Sempre me pareceu
estranho que o teólogo reformado R. C. Sproul começasse sua defesa do Preterismo
moderado (do qual ele declaradamente é um dos adeptos) com uma citação do famigerado
filósofo cético e ateu Bertrand Russell. Em seu livro The Last Days According to Jesus1 [Os Últimos Dias Segundo Jesus], Sproul
parecia tentar agradar a Russell e seus seguidores com uma resposta à questão
que Russel levantara sobre a divindade de Cristo. Ele tentou fazer com que a expressão “não passará esta geração sem que tudo isto
aconteça” (Mt 24.33-34), se referisse à geração dos discípulos, alguns
dos quais ainda eram vivos quando o exército romano (não o Anticristo, como mostra
a profecia) destruiu a cidade de Jerusalém no ano 70 d.C.
Russell, que corretamente demonstrara o fato de que aqueles discípulos
não viram a volta de Cristo nem o cumprimento de muitas profecias proferidas naquele
sermão do monte das Oliveiras, deu então um “salto” interpretativo para chegar
à conclusão errônea de que Jesus não podia ser Deus em carne humana, visto que
fracassara em cumprir aquela profecia durante o tempo de vida daqueles discípulos.
Ao que parece, nunca lhe ocorreu que a expressão “esta geração” não era uma referência àquela geração de discípulos
do primeiro século, mas sim uma alusão à geração que veria a seqüência de eventos
do fim dos tempos que acontecerá conforme Jesus profetizou.
Eu pessoalmente não
acredito que Russell tenha sido movido por um forte desejo de identificar Jesus
como “o profeta” que Moisés predissera
ser o Messias em Deuteronômio 18.18-19. É provável que ele tenha sido influenciado
pelos céticos acerca de Jesus que viveram em sua própria geração ou pelos racionalistas
alemães ou, ainda, pelos céticos franceses que o antecederam, os quais negaram
a divindade de Jesus e a inspiração sobrenatural das Escrituras. O uso equivocado
que ele fez de Mateus 24.32-34 foi, muito provavelmente, uma tentativa descarada
de tirar a credibilidade de Jesus.
Essa é apenas uma das razões pelas quais o Pre-Trib Research Center
[Centro de Pesquisas Pré-Tribulacionistas], o Dr. Thomas Ice e tantos outros escritores
eruditos abordaram esse assunto em livros, folhetos e periódicos. É importante
que se faça isso, não pelo texto das Escrituras em si mesmo, mas por causa da
interpretação errada. Uma das coisas básicas que aprendi no estudo da lógica é
que se você começa um argumento baseado numa premissa falsa, chegará a uma conclusão
falsa. Essa é a razão pela qual a primeira coisa que se faz num debate é averiguar
a veracidade ou falsidade da premissa básica (i.e., primeira premissa).
Infelizmente, nossos amigos ligados à Igreja Reformada (na sua
maioria, amilenistas ou pós-milenistas), que chegaram às suas conclusões em virtude
de seu sistema teológico e não pelo sentido claro da interpretação das Escrituras,
tentam ler nesse texto aquilo que simplesmente nele não está escrito. Erram em
não aceitar a declaração feita por Jesus de que “não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (v. 34) dentro
de seu contexto, a qual refere-se à geração que veria os eventos que Ele acabara
de profetizar. Jesus respondeu à pergunta levantada pelos discípulos em Mateus
24.3, “...que sinais haverá da tua vinda
e da consumação do século?”. Contudo, os preteristas cometem o erro de pular
falaciosamente para a conclusão de que Jesus se referia àqueles que estivessem
vivos quando o templo fosse destruído. Daí, então, os preteristas ficam presos
à obrigação de dizer, por exemplo, que Nero (o qual nunca esteve em Jerusalém
para cumprir o que está escrito em 2 Tessalonicenses 2.8) é o Anticristo ou a
“besta” de Apocalipse 13 (a qual ainda se manifestará no futuro) e que Satanás
está preso. Alguns chegam mesmo a dizer que a Segunda Vinda de Cristo já aconteceu
no ano 70 d.C. (ainda que tal “cumprimento” não preencha os requisitos das promessas
feitas por Jesus acerca de Sua Vinda, muito menos do que foi predito pelos anjos
e pelos apóstolos). A concepção de que estejamos vivendo hoje em dia no reino é
ridícula; várias outras idéias, igualmente sem base nas Escrituras, têm sido
por eles propagadas e parece que não se dão conta [do seu engano] (tudo isso
tem sido cuidadosamente abordado nos livros e artigos escritos pelo Dr. Thomas
Ice).
Em vez de adotar o sentido claro desse texto das Escrituras a fim
de entender seu significado, nossos colegas de linha reformada e preterista querem
nos levar a crer que Jesus fazia uma alusão aos discípulos do primeiro século.
Sua motivação ao fazê-lo não é porque o texto bíblico em questão ensine isso,
mas porque suas pressuposições teológicas o exigem; do contrário, teriam de
abandonar suas crenças amilenistas e pós-milenistas. Aqueles que “interpretam
as Escrituras em seu sentido literal, a menos que os fatos do contexto imediato
nitidamente indiquem o contrário”, crêem, na sua esmagadora maioria, que Jesus
voltará imediatamente após a concretização de muitos sinais que Ele apresentou
nessa passagem como placas sinalizadoras em resposta às seguintes perguntas dos
discípulos: “Dize-nos quando sucederão estas
coisas e que sinais haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt 24.3).
Portanto, é importante examinar os eventos preditos por Jesus acerca
de dias obviamente futuros, a fim de constatar se Ele aludia àquela geração do
primeiro século ou fazia referência aos crentes que hão de contemplar os eventos
profetizados. Estude a relação abaixo e chegue à sua própria conclusão.
A Introdução do Discurso no Monte das Oliveiras
• Mateus 24.4-5: “Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome dizendo:
Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”. Desde o momento da ascensão
de Jesus aos céus, centenas de falsos cristos já apareceram.
• Mateus 24.6: “E, certamente,
ouvireis falar de guerras e rumores de guerras...”. Desde que Jesus predisse
isso, já houve, pelo menos, 12 mil guerras.
• SUA MENSAGEM: “...vede,
não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim”.
Jesus Predisse Sinais Que Antecederiam a Tribulação
• Mateus 24.5: “Porque virão muitos em meu nome [...] e enganarão a muitos”. Centenas de falsos mestres apareceram em cena desde o primeiro século até agora.
• Mateus 24.7 – O primeiro sinal ou “dor de parto”: “Porque se levantará
nação contra nação, reino contra reino”. Uma vez que a visão apresentada
por Jesus neste versículo era de amplitude mundial, poderia ser uma alusão à I
Guerra Mundial (1914-1917), a qual, historicamente, foi o primeiro conflito de
proporções mundiais, iniciada por uma nação contra outra e que acabou por envolver
as nações do mundo. “...e haverá fomes [a versão Almeida Revista e Corrigida acrescenta: ‘...e pestes’,] e terremotos
em vários lugares”, que, literalmente, significa “em vários lugares ao mesmo
tempo”. Isso ocorreu, pela primeira vez, depois da I Guerra Mundial. Nos idos
de
1918 a
1920, a influenza foi provavelmente a “peste”
mais letal do mundo em toda sua história. Os quatro elementos do primeiro sinal
referiam-se à I Guerra Mundial.
• Mateus 24.8: “...tudo isto
é o princípio das dores” (i.e., dores de parto) ou sinais da Sua Vinda. É
interessante que depois disso, muitos outros sinais do fim dos tempos começaram
a aparecer – Israel recebeu permissão para retornar à sua terra (em 1917, através
da Declaração Balfour) e a Revolução Russa, que resultou no erguimento dessa nação
como uma potência mundial, dentre outros sinais.
• Mateus 24.11: “Levantar-se-ão
muitos falsos profetas e enganarão a muitos”.
• Mateus 24.12-13: “E, por
se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém,
que perseverar até o fim, esse será salvo” (ou seja, entrará no Milênio).
• Mateus 24.14: “E será pregado
este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”. (Temos nos aproximado
rapidamente do cumprimento dessa profecia à medida que o Evangelho se torna conhecido
ao redor do mundo). Muitos expositores da Bíblia crêem que os versículos acima
descrevem os primeiros três anos e meio do período da Tribulação, tratado detalhadamente
nos capítulos
6 a
12 de Apocalipse.
A Grande Tribulação
• Mateus 24.15: “Quando, pois, virdes o abominável
da desolação de que falou o profeta Daniel...”. Esse texto ensina
que a [segunda metade da] Grande Tribulação terá inicío no momento em que o templo
for profanado e destruído.
• Mateus 24.21-22: “porque
nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora
não tem havido e nem haverá jamais”. (Para mais detalhes sobre esses três anos
e meio da Tribulação, leia Apocalipse
13 a
18, período esse após o qual Jesus Cristo
voltará com poder para estabelecer Seu Reino, conforme os capítulos 19 e 20 de
Apocalipse). Visto que nunca houve um tempo como esse na história, fica evidente
que os versículos profetizam eventos ainda futuros.
• Mateus 24.24: “Porque surgirão
muitos falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para
enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito”. Embora a Igreja tenha ficado infestada de falsos mestres que alegam ser “Cristo”
ou “profetas”, os tais nunca realizaram “sinais e prodígios” capazes de enganar
até mesmo os eleitos. A batalha entre os seguidores de Satanás e do Anticristo
contra o Espírito Santo e os servos de Deus, durante a última metade do período
da Tribulação será a maior batalha da história deste mundo.
• Mateus 24.29-30: “Logo em
seguida à tribulação daqueles dias [...] todos os povos da terra se lamentarão
e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória”. O texto insiste em repetir veementemente que a Segunda Vinda de Cristo acontecerá
imediatamente depois do pior período da história humana. Para qualquer leitor
imparcial, a conclusão óbvia é a de que tal período ainda não ocorreu, mas
aguarda sua concretização no futuro [...] futuro esse que, segundo a opinião de
muitos, pode estar bem próximo.
Conclusão
E será pregado
este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim.
A geração que, conforme os versículos
32-34, contemplará todas essas coisas, de modo nenhum podia ser a geração de
discípulos que viveu no primeiro século. Infelizmente, até onde se sabe, Bertrand
Russell morreu e foi sepultado com a enganosa concepção de que Jesus cometeu um
erro ao profetizar que Sua geração veria a Segunda Vinda dEle, concluindo, assim,
que as palavras de Cristo não eram confiáveis. Na verdade, Jesus se referia à
geração acerca da qual os discípulos indagaram ao perguntarem: “que sinal haverá da tua vinda e da consumação
do século”. Cristo descreveu “esta geração” como aquela que estará viva no momento em que “sucederão todas estas coisas”.2 Visto que muitos sinais, ao que parece,
já começaram a se cumprir, todos nós deveríamos orar e trabalhar a fim de advertir
as pessoas para que não percam a oportunidade de encontrá-lO na Sua Vinda para
buscar a Igreja, por ocasião do Arrebatamento. Tenho certeza de que eu e você
temos o mesmo desejo de que muitos não sejam Deixados Para Trás! (Tim LaHaye - Pre-Trib
Perspectives - http://www.chamada.com.br)
Notas:
- A série de citações que R. C. Sproul faz dos escritos de Bertrand Russell encontra-se no livro de Sproul intitulado The Last Days According to Jesus (Grand Rapids: Baker, 1998, p. 11-15). As citações foram extraídas do livro de Bertrand Russell intitulado Why I Am Not a Christian: And Other Essays on Religion and Related Subjects, organizado por Paul Edwards (Londres: Allen & Unwin / Nova York: Simon & Schuster, 1957).
- Para uma apresentação mais detalhada e aprofundada desse assunto, por favor, veja em: Thomas Ice e Tim LaHaye, The End Times Controversies, Eugene: Harvest House, 2003, p. 83-108 (no capítulo 4, sob o título: Preterist “Time Texts”).
fonte:http://www.chamada.com.br/mensagens/geracao_que_vera.html
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