traçados e fixos. Não são
mutáveis. Assim, é um erro falar que “nossa oração move o
coração de Deus” como é comum vermos os cristão com esse
jargão. A oração não move, não muda, não mexe o coração de
Deus, porque Ele é imutável, sua própria palavra revelou isso. Ele
diz: “Eu, o Senhor, não mudo”! Ml 3.6.
Enquanto
pensar que a oração é desnecessária também é outro extremo. O
Senhor Jesus nos ensinou a orar e disse que deveríamos fazer isso
com frequência. Então, na verdade, a oração é muito importante
quando entendida no seu lugar. Na verdade a oração pode se
constituir num meio que Deus agir. Ele decretou os fins e os meios.
Então, algumas coisas realmente acontecerão por meio da oração,
mas porque Deus já quis que fosse assim e em determinadas situações
Ele permitiu que o meio adequado fosse a oração.
Explicando
melhor podemos dizer o seguinte. A oração não é um cheque em
branco que podemos fazer dela o que quiser. A oração deve sempre
estar associada a vontade de Deus. Se você pedir qualquer coisa que
não seja da vontade de Deus perceberá imediatamente o quão inútil
é essa oração. Então, podemos dizer que o valor da oração
encontra-se na proximidade que ela tem a vontade do Senhor.
Alguns
versículos mal interpretados podem confundir o leitor e dar a
impressão de que a oração muda a mente de Deus. Vejamos alguns
exemplos.
Após
Israel ter pecado fazendo um bezerro de ouro para ser adorado no
lugar de Deus, o Senhor disse a Moisés: “Deixe-me agora, para que
minha ira se acenda contra eles, e eu os destrua. Depois farei de
você uma grande nação (Ex 32.10). Em seguida, Moisés faz uma
intercessão e a resposta seguinte é: “E sucedeu que o Senhor
arrependeu-se do mal que ameaçara trazer sobre seu povo”.
Aparentemente Deus mudou de opinião após a oração de Moisés.
Mas, de imediato sabemos que isso é impossível, Deus não muda. E
numa análise mais ampla vemos que o plano de Deus envolvia levantar
uma descendência a partir de Judá e dele suscitar o Messias: “O
cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus
descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as
nações obedecerão. Gn 49.10. Como pode Jacó falar isso
anteriormente e posteriormente Deus querer aniquilar todos e formar
uma descendência a partir de Moisés que era da tribo de Levi e não
de Judá? Absurdo? Sim. Deus nunca quis destruir toda a nação de
Israel. E Moisés não mudou a mente de Deus. Um escritor afirma:
“Minha convicção é que as referências ao 'arrependimento',
'compaixão', ou 'mudanças na mente' de Deus nas Escrituras são
figuras de linguagem; tecnicamente falando, são antropopatismo –
expressões que definem Deus nos termos usualmente empregados na
descrição das emoções humanas” 1
Assim,
precisamos entender o lugar correto da oração. E tirar algumas
ideias prontas como o “poder da oração” que mais fazem ela ser
mística e autoritativa do que um instrumento de obediência a Deus.
II-
Deus e onisciência
“E
quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem
os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não
sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam,
antes mesmo de o pedirem” (Mt 6.7-8).
Algumas
pessoas pensam que serão escutadas porque suas orações são longas
e repetitivas. Já participei de alguns cultos de quarta-feira quando
antigamente nos reuníamos nos lares e frequentemente percebia que
alguns irmãos oravam por tanto tempo em público nas aberturas ou
encerramento dos encontros que alguns até dormiam, outros ficavam
incomodados, outros obriam os olhos e ficavam olhando uns para os
outros. Cabe, neste caso, esse conceito de que não é por muito
falarmos que seremos ouvidos.
Temos
também a falsa impressão de que se orarmos muito aprenderemos e
melhoraremos cada vez mais nossa oração. Uma frase característica
é: “aprende-se orar, orando”. De certa forma isso também é um
equívoco! A melhor forma de aprendermos a orar é lendo e estudando
a palavra.
A melhor
postura, na verdade, seria orar sabendo e tendo bem nítido em mente
de que Deus já sabe de tudo, pois isso é uma realidade. Assim,
evitamos as vãs repetições.
Também
não precisamos estar tão preocupados nos detalhes. Há um
pensamento que afirma que precisamos falar em nossas orações com
muita especificidade. Assim, costumamos ver numa oração pessoas
fazendo descrições minuciosas da situação e do que Deus deve
fazer. Pessoas orando por cura e parecendo verdadeiros médicos
pronunciando diagnósticos e prescrevendo os métodos de cura. Na
verdade se pensamos bem deveríamos nos conscientizar de que isso é
desnecessário. Deus sabe! Deus sabe as minucias da situação e sabe
como deve agir. Além do mais, venhamos e convenhamos, quanto mais
falamos mais temos a tendência de nos posicionarmos de modo errado.
Pedimos minuciosamente quando não sabemos pedir de modo nenhum.
Damos detalhes para Deus quando não sabemos nem do geral. Não
oramos como convém, Bíblia afirma. Quem já não fez alguma oração
e depois teve de mudá-la ou conserta-la por perceber posteriormente
que estava sem fundamento? Quem não agradeceu a Deus por não ter
sido ouvido tamanha a besteira que pedira? Assim, é melhor
confiarmos na onisciência de Deus e usarmos palavra sábias e mais
objetivas sabendo que Deus sonda constantemente nosso coração e que
oração também envolve um aspecto mais profundo de diálogo
silencioso com o Senhor!
III-
Oração e transcendência
“Deus
é Espírito e importa que seus adoradores o adorem em Espírito e em
verdade” Jo 4.23-24
A
natureza da oração no Novo Pacto, ou seja, em nossa época, na
igreja, não tem os mesmos moldes que havia no Antigo Testamento.
Eles sim, estavam ligados a uma adoração que não tinha as
características do transcendental. A adoração estava relacionada
com instituições, objetos, lugares, etcc.. assim... existia um
corpo sacerdotal, lugar próprio e métodos específicos. A igreja
tem um caráter mais transcendental. Ela não está ligada ao
simbolismo e ritualismo que havia no passado. Desta maneira é
impróprio, por exemplo, imitar Daniel, que se ajoelhava três vezes
por dia e direcionada para Jerusalém. Simplesmente isso é sem
significado em nossos dias. Pior ainda é inventar a campanha de
Daniel de 21 dias de oração. Jesus deixou bem claro que os
verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em Espírito e em verdade.
Quando entendemos que Deus é Espírito nossa postura deve mudar
automaticamente. Não estamos limitados a lugar e tempo para fazer
orações. E Deus não se preocupa com isso.
Pior é
pensar que nossa oração é melhor aceita se estivermos neste ou
naquele lugar. Parece absurdo mas muitas pessoas pensam assim.
Quantos não estão indo para Israel para apresentar suas preces e
realizar alguma obra para ter um pouco mais de “crédito” com
Deus? Quem é que não vai, de vez em quando, naquela igreja que está
fervorosa? Ou ao encontra “daquele” pastor abençoado que ora e a
coisa acontece? Se temos essa prática é porque estamos
fundamentados na ideia dum Deus que age geograficamente,
limitadamente e que temos que “correr” atrás dEle. É um
pensamento antiquado para nós.
Conclusão
Espero
que tenhamos aprendido que oração tem sim muito a ver com
conhecimento. Oração está diretamente relacionada a teologia.
Precisamos
aprender, portanto, mais e mais sobre Deus para que isso seja
reverberado através de nós em nossas palavras e orações.
Precisamos
aprender e por meio do ensino bíblico, não apenar pela experiência
e tentativa, pois Deus já se dispôs a nos ensinar
convenientemente.
Precisamos
desmistificar e polir alguns mal entendidos que tem sido plantados no
meio da cristandade.
Enfim,
precisamos da misericórdia de Deus para nos socorrer em nosso
fracasso em orar.
fonte:http://teologiacritica.blogspot.com.br/2012/07/oracao-e-natureza-divina.html
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